domingo, 5 de abril de 2020

Macroeconomia: como será a economia sem o controle do estado?

Em seus quatrocentos anos de história, a economia passou por quatro grandes mudanças em sua visão de mundo, seus interesses e paradigmas. Agora está em vias de passar por outra mudança, a quinta revolução científica.

A economia de hoje é, em grande parte, a Casa que Keynes Construiu. Ainda que no mundo de língua inglesa, apenas uma minoria dos economistas é keynesiana em termos de suas teorias específicas. Mas a maioria, talvez até mesmo nos países capitalistas do tipo comunista, é constituída de keynesianos em termos de sua mentalidade, naquilo que vem e consideram importante, em suas preocupações e em seus pressupostos básicos. De forma geral, eles tendem a se definir através de seu relacionamento com a economia keynesiana: ou são quase keynesianos ou não keynesianos ou antikeynesianos. Sua terminologia ( Produto Interno Bruto, por exemplo, ou suprimento de moeda ) assume o agregado econômico em que a economia keynesiana se baseia. As visões sobre a atividade econômica, política econômica e teoria econômica propostas ( ou pelo menos organizadas ) por Keynes em torno de mil novecentos de trinta se tornaram, cinquenta anos depois, o ambiente familiar e o território próprio dos economistas, independentemente de persuasão. Os keynesianos podem não reunir os maiores batalhões, mas ocuparam os cargos de comando e, assim, definem as questões.

Porém, tanto em termos de teoria econômica quanto em termos de política econômica, a economia keynesiana está em desarranjo. Ela é incapaz de enfrentar os problemas centrais de política dos países desenvolvidos: produtividade e formação de capital; na verdade, a economia keynesiana deve negar que estes problemas poderiam até mesmo existir. Ela também não consegue oferecer uma teoria que consiga englobar, quanto mais explicar, a realidade econômica. Além disto, tem se mostrado completamente irrelevante para as necessidades e os desafios econômicos dos países do Terceiro Mundo em desenvolvimento, se é que não está sendo prejudicial para estes também.

De fato, as duas únicas abordagens teóricas que, durante estes últimos cinquenta ou cinquenta e cinco anos, têm mostrado poder de previsão consistente são ambas incompatíveis com o modelo keynesiano: as teorias do economista canadense Robert Mundell, da Columbia University, e as da escola de expectativas racionais. Após minuciosos estudos empíricos, Mundell concluiu, há mais de quarenta anos, que as políticas keynesianas não funcionam na economia internacional. Ele previu corretamente o fracasso das desvalorizações cambiais para corrigir o balanço de pagamentos, para conter a inflação e para melhorar a posição competitiva. A escola de expectativas racionais vai ainda mais longe: ela postula que a intervenção governamental ( isto é, macroeconômica ) não só é deletéria, como é inútil e ineficaz.

Mas estas novas abordagens são igualmente incompatíveis com as teorias pré-keynesianas, seja a neoclássica ou a marxista. O que torna a atual crise da economia um genuína Revolução Científica é a incapacidade de voltar para a visão de mundo econômico que Keynes derrubou. Com certeza, muitos dos teoremas econômicos, metodologias econômicas e termos econômicos encontrados nos compêndios escolares de hoje em dia continuarão a ser encontrados nos compêndios escolares de amanhã. Eles deverão ser apenas reinterpretados ( da maneira que a física quântica reinterpreta a óptica de Newton ). Afinal, Keynes não descartou um único teorema da economia clássica. Ele até manteve a Lei de Say, segundo a qual a poupança sempre iguala os investimentos; sua teoria se tornou apenas um caso especial. Além disto, uma das ferramentas mais avançadas da economia moderna, o Modelo Insumo-Produto, retroage para a primeira tentativa de análise econômica, os Tableau Economique, dos Fisiocratas de há mais de dois séculos. Mas como visão de mundo econômico, ou como sistema econômico, as teorias anteriores ( por exemplo, a ortodoxia disciplinada dos austríacos ) não o fazem. O que tornou Keynes tão atraente há noventa anos mesmo para um cético ( como Peter F. Drucker dizia ter sido na época 0 foi a nova visão que ele trouxe para o mundo; de repente seria preciso ver uma realidade inteiramente nova, e esta realidade ainda está no mundo de não desaparecerá. A Nova Economia será pós-keinesiana. Ela não pode ignorar Keynes, mas precisará transcendê-lo.

Pode não haver Economia no futuro. Regimes totalitários, embora muito preocupados com a economia, não toleram o postulado sobre o qual todo curso de economia deve basear-se: a atividade econômica, embora restringida e limitada pela racionalidade, por preocupações e valores não econômicos, constitui uma esfera distinta e separada. Os regimes totalitários não podem aceitar dentro de seus limites uma atividade econômica que seja autônoma, internamente consistente e zweckrational - conceito formulado por Max Weber para representar uma ação racional ( ou ação instrumental ) internacionalmente visando a determinado objetivo. Ainda não é conhecida esta Nova Economia, mas será possível esboçar suas especificações? Outras informações podem ser obtidas no livro Rumo à nova economia, de autoria de Peter F. Drucker.

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