quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Responsabilidade social: os impactos sociais que necessitam de regulação

Sempre de deve tentar a conversão dos impactos em oportunidades de negócios. Mas, em muitos casos, esta solução ideal não é possível. Com mais frequência, a eliminação do impacto significa aumento de custos. O que era uma externalidade, paga pelo grande público, se transforma em custo, assumido pela empresa. E portanto, passa a atuar como desvantagem competitiva, a não ser que todos os outros participantes do setor aceitem a mesma regra. Este nivelamento, na maioria dos casos, é promovido pela regulação - ou seja, por alguma forma de ação pública.

Sempre que não é possível eliminar um impacto sem aumento nos custos, passa a ser incumbência da administração antecipar-se à tendência e propor a regulação mais tendente a resolver o problema pelo custo mínimo e com o máximo de benefício para o público e para as empresas. Assim, compete à administração empenhar-se para conseguir a regulação adequada.

A administração - e não só a das empresas - tem evitado esta responsabilidade. A atitude tradicional sempre foi a de que "a não regulação é a melhor regulação". Mas o princípio só se aplica quando o impacto pode ser convertido em oportunidade de negócios. Quando a eliminação do impacto impõe alguma restrição, a regulação é do interesse das empresas e, em especial, da empresa causadora do impacto, sob pena de ser tachada de irresponsável, enquanto as inescrupulosas e gananciosas ganham dinheiro.

E esperar que não haja regulação é devaneio cego.

Sempre que ocorrem os tipos de crise enfrentados pela indústria automobilística em relação à segurança dos automóveis e pelas concessionárias de serviços públicos quanto à poluição do ar, a penalidade imposta às empresas no fim das contas é alta. Estas crises sempre terminam em escândalo, o que leva a investigações pelo governo, a editoriais indignados e, por fim, à perda de confiança em todo o setor, em sua administração e em seus produtos por amplos setores da sociedade. Finalmente, baixa-se a legislação punitiva.

O fato de o público hoje não ver problema não é relevante. Na verdade, nem é relevante que o público hoje - como ocorreu em cada um dos exemplo do di-cloro-di-fenil-tri-cloro-etano ( DDT ) ( * nota de rodapé ) - resista com veemência a qualquer tentativa por parte dos líderes empresariais de evitar a crise. No final, irrompe o escândalo.

Um exemplo foi a incapacidade das empresas petrolíferas de pensar à frente e de desenvolver o sucedâneo das concessões de petróleo, cujos impactos podiam ser antecipados com nitidez no fim da Segunda Guerra Mundial. Outro exemplo foi a relutância da indústria americana em refletir sobre a regulação dos investimentos estrangeiros que o Canadá poderia adotar para preservar tanto sua identidade política quanto seu acesso ao capital.

A indústria farmacêutica americana sabia já em mil novecentos e cinquenta e cindo, que as regras e os procedimentos vigentes para testar novos medicamentos precisavam de revisão e de atualização críticas. Elas haviam sido escritas muito antes do advento das poderosas e maravilhosas drogas modernas e de seus efeitos colaterais igualmente poderosos. Os Estados Unidos, desde o começo, tinham a mais severa regulação muito diferente em farmacologia e no uso de medicamentos entre os principais países. Mas será que ela ainda era adequada a uma situação muito diferente em farmacologia e no uso de medicamentos pelos médicos? No entanto, qualquer empresa farmacêutica que tentasse convencer o setor a enfrentar o problema era silenciada pelo outros membros do clube. "Não balance o barco", diziam ao pretenso inovador. Relata-se que uma empresa chegou a elaborar uma nova abordagem abrangente e novos procedimentos regulatórios, mas foi forçada pelas demais a enterrar a proposta em seus arquivos.

E, então, eclodiu o escândalo da talidomida, que, efetivamente, comprovou a eficácia do sistema de controle americano. Enquanto a talidomida foi aprovada para uso medicinal nos países europeus, as autoridades regulatórias dos Estados Unidos manifestaram preocupação, desde muito cedo, com os efeitos colaterais tóxicos do medicamento e retardaram a aprovação. Em consequência, não há bebês deformados pela talidomida nos Estados Unidos, como há na Alemanha, na Suécia e na Inglaterra. No entanto, o escândalo desencadeou enorme tsunami de ansiedade sobre os testes e dobre segurança dos medicamentos nos Estados Unidos. E, como a indústria não havia encarado o problema, estudando-o e buscando a melhor solução, o Congresso americano entrou em pânico e aprovou legislação que ameaçava seriamente comprometer o desenvolvimento de novos medicamentos e seu lançamento no mercado - mas que, paradoxalmente, não impediria outra talidomida. Outras informações podem ser obtidas no livro Fator humano e desempenho, de autoria de Peter F. Drucker.

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