segunda-feira, 6 de abril de 2020

Macroeconomia: a economia dos símbolos superando a economia das coisas

A Nova Economia ainda é desconhecida, mas é possível esboçar suas especificações. Para tanto, é preciso olhar paradigmaticamente, ( isto é, como metodológicos, em vez de economistas ) para as visões de mundo econômico subjacentes às quatro revoluções científicas na economia de precederam esta em que se encontra atualmente, especialmente a visão de mundo específica e os pressupostos da última, a do sistema keynesiano.

A economia começa com os cameralistas e os mercantilistas na França, na primeira metade de século dezoito. Eles foram os primeiros a ver a economia como autônoma. Anteriormente, não havia economia, por maior que fosse a preocupação com o comércio e os meios de subsistência, com a riqueza, com a cunhagem de moeda e os tributos. Considerando um sistema, uma visão de mundo, o mercantilismo era macroeconômico e seu universo era uma unidade política: o território controlado pelo príncipe através de seu controle da moeda e do comércio exterior. O mercantilismo era um economia focada no suprimento. Sua principal preocupação era produzir o maior superávit possível com as exportações e gerar as divisas necessárias para pagar aos soldados profissionais.

Apesar de sua preocupação com a oferta, o mercantilismo não conseguiu, no entanto, produzi-la. O mercantilismo entrou em colapso como sistema naquilo que hoje seria chamado de crise de produtividade. Quanto mais o governo francês promovia a fabricação para exportação com os ingleses não mercantilistas, não sistemáticos e não científicos do outro lado do canal. Ao mesmo tempo, o mercantilismo também fracassou no estímulo para a formação de capital. Havia poucas estatísticas econômicas naqueles dias, além de números do comércio exterior, preço do pão e arrecadação de tributos; mas não há dúvida de que a taxa de poupança francesa caiu acentuadamente, enquanto a poupança ha Inglaterra não mercantilista subia com certa constância.

Os fisiocratas começaram sua revolução científica com o paradoxo de que, sob o mercantilismo, o país mais rico da Europa, a França, se tornava um dos mais pobres, e estava ficando mais miserável á medida que ganhava mais divisas. Eles resolveram o paradoxo aplicando a lógica gaulesa no pragmatismo anglo-saxão. Seu sistema permanecia bastante focado na oferta, como era o dos mercantilistas. Mas eles passaram a ser microeconomistas, com a unidade econômica representada pelo pedaço de terra individual e por seu agricultor. Isto, em seguida, os empurrou para a primeira teoria econômica do valor; isto é, a primeira teoria que não igualava riqueza com dinheiro. A fonte de valor para os fisiocratas era a natureza em sua manifestação econômica; isto é, a terra como produtora do sustento humano. Com isto, a economia se tornou genuinamente autônoma; tornou-se uma disciplina.

A economia clássica ( a terceira dos sistemas econômicos mundiais ) tirou dos fisiocratas tanto a preocupação com a oferta quanto o foco na microeconomia. No entanto, ele mudou a teoria de valor transferindo-a da natureza para o homem. Com a teoria de valor do trabalho, a economia se transformou em uma ciência moral. Devido a isto, bem como ao fato de gerar riqueza, a economia clássica obteve sucesso e rápida ascensão como estrela entre as novas disciplinas. Mas muito em breve, na época do maduro John Stuart Mill, em torno do ano de mil oitocentos e cinquenta, a teoria do valor do trabalho passaria a ser um impedimento e a causa de uma séria turbulência teórica.

Isto esteve por trás da terceira das revoluções científicas, a que ocorreu na segunda metade do século dezenove: a mudança da economia clássica para a neoclássica, dos discípulos de Recardo para Leon Walras na Bélgica e os pioneiros austríacos da utilidade marginal. A mudança foi principalmente filosófica. Os neoclássicos mudaram de valor para utilidade. eles mudaram das necessidades humanas para as vontades humanas. Mudaram da estrutura econômica para a análise econômica. Para quem não é economista, esta pode não parecer uma mudança significativa, e dificilmente mereceria o nome de revolução científica. Mas ela introduziu um novo espírito que tem animado a economia e os economistas até hoje.

Esta terceira revolução científica também dividiu a economia. Marx e os marxistas recusaram-se a abandonar a teoria do valor do trabalho. E também foram forçados a subordinar a economia a forças históricas não econômicas do sistema ( ou como Lênin mais tarde a redefiniu, pelas contradições políticas do sistema ). Depois o estado se enfraqueceria e, em seguida, a microeconomia assumiria: só então é que haveria equilíbrio.

Visto contra o histórico paradigmático da economia, Keynes estava realmente certo na alegação manifestada em seu seminário em Cambridge, nos anos trinta, de que sua economia representava uma ruptura bem mais radical com a tradição de Marx e o marxismo. Keynes não apenas voltou aos mercantilistas ao ser macroeconômico. Ele virou de cabeça para baixo os sistemas anteriores ao se centrar na demanda, em vez de fazê-lo na oferta. Na economia keynesiana, a oferta é função da demanda e controlada por ela. Acima de tudo, em sua maior inovação, Keynes redefiniu a realidade econômica. Em vez de bens, serviços e trabalho ( realidades do mundo físico e coisas ), as realidades econômicas de Keynes eram símbolos: dinheiro como um véu sobre a realidade. Bem antes de Keynes, economistas da estatura de MacCulloch, por exemplo, um ricardiano devoto nos demais aspectos, ou na geração anterior a Keynes, o sueco Karl Gustav Cassel e o alemão Georg Friedrich Knapp, tentaram substituir a economia baseada em coisas materiais por uma economia baseada em símbolos. No entanto, foi ao observar que na recessão dos anos vinte os sindicatos trabalhistas ingleses tratavam os salários em dinheiro como reais e como renda, mesmo quando na realdade isto resultava  em menor poder de compra para seus membros, que Keynes produziu uma genuína revolução científica.Na economia keynesiana, os véus da realidade são as commodities, a produção e o trabalho. Ou, melhor ainda, estas coisas são, na verdade, determinadas pelos eventos monetários: meios de pagamento, crédito, taxas de juros e superávits ou déficits governamentais. Bens, serviços, produção, produtividade, demanda, emprego e finalmente preços são todos variáveis dependentes dos eventos macroeconômicos do símbolo monetário da economia. Filosoficamente falando, Keynes se tornou um nominalista extremado ( talvez não seja inteiramente coincidência que ele e Wittgenstein tivessem sido contemporâneos em Cambridge ).

Olhando de forma paradigmática, Milton Friedman era, na época, tão keynesiano quanto o próprio mestre, em vez de antikeynesiano, como normalmente é retratado. Friedman aceitava, na época, sem reservas a visão de mundo keynesiana. Sua economia era pura macroeconomia, com o governo nacional sendo a unidade e a única força dinâmica controlando a economia através da oferta monetária. A economia de Friedman estava completamente focada na demanda. O dinheiro e o crédito representam a realidade econômica predominante ( e, de fato, a única ). O fato de Friedman ter visto a oferta de moeda como a origem e as taxas de juros como derivadas, não é muito mais do que uma pequena observação sobre as escrituras keynesianas. Trata-se de um ajuste fino em Keynes. Além disto, o que fez Friedman se destacar não é tanto sua teoria monetária, mas sua insistência sobre a atividade econômica ser autônoma, sobre os valores econômicos serem como a dobradiça em torno da qual a política e o comportamento econômico devem girar, e sobre o livre mercado ( com que o próprio Keynes estaria de pleno acordo ).

Para os clássicos, neoclássicos e marxistas, a Grande Depressão dos anos trinta teve origem na economia real, no empobrecimento da Europa em função da Primeira Guerra Mundial, agravado depois pelas Reparações de Guerra e pela acentuada queda de produtividade da agricultura e indústria europeias. Para um keynesiano, porém, incluindo Friedman, a Grande Depressão resultou do colapso da Bolsa de Valores em mil novecentos e vinte e nove, da especulação ou da contratação da oferta de moeda; isto é, resultou dos eventos da economia simbólica. Outras informações podem ser obtidas no livro Rumo à nova economia, e autoria de Peter F. Drucker.

Mais em:

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