segunda-feira, 27 de abril de 2020

Ministério da Justiça: Bolsonaro defende nomeação de amigo seu filho para a Polícia Federal. Filho é investigado por participar de esquema de difamação

O presidente Jair Bolsonaro ( sem partido ) defendeu neste domingo ( vinte e seis de abril de dois mil e vinte ) para o comando do Departamento da Polícia Federal ( DPF ) o nome de Alexandre Ramagem, que é amigo de seu filho Carlos Bolsonaro. "E daí?", respondeu, após ser questionado em uma rede social sobre a proximidade familiar com o escolhido.

Bolsonaro também disse que o ex-ministro da Justiça Sergio Moro mentiu ao afirmar que houve tentativa de interferência política na atuação do DPF ( * vide nota de rodapé ).

Após a demissão de Maurício Valeixo da direção-geral do DPF e a consequente saída de Moro do governo, Bolsonaro escolheu o diretor-geral da ABIN ( Agência Brasileira de Inteligência ), Alexandre Ramagem, para chefiar o DPF.

O nome foi defendido pelo vereador Carlos Bolsonaro ( do Partido Republicanos do Estado do Rio de Janeiro - RJ ). Em foto postada em redes sociais, Ramagem aparece em uma festa ao lado do filho do presidente, que é alvo de apuração do DPF.


No Facebook, Bolsonaro foi questionado por uma mulher sobre o fato de Ramagem ser amigo de seus filhos. "E daí? Antes de conhecer meus filhos, eu conheci o Ramagem. Por isso deve ser vetado? Devo escolher alguém amigo de quem?", disse.

Outro usuário da rede social postou na página de Bolsonaro reportagem do jornal Folha de São Paulo publicada neste sábado ( vinte e cinco de abril de dois mil e vinte ) que revelou que o DPF identificou Carlos como um dos articuladores de um esquema criminoso de fake news.


Em resposta ao usuário, o presidente criticou o jornal. "Acreditando na Folha de São Paulo. Só quando criminalizarem a liberdade de expressão você vai aprender", escreveu na rede social.

Os comentários de Bolsonaro foram feitos em uma postagem na qual ele diz que não trocou nenhum superintendente do DPF e que as indicações foram feitas pelo próprio ministro Moro ou pelo diretor-geral.

"Lamentavelmente o ex-ministro mentiu sobre interferência no DPF", disse Bolsonaro.

Inqúerito envolve Carlos Bolsonaro

O inquérito que agora envolve Carlos foi aberto em março do ano passado pelo presidente do STF, Dias Toffoli, com o objetivo de apurar o uso de notícias falsas para ameaçar e caluniar ministros do tribunal.

O filho de Bolsonaro é investigado sob a suspeita de ser um dos líderes de grupo que monta notícias falsas e age para intimidar e ameaçar autoridades públicas na internet. O DPF também investiga a participação de seu irmão Eduardo Bolsonaro ( do Partido Social Liberal - PSL - do Estado de São Paulo - SP ), deputado federal.

A partir de depoimentos e indícios já coletados, o DPF agora busca um conjunto de provas que sustente um indiciamento ao fim da investigação. Procurado pela Folha de São Paulo por escrito e por telefone, o chefe de gabinete de Carlos não respondeu aos contatos.

Após a publicação da reportagem, Carlos compartilhou na noite deste sábado ( vinte e cinco de abril de dois mil e vinte ) o texto em uma rede social acompanhado da seguinte mensagem: "Esquema criminoso de... NOTÍCIAS FALSAS O nome em si já é uma piada completa! Corrupção, tráfico, lavagem, licitações? Não! E notaram que nunca falam que notícias seriam essas? É muito mais fácil apontar manipulação feita pela grande mídia. Matéria lixo!".

O vereador acrescentou: "Não é necessário esquema de notícia pra falar o que penso sobre drácula, amante, botafogo, nervosinho, aproveitadores, sabotadores, ou sobre quem quer que seja! Há quem faça isso, e são aqueles que mais acusam. Sabemos quem é amiguinho dos jornalistas que direcionam ataques!".
No início da tarde deste domingo ( vinte e seis de abril de dois mil e vinte ), Carlos publicou em rede social duas fotos de Moro. A primeira mostra o ex-juiz conversando com o hoje deputado federal Aécio Neves ( do Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB - do Estado de Minas Gerais - MG ), à época senador.

Na segunda, Moro aparece acompanhado do presidente da Câmara dos Deputados ( CD ), Rodrigo Maia ( do Partido Democratas - DEM do Estado do Rio de Janeiro - RJ ), e da deputada federal Joice Hasselmann ( PSL - SP ). A publicação é acompanhada do texto "Já que dizem que uma foto diz muito, espero destes acusadores que valha para todos".

Carlos e Ramagem ficaram ainda mais próximos nos primeiros meses do governo, quando o delegado que cuidou da segurança de Bolsonaro na campanha de dois mil e dezoito teve cargo de assessor especial no Palácio do Planalto ( sede do Poder Executivo Federal - PEF ). Carlos é apontado como o mentor do chamado "gabinete do ódio", instalado no Planalto para detratar adversários políticos.

Segundo aliados de Moro, ao mesmo tempo em que o DPF avançava sobre o inquérito das fake news, Bolsonaro aumentava a pressão para trocar Valeixo.

A exoneração de Valeixo do cargo de diretor-geral da corporação levou Moro a pedir demissão. Ele acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na polícia.
Na manhã deste domingo ( vinte e seis de abril de dois mil e vinte ), manifestantes reunidos na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, incendiaram uma camiseta com a imagem do ex-ministro Moro.

O protesto começou por volta das dez horas e trinta minutos e trouxe palavras de ordem contra Maia, e o STF. Os participantes saíram em carreata pela capital federal.

Moro faz publicação sobre fake news

Moro voltou a se manifestar em redes sociais após o pedido de demissão do governo.

Neste domingo ( vinte e seis de abril de dois mil e vinte ), o ex-ministro afirmou que há ações contra ele na internet.

"Tenho visto uma campanha de fake news nas redes sociais e em grupos de WhatsApp para me desqualificar. Não me preocupo; já passei por isso durante e depois da Lava Jato", escreveu no Twitter.

Moro ainda fez uma releitura do slogan de campanha de Bolsonaro - "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos": "Verdade acima de tudo. Fazer a coisa certa acima de todos".

P,S.:

Nota de rodapé:

* A denúncia de Moro sobre uma suposta ingerência política de Bolsonaro no DPF é melhor detalhada em:

https://claudiomarcioaraujodagama.blogspot.com/2020/04/ministerio-da-justica-moro-apresenta.html .

Com informações de:

jornal Diário Catarinense ( DC ) e agência de notícias Folhapress .


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