segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Responsabilidade social: os impactos da tecnologia na sociedade

A primeira tarefa da administração é, portanto, identificar e antecipar-se aos impactos - com objetividade e realismo. A pergunta não é: "Será que o que fazemos está certo?" É: "Será que o que fazemos é o que a sociedade e o cliente nos paga para fazer?". E se a atividade não for parte integrante do propósito e da missão da organização, ela deve ser considerada impacto social e, como tal, indesejável.

Isso parece fácil, mas é, na verdade, muito difícil. O melhor exemplo é o problema da avaliação da tecnologia, ou seja, a identificação dos impactos sociais e econômicos de uma nova tecnologia, na época do lançamento.

Há, hoje, grande interesse pela avaliação da tecnologia, ou seja, pela previsão dos impactos e dos efeitos colaterais de uma nova tecnologia, antes de levá-la adiante. Para tanto, o Congresso dos Estados Unidos criou um Escritório de Avaliação da Tecnologia, cujo objetivo é identificar as tecnologias mais tendentes a tornar-se importantes e identificar seus prováveis efeitos de longo prazo, para, em seguida, orientar o governo quanto às tecnologias a serem estimuladas ou desestimuladas, se não totalmente proibidas.

Esta tentativa só pode terminar em fiasco. A avaliação da tecnologia, nestes termos, tende a resultar em estímulos a tecnologias inadequadas e em desestímulos a tecnologias adequadas, pois os impactos futuros de novas tecnologias estão, quase sempre, além da imaginação humana.

O dicloro-difenil-tricloroetano ( DDT ) é um exemplo. Ele foi sintetizado durante a Segunda Guerra Mundial para proteger os soldados americanos contra insetos portadores de doenças, especialmente nos trópicos. Até que alguns cientistas imaginaram o uso do novo produto químico para proteger também a população civil. Mas ninguém das muitas pessoas que trabalharam no desenvolvimento do DDT pensou em aplicar o novo pesticida para controlar as pragas que infestam plantações, florestas ou rebanhos. Caso se tivesse limitado o uso do DDT às suas finalidades originais, ou seja, proteger os seres humanos, o produto jamais se teria convertido em risco ambiental. No entanto, seu uso para este propósito não era superior a cinco ou dez por cento do total, no auge do DDT, em meados da década de sessenta. Sem muita participação dos cientistas, agricultores e madeireiros concluíram que, se o produto matava piolhos em soldados, também eliminaria piolhos e outras pestes das plantas e árvores, o que converteu o DDT em ataque maciço ao meio ambiente.

Outro exemplo é a explosão demográfica nos países em desenvolvimento. O DDT e outros pesticidas contribuíram para o fenômeno. O mesmo ocorreu com os antibióticos. No entanto, ambos os produtos foram desenvolvidos de maneira muito independente entre si; e nenhum dos avaliadores de qualquer uma das duas tecnologias poderia ter previsto a convergência de ambas - hipótese que, na verdade, ninguém imaginou. Porém, mais importantes como fatores causais na queda acentuada da mortalidade infantil, que desencadeou a explosão demográfica, foram duas tecnologias muito antigas, às quais ninguém prestou atenção. Uma foi a medida básica de saúde pública de manter distantes as latrinas e os poços - algo conhecido dos mecedônios, antes de Alexandre, o Grande. A outra foi a tela de arame para portas e janelas, inventada por um americano desconhecido, em torno de mil oitocentos e sessenta. Ambas foram adotadas repentinamente, mesmo pelos mais remotos provoados tropicais, depois da Segunda Guerra Mundial. Juntas, elas foram, provavelmente, a principal causa da explosão demográfica.

Ao mesmo tempo, os impactos tecnológicos que os especialistas preveem quase nunca ocorrem. Um exemplo é o boom de voos privados, que os especialistas previram pouco depois da Segunda Guerra Mundial. O avião particular, pilotado pelo dono, se tornaria tão comum, conforme se dizia, quanto o automóvel Modelo T, depois da Primeira Guerra Mundial. Na verdade, especialistas como planejadores urbanos, engenheiros e arquitetos aconselham a Prefeitura de Nova Iorque a não seguir adiante com o segundo tubo do Lincoln Tunnel ou o segundo deck na George Washington Bridge e a construir, em vez disso, numerosos aeroportos pequenos ao longo da margem oeste do Rio Hudson. Não se precisaria de muito mais que matemática elementar para rejeitar esta avaliação tecnológica específica - simplesmente não há espaço aéreo suficiente para a migração pendular, ou seja, ida e volta ao trabalho, em expansão do tráfego aéreo comercial e antecipou, na época em que se desenvolveu o avião a jato, que ele levaria ao transporte aéreo em massa, com tantas pessoas cruzando o Oceano Atlântico em jatos jumbo em um dia quanto aquelas que faziam o mesmo percurso dos grandes transatlânticos durante uma semana. Decerto se esperava que as viagens transatlânticas aumentassem com rapidez mai, evidentemente, seria em navios. Essa foi a época em que todos os governos às margens do Atlântico Norte subsidiavam a construção de novas embarcações de alto luxo, exatamente quando os passageiros abandonavam o transporte marítimo e adotavam o novo avião a jato.

Poucos anos depois, todos diziam que a automação produziria tremendo impacto econômico e social - mas suas consequências foram praticamente nulas. O computador é uma história mais importante. Em fins da década de quarenta, ninguém previa que o computador seria usado por empresas e por governos. Embora o computador fosse uma grande revolução científica, todos sabiam que seu principal uso seria na ciência e na guerra. Em consequência, as pesquisas de mercado mais amplas realizadas na época chegaram à conclusão de que o mercado mundial de computadores absorveria, no máximo, cerca de mil máquinas no ano dois mil. Nos anos setenta, apenas trinta anos depois, já havia mais de duzentos e cinquenta mil computadores instalados no mundo, a maioria fazendo o trabalho de contabilidade mais mundano. Então, poucos anos depois, quando se tornou notório que as empresas estavam comprando computadores para rodar folha de pagamento e faturamento, os especialistas previram que o computador desalojaria a administração de nível médio, de modo que não restaria nada entre o CEO e o supervisor de primeira linha. "Is middle management obsolete" ( Será que a administração de nível médio está obsoleta? ), perguntava um artigo muito citado da Harvard Business Review no começo da década de cinquenta; e a responsa a esta pergunta retórica foi um sonoro "Sim". Exatamente naquele momento, começou a tremenda expansão das posições gerenciais de nível médio. Em todos os países desenvolvidos, os cargos de gerência intermediária, nas empresas e nos governos, cresceram três vezes mais rápido que o emprego total em vinte e cinco anos. Este aumento tem sido paralelo ao aumento do uso de computadores. Qualquer pessoa que se baseasse em avaliações da tecnologia no começo da década de cinquenta teria abolido as escolas de negócios, como algo tendente a produzir hordas e desempregados. Felizmente, os jovens não deram ouvido a estas profecias e acorreram em massa às escolas de negócios, a fim de conseguir os bons empregos criados com a ajuda dos computadores.

Porém, embora ninguém tivesse previsto o impacto do computador sobre os cargos gerenciais de nível médio, todos os especialistas predissessem o tremendo impacto do computador sobre a estratégia empresarial, sobre as políticas de negócios, sobre o planejamento e sobre a alta administração - áreas em que o computador não exerceu, em absoluto, o mais leve impacto. Ao mesmo tempo, ninguém antecipou a verdadeira revolução nas políticas e nas estratégias empresariais que ocorreria nas décadas de cinquenta e sessenta: a onda de fusões e os conglomerados.

Não se trata apenas de os seres humanos terem o dom da profecia não mais em relação à tecnologia do que a qualquer outra coisa. Na verdade, os impactos da tecnologia do que a qualquer outra coisa. Na verdade, os impactos da tecnologia são mais difíceis de prever que a maioria dos outros acontecimentos. Para começar, como mostra o exemplo da explosão demográfica, os impactos sociais e econômicos quase sempre são o resultado da convergência de numerosos fatores, nem todos de natureza tecnológica. E cada um desses fatores tem a própria origem, o próprio desenvolvimento, a própria dinâmica e os próprios especialistas. Os especialistas em uma área - por exemplo, o especialista em epidemiologia - nunca pensa em pragas de plantas. O especialista em antibiótico se concentra no tratamento de doenças, enquanto a explosão das taxas de natalidade decorreu, em grande parte, de iniciativas de saúde pública elementares e já conhecidas havia muito tempo.

Porém, igualmente relevante, é impossível prever a tecnologia mais tendente a tornar-se importante e a produzir impacto, e a tecnologia mais propensa a não se concretizar - como o modelo T voador - ou a não exercer efeito social ou econômico significativo - como a automação. E ainda e mais difícil predizer que tecnologias gerarão impactos sociais e quais serão apenas tecnologias. O mais bem-sucedido profeta da tecnologia, Júlio Verne, previu muitas das tecnologias do século vinte com cem de antecedência antes de seu advento ( embora poucos cientistas e tecnólogos daquela época o levassem a sério ). Mas ele não previu absolutamente nenhum impacto social ou econômico, apenas uma sociedade e uma economia vitorianas imutáveis. Os profetas econômicas e sociais, por seu turno, apresentam os mais lamentáveis antecedentes como previsores da tecnologia.

Portanto, o único e exclusivo efeito do Escritório de Avaliação da Tecnologia será, provavelmente, garantir emprego em tempo integral para escritores de ficção científica de quinta categoria. Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano e desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.

Mais em

http://www.administradores.com.br/artigos/tecnologia/responsabilidade-social-os-impactos-da-tecnologia-na-sociedade/113365/

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