sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Produtividade: a nova missão da Administração é tornar as pessoas mais produtivas

As grandes premissas em que tanto a teoria quanto a prática de administração se basearam nos últimos cem anos estão se tornando rapidamente inadequadas. Algumas destas premissas já não se sustentam e passaram a ser obsoletas. outras, embora ainda aplicáveis ( mesmo depois de um século ), são inapropriadas, pois tratam do que é secundário, inferior, excepcional, em vez de se concentrar no que é primário, dominante, a função e a realidade primordial da administração. Ainda assim, a maioria dos profissionais de administração, tanto praticantes quanto teóricos, ainda as considera como base.


Em grande parte, a obsolescência e a inadequação destas supostas realidades da administração refletem seu sucesso porque a administração foi a história de sucesso par excellence nestes últimos cem anos - mais do que a ciência. Acima disto porém, as premissas tradicionais dos estudiosos e profissionais de administração estão sendo substituídas por iniciativas independentes - ou pelo menos parcialmente dependentes - na sociedade, na economia e na visão de mundo deste época, sobretudo os países desenvolvidos. Em grande medida, a realidade objetiva está mudando em torno do administrador e de maneira rápida.


Os administradores estão bastante conscientes dos novos conceitos e das novas ferramentas de administração, dos novos conceitos de organização, por exemplo, ou da revolução da informação. Estas mudanças dentro da administração, aliás, são muito importantes. No entanto, mais importante ainda é a mudança na realidade em si e seu impacto nas premissas fundamentais por trás da administração como disciplina e prática. As mudanças nos conceitos e ferramentas gerenciais obrigarão os administradores a mudar seu comportamento. As mudanças na realidade, porém, exigem uma mudança na função da administração. As mudanças nos conceitos e ferramentas significam mudanças no trabalho do administrador e no modo de realizar este trabalho. A mudança na função da administração significa uma mudança na essência do administrador.


As velhas premissas


Seis premissas formaram a base da teoria e da prática de administração no século vinte e primeiras décadas do século vinte e um. Evidentemente, poucos profissionais de administração tinham consciência disto. De modo geral, nem os estudiosos do assunto conseguiram explicá-las claramente. Ainda assim, praticantes e teóricos sempre basearam suas ações e teorias nestas premissas, tratando-as como axiomas indiscutíveis.


As velhas premissas estão relacionadas:


1) ao escopo;

2) à tarefa;

3) à posição e

4) à natureza da administração.


Premissa 1:


A Administração é administração empresarial, e as empresas são assunto exclusivo e exceção na sociedade.


Esta premissa é sustentada de forma subconsciente, não consciente. Está contudo, totalmente entranhada em nossa visão de sociedade, sejamos de direita, de esquerda, conservadores, liberais ou radicais do capitalismo dos tipos neoliberal ou comunista.: a visão da teoria social europeia ( francesa e inglesa ) do século dezessete, que prevê uma sociedade com apenas um poder central organizado, o governo nacional, supostamente soberano, apesar de limitado em essência, e o resto da sociedade composto basicamente de moléculas sociais de famílias individuais. As empresas, dentro desta visão, são tidas como a única exceção, as únicas instituições organizadas. A administração, portanto, é vista como algo restrito a uma instituição isolada, atípica e especial na esfera econômica, isto é, às empresas comerciais. A natureza e as características da administração na visão tradicional estão, deste modo, bastante vinculadas à natureza e às características das atividades econômicas. A pessoa nasceu para a administração se nasceu para os negócios, e vice-versa. Em de alguma forma, de acordo com esta visão, a atividade econômica é algo muito diferentes de todas as outras preocupações humanas - a ponto de ter se popularizado a expressão preocupação econômica, em vez de preocupação humana.


Premissa 2:


As responsabilidades sociais da administração, isto é os assuntos que não podem ser incluídos nos cálculos econômicos, são restrições e limitações impostas, não objetivos e tarefas gerenciais. Elas devem ser desconsideradas fora do âmbito empresarial e da rotina diária dos gerentes. Ao mesmo tempo, e como as empresas são consideradas a única exceção, só elas têm responsabilidades sociais. Aliás, a expressão comum é as responsabilidades sociais das empresas. Universidade, hospitais e entidades governamentais, na visão tradicional, supostamente não têm alguma responsabilidade social.


Esta visão decorre diretamente da crença de que a empresa comercial é a única exceção à regra. Universidades e hospitais supostamente não têm responsabilidade social porque não estão incluídos o campo de ação da visão tradicional, ou seja, não são vistos como organizações. Além disto, a visão tradicional de uma responsabilidade social peculiar e restrita às empresas baseia-se na premissa de que a atividade econômica difere radicalmente das outras atividades humanas ( isto quando é considerada uma atividade humana normal ) e que o lucro é algo alheio ao processo econômico, uma imposição do capitalismo do tipo liberal, e não uma necessidade intrínseca de qualquer atividade econômica.


Premissa 3:


A principal tarefa da administração, não a única, é mobilizar a energia da organização empresarial para a realização de tarefas conhecidas e predefinidas. Os verdadeiros testes são eficiência no que já está sendo feito e adaptação a mudanças externas. O empreendedorismo e a inovação - exceto a pesquisa sistemática - não estão incluídos no âmbito da administração.


Em grande parte, esta premissa foi uma necessidade no século vinte. A novidade não era o empreendedorismo e a inovação, com os quais os países desenvolvidos estavam acostumados havia centenas de anos. A novidade do mundo do anos mil e novecentos, é poca em que surgiu o interesse pelo assunto da administração, eram as organizações grandes e complexas, voltadas para a produção e distribuição de produtos, com as quais os sistemas de administração tradicionais, fossem de fábricas ou de lojas, não tinham como lidar. O advento da locomotiva a vapor não foi o que impulsionou a preocupação com a administração, mas o surgimento, há cem anos, das grandes empresas ferroviárias, que sabiam lidar com o negócio de locomotivas a vapor sem maiores problemas, mas estavam desnorteadas em relação à coordenação de pessoal, á comunicação entre as pessoas e à questão de hierarquia e responsabilidades.


Entretanto, o foco no lado gerencial da administração - a ponto de quase desconsiderar o empreendedorismo como uma função da administração - também reflete a realidade da economia na metade do século após a Primeira Guerra Mundial, que foi um período de grandes avanços tecnológicos e empresariais, um período que exigia adaptação, não inovação, e capacidade de fazer melhor, não coragem de fazer diferentes.


A longa e dura resistência contra a administração por parte do Unternehmer ( empreendedor ) alemão do patron ( empregador ) francês reflete, em grande medida, uma distorção linguística. Não existe uma palavra perfeita para administração em alemão ou francês, assim como não há uma palavra em inglês para a palavra francesa entrepreneur ( empreendedor ), que continua sendo usada como palavra estrangeira há mais de duzentos e cinquenta anos no mundo anglófono. Esta resistência decorre, em parte, de peculiaridades da estrutura econômica, isto é, do papel dos bancos comerciais da Alemanha, que faz os industrialistas, preocupados com sua autonomia, enfatizarem o carisma do Unternehmer em detrimento do profissionalismo impessoal do administrador. Outra questão também é que a administração não pertence a uma classe específica, e sua autoridade baseia-se numa função objetiva, não na propriedade ou numa classe social, como no caso do Unternehmer alemão ou do patron francês. Mas certamente um dos principais motivos para a resistência contra a administração - como termo e como conceito - no continente europeu é a ênfase - em grande parte subconsciente - na tarefa gerencial interna, em oposição á função da inovação empresarial externa.


Premissa 4:


O trabalhador manual - especializado ou não - é o que preocupa a administração como recurso, como centro de custo e como problema social e individual.


Fazer o trabalhador manual se tornar produtivo foi, na verdade, a maior realização da administração. A administração científica de Frederich Winslow Taylor é muito atacada atualmente ( embora, na maior parte dos casos, por pessoas que não leram Taylor ). Porém, sua insistência em estudar o trabalho é o que explica a riqueza dos países desenvolvidos de hoje; graças a isto, a produtividade do trabalhador manual aumento tanto que o trabalhador braçal do passado - um proletário condenado a ma renda que mal dava para sua subsistência, por conta da lei de ferro dos salários, e à total incerteza profissional no dia a dia - tornou-se o trabalhador semiqualificado das indústrias de produção de massa do presente, com um padrão de vida de classe média e emprego garantido ou segurança salarial. E Taylor, com isto, descobriu a solução para o impasse aparentemente insolúvel da guerra de classes do século dezenove entre a exploração capitalista liberal da mão de obra proletária e a ditadura do proletariado.


Na época da Segunda Guerra Mundial, a principal preocupação ainda era a produtividade e a administração do trabalho manual. A principal façanha das economias de guerra britânica e americana foi a mobilização, o treinamento e a administração dos trabalhadores de produção em grande escala. Ainda no período pós-guerra, uma grande realização - em todos os países desenvolvidos, exceto na Grã-Bretanha - foi a rápida conversão dos imigrantes agrícolas em trabalhadores industriais produtivos. Em grande parte, este feito - viabilizado somente por causa da administração científica apresentada por Taylor há mais de cem anos - foi o que possibilitou o crescimento e o desempenho econômico do Japão, da Europa ocidental e até dos Estados Unidos da América ( EUA ).


Premissa 5:


A administração é uma ciência ou, no mínimo, um disciplina, isto é, algo que independe de valores culturais e crenças pessoais, assim como as operações da aritmética, as leis da física ou as tabelas de engenharia. No entanto, toda administração é praticada dentro de um contexto diferente e, portanto, está sujeita a uma cultura específica, uma constituição preestabelecida e uma economia determinada.


Estas duas proposições eram tão óbvias para Taylor nos EUA como para Fayol na França. De todas as autoridades anteriores ao âmbito da administração, apenas Rathenau na Alemanha parece ter duvidado de que a administração fosse algo objetivo, isto é, independente da cultura - e ninguém lhe deu ouvidos. A escola de Relações Humanas acusou Taylor a uma verdadeira psicologia científica, fundamentada na natureza do homem, recusando-se a considerar o trabalho de seus próprios colegas das ciências sociais, os antropólogos culturais. Nas premissas tradicionais de administração, os fatores culturais eram tidos como obstáculos. É uma questão quase axiomática na área de administração que o desenvolvimento social e econômico requeira o abandono da postura não científica, isto é, das crenças, valores e costumes culturais tradicionais. Os russos, por exemplo, em sua abordagem frente ao desenvolvimento chinês no domínio de Stalin, não diferiam em dada dos americanos e dos alemães no que diz respeito a esta premissa. No entanto, quem garante que ela não passa de estreiteza ocidental e egocentrismo cultural deveria das um olhada no desenvolvimento do Japão.


Ao mesmo tempo, a teoria e a prática de administração viram o Estado nacional e em sua economia o habitat natural das organizações empresariais - como aconteceu ( e ainda acontece ), claro, no caso da teoria de Peter Ferdinand Drucker sobre economia, ambiente legal e política.


Premissa 6:


A administração é o resultado do desenvolvimento econômico.


Esta foi, evidentemente, a experiência histórica do oriente ( menos do Japão, onde grandes organizações, como Mitsui, Iwasaki, Shibuzawa, vieram primeiro e onde o desenvolvimento econômico foi, indubitavelmente, resultado da administração ). Mas, mesmo no ocidente, a explicação tradicional do surgimento da administração era, em grande parte, um mito. Conforme constava ( ainda consta ) nos compêndios sobre o assunto, a administração passou a existir quando as pequenas empresas cresceram, superando o dono que havia feito tudo sozinho. Na realidade, a administração evoluiu em empresas que já começaram grandes e nunca poderiam ter sido pequenas - as empresas ferroviárias, principalmente, mas também os correios, as empresas de navios a vapor, a usinas siderúrgicas e as lojas de departamentos. Nos setores em que se podia começar pequeno, a administração surgiu muito tarde. Em alguns destes setores, como o de fábricas têxteis e o bancário, ainda é comum ver o modelo de um chefe que faz tudo, com ajudantes, na melhor das hipóteses. Mas, mesmo onde isto foi visto - e Fayol, assim como Rathenau, aparentemente percebeu que a administração era uma função e não um estágio - , a administração era considerada como um resultado, não uma causa, uma resposta frente a uma necessidade, não uma oportunidade.


Drucker dizia ter plena consciência de que simplificou à beça o assunto - talvez até demais, mas dizia estar certo de que não deturpou as premissas tradicionais. Também dizia estar certo de que não se enganou quanto ao fato de que estas premissas, de uma maneira ou de outra, ainda permeiam tanto a teoria quanto a prática da administração, sobretudo nos países industrialmente desenvolvidos.


E as novas realidades


Hoje são necessárias premissas bastantes diferentes. Estas serão apresentadas de modo também simplificado, claro, porém muito mais próximas da realidade atual do que as premissas em que a teoria e a prática de administração se basearam nos últimos cem anos.


Eis uma primeira tentativa de formular premissas que correspondam à realidade da administração atual.


Premissa 1:


Todas as grandes missões das sociedades desenvolvidas estão sendo levadas adiante por instituições organizadas e administradas. A organização empresarial foi apenas a primeira delas, tornando-se, portanto, o modelo de instituições por acidente histórico. No entanto, embora tenha um trabalho específico - a produção e a distribuição de bens e serviços econômicos - , não é a única. As organizações de grande porte são a regra, não a exceção. A sociedade compõe-se de organizações pluralistas, não de uma difusão de unidades familiares. E a administração, em vez da peculiaridade isolada de ma única exceção - a organização empresarial - é algo genético e a função social central da sociedade.


Um livro muito interessante ( Anthony Jay: Management and Machiavelli - Londres: Holder and Stoughton, mil novecentos e sessenta e sete ), afirma que a administração é um forma de governo, atribuindo-lhe os insighters clássicos de Maquiavel. Mas esta não é uma ideia realmente nova. Muito pelo contrário. Esta visão já estava presente num livro bastante lido, publicado em mil novecentos e quarenta e um - The Managerial Revolution, de James Burnham ( embora Burnham atribuísse Marx, não Maquiavel, à administração ). O assunto foi analisado com certa profundidade em três livros de Drucker - The future of Industrial Man ( de mil novecentos e quarenta e dois ), Concept of the Corporation ( de mil novecentos e quarenta e seis ) e The New Society ( de mil novecentos e cinquenta ). Justice Brandeis já sabia bem disto antes da Primeira Guerra Mundial, quando cunhou a expressão administração científica para os estudos de Frederich Taylor sobre o trabalho manual. A ideia de que as organizações empresariais são uma forma de governo também era bastante óbvia para toda a tradição da economia institucional americana desde John R. Commons, ou seja, a partir da virada do século dezenove para o vinte. Do outro lado do Atlântico, Walter Rathenau viu a mesma coisa com clareza muito antes de mil novecentos e vinte.


A novidade, entretanto, é que as instituições não comerciais recorrem cada vez mais à administração empresarial para aprender a administrar a si mesmas. Os hospitais, as forças armadas, as dioceses católicas o serviço público - todos querem aprender administração empresarial. E, embora o primeiro governo trabalhista britânico pós-guerra tenha nacionalizado o Banco da Inglaterra para impedir que ele fosse administrado como empresa, em mil novecentos e sessenta e oito o governo trabalhista seguinte contratou uma grande firma americana de consultoria em administração ( McKinsey & Company ) para reestruturar o Banco da Inglaterra nos moldes de uma administração empresarial.


Isto não significa que a administração empresarial possa ser transferida a outras instituições não comerciais. Ao contrário, a primeira coisa que estas instituições devem aprender da administração empresarial é que a administração começa com a definição de objetivos e que, portanto, as instituições não comerciais, como universidades ou hospitais, precisarão de ma forma de administração muito diferente da administração empresarial. mas estas instituições estão certas em ver neste tipo de administração o modelo. O que foi feito em relação à administração das empresas terá de ser feito cada vez mais no caso das outras instituições, inclusive as entidades governamentais. A empresa comercial não é a exceção, mas apenas a primeira das espécies, por assim dizer, que estuda-se com mais afinco. E a administração é algo genérico, não excepcional.


Na verdade, o que sempre pareceu ser a característica mais peculiar da administração empresarial, a saber, a mensuração dos resultados em termos econômicos, isto é, em termos de rentabilidade, agora emerge como o modelo daquilo que todas as instituições precisam: uma forma de mensuração objetiva da alocação de recursos relacionada a resultados e da racionalidade das decisões gerenciais. As instituições sem fins econômicos precisam de um parâmetro que lhes sirva como a lucratividade no caso das empresas comerciais - isto é o que explica a tentativa de Robert McNamara, como secretário de Defesa dos EUA, de introduzir a eficácia em termos de custo no governo e de ter como base das decisões orçamentárias e políticas mensurações planejadas e constantes dos programas, comparando expectativas e resultados. Em outras palavras, a lucratividade, em vez de ser uma exceção e algo diferente das outras necessidades humanas e sociais, surge, na sociedade pluralista das organizações, como o modelo de mensuração que toda instituição precisa para ser administrada e administrável. Evidentemente, isto também explica rápido retorno ao lucro e à lucratividade como parâmetros e determinantes de decisões de alocação de recursos nos países comunistas desenvolvidos.


Premissa 2:


Como a sociedade está rapidamente se tornando uma sociedade de organizações, todas as instituições, todas as instituições, incluindo as empresas, terão de se responsabilizar pela qualidade de vida e pelos valores sociais, crenças e propósitos básicos dos seres humanos, o que passará a ser o objetivo de suas atividades diárias, não uma questão de responsabilidade social limitante ou algo alheio a suas funções cotidianas. Elas terão de aprender a transformar a qualidade de vida numa oportunidade dentro de suas principais tarefas. No caso das organizações empresariais, isto significa que a conquista da qualidade de vida terá de ser, cada vez mais, considerada como uma oportunidade de negócio e terá de ser convertida em rentabilidade.


Isto valerá de modo progressivo para a satisfação do indivíduo. Hoje em dia, as organizações representam o meio social mais visível. A família é algo privado, não uma comunidade, o que não a torna menos importante. A comunidade está cada vez mais presente nas organizações, principalmente naquelas em que os indivíduos encontram seu meio de vida, acesso à função, realização e status social. O trabalho da administração será, cada vez mais, fazer os valores e as aspirações do indivíduo resultarem em energia e desempenho organizacional. Não será suficiente contentar-se - como aconteceu no caso das relações industriais e até mesmo das relações humanas - com satisfação, isto é, com ausência de insatisfação, Talvez uma forma de dramatizar isto seja dizer que, em uma década, a preocupação deverá ser o desenvolvimento da administração como meio de ajustar os indivíduos às demandas das organizações às necessidades, aspirações e potenciais dos indivíduos.


Premissa 3:


A inovação empresarial será tão importante para a administração como a função gerencial, tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. Aliás, a inovação empresarial pode ganhar importância nos próximos anos. Ao contrário do que aconteceu no século dezenove, contudo, a inovação empresarial terá de ser, cada vez mais, responsabilidade das instituições existentes, como as empresas atuais. Por conta disto, não será mais possível considerá-la como um elemento alheio à administração. A inovação empresarial terá de se tornar o núcleo, o aspecto central da administração.


Tudo leva a crer que nas últimas décadas do século vinte e nas primeira décadas do século vinte e um haverá mudanças tão rápidas quanto as que caracterizaram os cinquenta anos entre mil oitocentos e sessenta e mil novecentos e quatorze, época em que uma nova grande invenção, prenúncio quase imediato de um novo grande setor com novas empresas grandes, aparecia em cena a cada dois ou três anos. Ao contrário do século dezenove, porém, as inovações dos séculos vinte e vinte e um serão tanto sociais quanto técnicas. Uma metrópole, por exemplo, é um desafio para o inovador atual na mesma proporção que a eletricidade era para o inventor da década de mil oitocentos e setenta. E, à indiferença dos século dezenove, a inovação nos séculos vinte e vinte e um terá como base o conhecimento geral, não apenas o conhecimento científico.


Ao mesmo tempo, a inovação terá de ser canalizada cada vez mais pelas empresas existentes, nem que seja só porque as leis tributárias dos países desenvolvidos geram capital, sobretudo devido às atividades empresariais. E a inovação depende muito de capital, principalmente em duas fases cruciais: a fase de desenvolvimento e a fase de introdução de produtos, processo e serviços no mercado. Haverá de acontecer um aprendizado, portanto, de fazer as organizações serem capazes de inovar de modo contínuo e acelerado. A distância que se esta desta meta é comprovada pelo fato de que os administradores ainda se preocupam com a resistência à mudança. As organizações atuais terão de aprender a buscar mudança como oportunidade, resistindo à continuidade.


Premissa 4:


Uma missão primordial da administração nos países desenvolvidos nas próximas décadas será, cada vez mais, tornar o conhecimento produtivo. Trabalhador manual é coisa do passado - e tudo o que será possível combater nesta frente são medidas reacionárias. A fonte básica de capital, o investimento fundamental ( mas também o centro de custo de uma economia desenvolvida ) é o trabalhador do conhecimento, que coloca em prática o que estudou de modo sistemático, isto é, conceitos, ideias e teorias, não o sujeito que só tem a oferecer habilidades manuais ou força braçal.


Taylor utiliza o conhecimento para tornar o trabalhador manual produtivo, mas ele próprio nunca se perguntou: "O que constitui a produtividade de um engenheiro industrial que aplica a administração científica?" Como resultado do trabalho de Taylor, é possível responder o que é produtividade em relação ao trabalho manual, mas ainda não há como responder o que é produtividade em relação ao engenheiro industrial ou qualquer outro trabalhador do conhecimento. Sem dúvida, as mensurações de produtividade do trabalhador manual, como o número de peças produzidas por hora ou por real de salário, são bastante irrelevantes no caso do trabalhador do conhecimento. Existem pocas coisas mais inúteis e improdutivas do que um departamento de projeto de produto, que com grande presteza, dedicação e elegância realiza os desenhos de um produto invendável. Em outras palavras, a produtividade em relação ao trabalhador do conhecimento é, acima de tudo, qualidade. Ainda não se sabe nem defini-la.


Uma coisa é certa: tornar o conhecimento produtivo provocará mudanças radicais na estrutura do trabalho, nas carreiras e nas organizações, tão radicais quanto as mudanças nas fábricas resultantes da aplicação da administração científica ao trabalhador manual. O primeiro emprego, mais do que tudo, terá de ser radicalmente modificado para que o trabalhador do conhecimento possa se tornar produtivo. Porque é óbvio que o conhecimento não tem como ser produtivo se o trabalhador do conhecimento não souber que ele é, para que tipo de trabalho ele foi feiro e de que maneira ele rende mais. Em outras palavras, não há como separar planejamento e ação no caso do trabalhador do conhecimento. Ao contrário, o trabalhador do conhecimento deve ser capaz de planejar sozinho, e isto os primeiros empregos atuais, de modo geral, não têm como oferecer. Estes empregos baseiam-se na premissa - válida para o trabalho manual, mas totalmente inapropriada para o trabalho com conhecimento técnico - de que um não especialista pode determinar objetivamente a melhor maneira de realizar qualquer trabalho. No caso do trabalho como conhecimento técnico, isto não é verdade. Pode haver uma maneira melhor, mas esta maneira é totalmente condicionada pelo indivíduo - não é determinada pelas características físicas, ou até mentais, do trabalho. Está vinculada a questões de temperamento.


Premissa 5:     


Existem ferramentas e técnicas de administração. Existem conceitos e princípios de administração. Existe uma linguagem comum de administração. E deve haver, inclusive, uma disciplina universal de administração. Certamente, existe uma função genérica mundial que pode ser chamada de administração e que serve ao mesmo propósito em qualquer sociedade desenvolvida. Mas a administração também é uma cultura e um sistema de valores e crenças. É também o meio pelo qual determinada sociedade pode ser considerada a ponte entre uma civilização que está rapidamente se tornando mundial e uma cultura que expressa diferentes tradições, valores, crenças e heranças. A administração, na verdade, deve ser um instrumento capaz de valer-se da diversidade cultural para atender aos propósitos comuns da humanidade. Ao mesmo tempo, a administração está sendo praticada cada vez menos dentro dos limites da uma única cultura, lei ou soberania. A administração passou a ser uma prática multilateral. Aliás, a administração está se tornando a instituição - até agora, a única - de uma verdadeira economia mundial.


A administração, agora sabe-se, precisa tornar produtivos os valores, aspirações e tradições de indivíduos, comunidade e sociedade com um propósito de produção comum. Em outras palavras, se os administradores não conseguirem utilizar a herança cultural específica de um país e um povo, o desenvolvimento social e econômico não tem como acontecer. Esta é, evidentemente, a grande lição do Japão - e o fato de que o Japão ter conseguido, há um século e meio, utilizar as próprias tradições de comunidade e valores humanos em nove do novo objetivo de se criar um Estado industrializado moderno explica por que o Japão teve sucesso enquanto todos os outros países não ocidentais fracassaram até o momento neste novo objetivo. Ou seja, a administração terá de ser considerada como ciência e como questão humanitária, como o enunciado de descobertas que podem ser objetivamente testadas e validadas e como um sistema de crenças e experiência.


Ao mesmo tempo, a administração - e o assunto, por enquanto, é apenas a administração empresarial - está se apresentando como a única instituição comum a todos que transcende as fronteiras do Estado nacional. Ainda não existe realmente uma empresa multinacional. O que há, de modo geral, são empresas sediadas num determinado país, com uma cultura específica e uma única nacionalidade, principalmente na administração. Mas também está ficando evidente que isto é um fenômeno de transição e que o desenvolvimento contínuo da economia mundial requer e gera verdadeiras empresas multinacionais, em que não somente o setor de produção e vendas é multinacional, mas o controle acionário e a administração também - de cima para baixo.


Dentro dos países, sobretudo nos países desenvolvidos, as empresas estão perdendo rapidamente seu status de exceção à medida que se reconhece que elas representam o modelo do formato social universal, a instituição organizada que requer administração. Além das fronteiras nacionais, porém, as empresas estão adquirindo o mesmo status há muito perdido dentro de seu país, tornando-se as únicas instituições que expressam a realidade da uma economia mundial e de uma sociedade global de conhecimento.


Premissa 6:


A administração gera desenvolvimento econômico e social. O desenvolvimento econômico  e social é o resultado da administração.


Pode-se dizer, sem medo de simplificar demais, que não existem países subdesenvolvidos. Existem apenas países subadministrados. O Japão, há cento e cinquenta anos, era um país subdesenvolvido em todos os sentidos, mas rapidamente desenvolveu administração de grande competência - aliás, com excelência. em vinte e cinco anos, o Japão de Meiji tornou-se um país desenvolvido e, em alguns aspectos, como a alfabetização, o país mais desenvolvido de todos. Chega-se à conclusão, hoje em dia, de que o Japão de Meiji, não a Inglaterra do século dezoito - ou a Alemanha do século dezenove - é que deve ser o modelo de desenvolvimento para o mundo subdesenvolvido. Isto significa que a administração é a máquina motriz e que o desenvolvimento é uma consequência.


Toda a experiência acumulada na área de desenvolvimento econômico comprova isto. Onde houve a contribuição apenas com o fator de produção econômico, principalmente capital, não houve o alcance do desenvolvimento. Nos poucos casos em que houve a capacidade de geração de energia de administração ( por exemplo, no Vale do Cauca, na Colômbia ), obteve-se rápido desenvolvimento. Em outras palavras, o desenvolvimento está relacionado à energia humana, não à riqueza econômica. E a criação e direção da energia humana é responsabilidade da administração.


Admite-se que estas novas premissas também estão simplificadas. Esta era a intenção. Há uma certeza de que elas são guias para uma administração eficiente nos países desenvolvidos hoje - e amanhã mais ainda  -, melhores do que as premissas em que estão baseadas as teorias de Peter Ferdinand Drucker e práticas dos últimos cem anos. Não devem ser abandonadas as antigas tarefas. Obviamente, ainda há de se administrar as empresas existentes e criar ordem e organização interna. Ainda há de se lidar com o trabalhador manual e torná-lo produtivo. E quem conhece a realidade da administração dificilmente afirmará que já se sabe tudo a respeito destas áreas. De forma alguma. No entanto, os grandes trabalhos que carecem de administração hoje em dia, as grandes missões que requerem novas teorias e novas práticas surgem a partir das novas realidades e exigem diferentes premissas e abordagens.


Mais importante ainda do que as novas missões, contudo, talvez seja o novo papel da administração. A administração está se tornando rapidamente o recurso central dos países desenvolvidos e a necessidade básica dos países em desenvolvimento. Deixando de ser uma preocupação exclusiva de um país específico, as instituições econômicas da sociedade, a administração e os administradores estão se transformado nos órgãos constitutivos, genéricos, diferenciados da sociedade desenvolvida. O que a administração é e o que os administradores fazem será, portanto - e devidamente - cada vez mais uma questão de interesse público, não um assunto para especialistas. A administração se preocupará com a expressão das crenças e valores básicos dos seres humanos na mesma medida em que se preocupa com a obtenção de resultados mensuráveis. Os administradores lutarão pela qualidade de vida da sociedade tanto quanto lutam pelo padrão de vida.


Existem muitas novas ferramentas de administração, cujo uso terá de ser aprendido, e muitas novas técnicas. Existe, como se viu neste texto, grande número de dificuldades novas. Entretanto, a mudança mais importante que a administração tem pela frente é que, cada vez mais, as aspirações, os valores, aliás a própria sobrevivência da sociedade nos países desenvolvidos, dependerão do desempenho, da competência, da sinceridade e dos valores de seus administradores. A missão desta geração é torná-las produtivas, para indivíduos, comunidade e sociedade, as novas instituições organizadas do novo pluralismo. E esta é, acima de tudo, a missão da administração. Outras informações podem ser obtida no livro Tecnologia, administração e sociedade; de autoria de Peter F. Drucker.


Mais em:


https://administradores.com.br/artigos/produtividade-a-nova-miss%C3%A3o-da-administra%C3%A7%C3%A3o-%C3%A9-tornar-as-pessoas-mais-produtivas .

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