quarta-feira, 1 de julho de 2020

Epidemia: "O governo não foi omisso", diz Silva sobre compra de ventiladores mecânicos. Aquisição é investigada por CPI e força-tarefa

O governador do Estado de Santa Catarina ( SC ) Carlos Moisés da Silva ( do Partido Social Liberal - PSL ) teve o nome citado na investigação sobre a compra dos duzentos ventiladores mecânicos por trinta e três milhões de reais com pagamento adiantado e sem exigência de garantias. ( * vide nota de rodapé ) e o processo foi encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça ( STJ ) ( *2 vide nota de rodapé ) na mesma semana. Ao mesmo tempo, os números de casos e de mortes no Estado atingiram as piores marcas desde que o novo coronavírus foi detectado em solo catarinense.
Carlos Moisés em seu gabinete na Casa d'Agronômica
Silva em seu gabinete na Casa d'Agronômica ( residência oficial do governador do Estado de SC )

Em entrevista exclusiva ao grupo NSC ( que controla o jornais Diário Catarinense e NSCTV - afiliada da Rede Globo de Televisão - RGTV ), Silva falou sobre o combate à pandemia da Covid-dezenove e outros assuntos. Questionado sobre a compra dos ventiladores mecânicos, ele foi enfático:

– Se houve erro, as pessoas devem ser responsabilizadas. E o governo não foi omisso. Quando soube, tomou medidas adequadas para ressarcimento do erário. Este é o papel de um governador.

Silva ainda respondeu perguntas do apresentador Raphael Faraco, do telejornal Bom Dia SC, sobre a relação com a Assembleia Legislativa do Estado de SC ( ALESC ), as recentes mudanças no primeiro escalão do governo, dos pedidos de impeachment que tramitam na ALESC e outros temas. A seguir, detalhes da entrevista:

Carlos Moisés recebeu Upiara Boschi e Raphael Faraco na Casa d'Agronômica
Silva recebeu Boschi e Faraco na Casa d'Agronômica
( Foto : )

Faraco – Durante grande parte deste período de pandemia os números de SC têm sido positivos se comparados com os de outros Estados. Nos últimos dias a gente tem escutado com mais frequência que o cenário epidemiológico é preocupante. Qual é o cenário real neste momento?

SC, pelo fato de ter tomado a decisão no momento certo e abrangente, mesmo em cidades que ainda não tinham casos, deu um recado muito forte à população. Na terceira semana já começamos a trabalhar a retomada de atividades e isto não interferiu na curva. Nossa taxa de transmissibilidade se manteve durante toda a pandemia. Agora, ela muda o cenário porque estamos entrando no nosso pico, naquilo que já era projetado. Junho, julho seriam os meses em que teríamos maior transmissibilidade pela presença maciça do vírus no território. Temos municípios que não registram casos, mas sabemos que é bem provável que todos já tenham casos. As pessoas não podem deixar de levar a sério as recomendações do governo. Vemos isto como a possibilidade manobrar esta situação. O que vai acontecer daqui para frente depende de todos nós. Estabelecemos esta política regionalizada, para que haja intervenções nas cidades ou regiões de forma colegiada com os prefeitos e secretários municipais de Saúde ( SMSs ). Esta é a realidade. Não tem como viver esta pandemia seis meses dentro de casa. As pessoas precisavam produzir, a indústria nunca parou em SC, o comércio em algumas áreas sempre funcionou. A aceleração do contágio é natural da vida em sociedade, não tem como fugir disto. Vamos ter de conviver de forma responsável.

Upiara Boschi ( DC ) – Mas este temor de aumento de contágio surge logo depois que o governo, atendendo a pressões, deu maior autonomia aos prefeitos para tomada das decisões. Tem relação?

Penso que não. Porque não houve muitas mudanças. Houve resistência de algumas regiões, por pressões sociais, de liberar situações. Todo o Estado recebeu as liberações, algumas ( regiões ) seguraram um pouco. Em alguns lugares o aumento de casos foi fruto da atividade industrial, era natural as pessoas se contaminarem porque estavam trabalhando em ambientes que favoreciam o contágio. A gente precisa é continuar fazendo a gestão desta crise. Contra fatos não há argumentos, a gente olha os nossos números e eles são os mais favoráveis na comparação, especialmente aqui da região Sul.

Faraco - Mas neste momento qual é o papel do Estado? O Estado transferiu responsabilidade?

O Estado tem o papel de dar informação para que a tomada de decisão seja regionalizada. Para que não tenhamos a penalização de uma região ter que ficar em casa sem casos de contágio ou uma taxa de transmissão muito alta. Esta região temos de flexibilizar. Legalmente a gente entende que o Estado não pode decretar o fechamento para município a, b ou c. O decreto é para o Estado de SC. O governo pode interferir em um CNPJ em determinadas cidades, junto com a Vigilância Sanitária, órgãos de fiscalização, mas não no município. O formato que temos hoje não é abrir mão de responsabilidade, é dar instrumentos legais adequados para que a autoridade sanitária legal do município seja exercida. Por isto não há questionamento quando a autoridade municipal é exercida em desfavor de decisões estaduais e federais.

Faraco – É possível garantir que o Estado não vai ter problemas futuros no que diz respeito à estrutura de saúde?

Esta é a nossa esperança. Este esforço todo de achatamento da curva de contágio, esta busca por equipar os hospitais, que conseguimos com a solução genuinamente catarinense, que foi a WEG, a empresa ( de Jaraguá do Sul - SC ) que trouxe esta solução ( ventiladores mecânicos ) aqui para o Estado. Estamos recebendo no tempo aprazado, estamos equipando os hospitais. Temos um lastro ainda para receber de equipamento que podemos direcionar para determinada cidade que esteja esgotando a capacidade de leitos em Unidades de Terapia Intensiva, fazendo uma manobra que seja de acordo com a demanda. Obviamente isto não pode dar ao município a tranquilidade de que o governo vai trazer com os ventiladores mecânicos. Para montar um leito de UTI, o ideal é que ele seja habilitado para que seja remunerado ( pelo Sistema Único de Saúde - SUS ), se não o hospital sozinho não tem condições de bancar, e também há uma demanda por outros equipamentos, medicamentos e, o mais importante, recursos humanos. Não é uma manobra simples abrir um leito de UTI. As pessoas têm de continuar firmes no propósito ( de evitar o contágio ).
Boschi - A gente viu no fim de semana passado aquelas cenas de lugares cheios, praias, parques. Em Florianópolis ( Capital do Estado de SC ) isto levou à reação do prefeito Gean Loureiro ( do partido Democratas - DEM ), que ampliou as restrições. Como o senhor viu estas cenas?

Eu mesmo fui vítima de cenas anguladas que não mostravam a realidade ( cita a repercussão sobre a presença em uma festa junina em um hotel de Gaspar em que estava hospedado ). Não posso pegar a foto de um ângulo e dizer que está ruim. Depois me mostraram outras informações, fotos aéreas, que em algumas circunstâncias que foram apontadas aí em que havia o distanciamento ( fala das imagens do público no Parque Beto Carrero ). Não cheguei a analisar, medir, os órgãos responsáveis têm a liberdade de fiscalizar. Imagens nem sempre representam aquilo que efetivamente a gente vê. Fora isto, aí é o momento de a gente exercer a competência. Penso que uma comunidade inteira não pode ser prejudicada neste momento em que agora temos regras. Trabalhamos diuturnamente para estabelecer regras para cada atividade, procedimentos de segurança. Quem aderiu, entendo que deve continuar funcionando. Quem infringir a regra, seja lá por qualquer razão, deve ser notificado.

Boschi – Podemos entender que o senhor considera que o Loureiro foi rígido demais nesta decisão?

Não quero julgar o ato de Loureiro, tive tantos atos meus julgados. Agi de uma forma e entendo que o momento agora é de intervenções pontuais e do uso da fiscalização. Claro que se uma região apresentar casos muito extremos de taxa de transmissibilidade aumentada, número de óbitos, a intervenção regionalizada para parar a atividade por sete dias, quinze dias, nos dá o achatamento da curva e nos faz a manobra de liberação de leitos de UTI. Temos de trabalhar com números, com dados, com a ciência. É o que fizemos desde o começo. Achar, ter opinião, achar que a decisão é correta, tenho de sentar e ver o caso em concreto para poder me posicionar.

Faraco – Acredita que situações como a da compra dos ventiladores mecânicos, a repercussão da imagem no hotel em Gaspar, esta aparente sede que vem da ALESC em relação ao trabalho do Poder Executivo Estadual ( PEE ) tem desviado o foco do governo na estratégia de combate à Covid-dezenove?

Penso que nosso trabalho na estratégia de combate à Covid-dezenove tem brilho natural, porque os número se apresentam muito bem para SC e organismos externos têm feito esta avaliação colocando o Estado em primeiro lugar na gestão desta crise. Não tira o brilho, temos muito mais notícias boas para falar do governo do que eventualmente algum erro pontual em determinado procedimento. SC vai bem neste quesito. Quando você fala de outros agentes como ALESC, poderes, enfim, esta semana ainda nos reunimos aqui porque todos eles têm interesse na economia, no retorno das atividades econômicas, para fazer um grande gesto. A ideia é criar um fundo garantidor que nos alavanque quiçá um bilhão de reais para injetar no mercado catarinense, com juros justos, para as pessoas se reinventarem. Penso que tudo que acontece hoje em relação aos outros poderes, sempre respeitei todos os chefes e membros dos outros poderes e vou manter este comportamento. Sobre as imagens de Gaspar, foi um caso em que não houve um ângulo adequado. Eu estava com um copo na mão e a máscara no outro. Não era uma festa.

Faraco – O senhor concorda que repercutiu bastante…

Repercutiu, claro. Pedi desculpas aos catarinenses, mas penso: é isto que escolhem para expor? O governo tem notícias muito boas, acho que isto é pequeno, respeitei as normas colocadas para aquele ambiente, estava de máscara e retirei para beber algo. Obviamente que a cena não foi das melhores e por isto me retratei, independente de entrar neste detalhe deste assunto, que é irrelevante, se me sinto injustiçado ou não. Quem está neste lugar em que estou, é o tempo todo uma imagem, uma frase fora de contexto. Não é um lugar fácil de estar.

Boschi – Uma coisa que se percebe no governo é a partir que ele rompe o elo com o bolsonarismo, que tem alguns representantes na ALESC que são do mesmo partido que o senhor, mas lhe fazem oposição, é que a administração não tem torcida, um grupo engajado e disposto a defender as ações. Como fazer para conquistar, mais do que apoio, a torcida?

Esta torcida naturalmente já começa a acontecer. A gente integra vários grupos que trabalharam conosco em várias campanhas e estão de acordo com várias ações do governo. Eles começam a surgir agora. Esta ideia de falar que há uma ala bolsonarista que se afasta do governador, veja, nunca nos afastamos do presidente Jair Bolsonaro. Fora do contexto sai alguma frase que parece estar sendo contra, mas o que o presidente tem feito lá nós também estamos fazendo. O primeiro escalão técnico, competente, nós também colocamos aqui. A maioria do primeiro escalão é de carreira. Infraestrutura, Administração, Fazenda, Sistema prisional. As principais pastas do governo, aquelas gigantes, têm servidores de carreira à frente. O presidente também tem feito isto, colocando técnicos nos ministérios. A gente vê governos muito parecidos neste sentido, de austeridade, boa utilização do dinheiro público. Nossos objetivos são os mesmos. Não há um afastamento. Vejo que alguma ala pode ter feito algum ruído por interpretar equivocadamente algumas ações. Não somos iguais, temos nossas diferenças pontuais, mas os ideais continuam os mesmos.
Boschi – Vai buscar uma reaproximação com o presidente Bolsonaro?

Particularmente nunca estive longe do presidente, sempre o respeitei muito.

Boschi – Mas ele lhe criticou fortemente lá no cercadinho do Alvorada…

Talvez as informações que cheguem ao presidente tenham chegado distorcidas. Ele falava do fechamento do Estado, quando já estávamos abrindo. Penso que uma boa conversa com o presidente, inclusive trazendo-o aqui, pode mostrar a ele que o Estado fez a lição de casa. Acredito que isto em breve pode acontecer.

Faraco – O senhor está disposto a isto?

Sim. Não tenho dúvida. O presidente da República, não só pela liturgia do cargo, mas pelo que ele tem feito. Tenho recebido os ministros aqui. Esta semana, se der certo, talvez receba a ministra Damares ( Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos - MMFDH ), recebi o ministro do Meio Ambiente ( MMA ), Ricardo Salles. Converso com vários ministros diariamente, eles me atendem, quando vou a Brasília-DF sempre sou bem recebido. Respeito muito a agenda do presidente, porque comparo com a minha, que é de governo, pesada também, e só imagino como deve ser a vida de um presidente da República. Então, tem toda minha reverência de não querer ir lá só tirar foto. Quando tenho uma demanda, falo com o presidente.

Faraco – Recentemente?

Este ano também. O presidente não é uma pessoa fechada para SC. Começa a se criar uma imagem de antagonismo de pessoas que nunca foram antagônicas. Isto aconteceu até em relação ao próprio Estado. São questões políticas. As pessoas plantam ideias, plantam comentários e quando você vê isto está incendiado. Cabe a nós usar a inteligência e falar a verdade. Se a expressão é reaproximação, vamos fazê-la, sim.

Faraco – E em relação à ALESC, o senhor avalia que em dois mil e dezenove se fechou muito neste diálogo? Se pudesse voltar atrás teria aberto mais esta relação com os deputados?

Acho que dois mil e dezenove foi muito bem. Talvez eu não tenha a visão do que seria o perfeito neste relacionamento com a ALESC. Para mim, dois mil e dezenove foi bom. Tínhamos uma base, não era uma base grande, mas era suficiente para aprovar nossos projetos. Fazíamos entregas juntos. Depois veio a pandemia e ela nos afastou a todos, inclusive nós e os deputados. Não conseguíamos mais nos reunir, virou uma condição de muito esforço, pressão, tensão. Acho que hoje estamos realinhando, conversando com os deputados. Eles também conhecem o governador, sabem da minha índole. Isto está sensível hoje, mas acho possível realinhar.

Boschi – Antes da pandemia há um momento que para mim é emblemático sobre esta relação e gostaria de saber como o senhor avalia. É o momento em que o então chefe da Casa Civil ( CC ), o advogado Douglas Borba ( do Partido Progressista - PP ), assume também a secretaria-geral do PSL, em janeiro de dois mil e vinte. Os interesses passaram a se confundir e isto teve efeito na base do governo na ALESC. O senhor entende que foi um erro?

É possível que sim. É possível que não fosse ideal um chefe que se relaciona com os deputados, mesmo não havendo pretensão política, pode se começar a imaginar que tenha, por estar relacionado ao partido. A CC sempre foi uma pasta que se relacionou com os agentes políticos, onde normalmente se coloca um político. Hoje, não, o Amandio ( João da Silva Júnior, então chefe ) é um empresário. Vai ter de se relacionar com os políticos, mas não tem interesse político-partidário, provavelmente não se filia a partido algum. Admitir erros? Pode ter sido um erro ( Borba ) estar muito próximo ao partido, pode ter causado estranheza a alguns parlamentares. Mas não acredito que isto tenha afastado a CC dos parlamentares, porque eles sempre foram muito bem atendidos.

Boschi – Existe a possibilidade de vermos um deputado no secretariado do governo Silva?

A possibilidade nunca pode ser rechaçada. Não há planos e não há deputados cotados, pelo menos pelo governo, para exercerem secretarias. Mas havendo a ligação entre capacidade técnica e o parlamentar, não podemos demonizar o político.

Faraco – Mas há um pré-requisito, político e técnico…

Sim, tem de ter esta condição de ser um bom gestor na área em que ele vai atuar. Mas não se cogita hoje, não há nenhum planejamento neste sentido, a gente não conversa sobre este assunto no governo. Tanto que a gente anunciou recentemente mais duas pastas importantes, titular e adjunto, a Junta Comercial do Estado de SC ( JUCESC ) foi substituída também. São pessoas que precisam ter passado pelo setor. É preciso ter alguém talhado para isto.

Faraco – Teremos outras trocas no primeiro escalão?

É possível, não temos nada mapeado de imediato. Estamos ainda enfrentando esta pandemia, a troca de secretariado não é objetivo número um. Se há inadequação, a gente no caminho vai avaliando.

Faraco - Mas têm acontecido trocas…

É natural que o governo faça ajustes.

Boschi – O governo perdeu dois ícones que vinham da campanha eleitoral. Lucas Esmeraldino era o candidato a senador, deixou a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável ( SDE ) para ir para a Secretaria Executiva de Articulação Nacional ( SAN ), e Borba que era assessor e virou chefe da CC. O governo está se reinventando sem eles?

Silva Jr. vai muito bem na CC mesmo sem ter sido político. Esmeraldino, sim, é um político. Esta SAN em Brasília tem este viés de facilitar a vida das prefeituras, receber as pessoas que às vezes não sabem onde ficam as coisas. É um papel que se adequou mais a Esmeraldino, penso que ele está no lugar certo na hora certa.

Faraco – Sobre a compra dos ventiladores mecânicos. Esta semana o processo subiu para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) por citações ao nome do senhor nas conversas. O senhor entende que é um rito normal ou que há exagero?

Não posso fazer juízo de valor até porque o processo subiu justamente pela prerrogativa de foro do governador. A gente se manifesta no processo. Também entendo que é rito. Quem fez este juízo de valor foi o juiz local e o grupo de investigação e a gente tem que aguardar ele ser reiterado ou não.

Boschi – Esta compra mergulhou o governo em uma crise política paralela à crise da pandemia. Um processo que gerou prejuízo ao Estado, uma Comissão Parlamentar de Inquérito ( CPI ) e a saída de dois secretários importantes do governo. O senhor como governador do Estado, olhando para este processo todo, consegue enxergar o que deu errado?

O que aconteceu é objeto de investigação também, inclusive determinada por nós. Assim que tive conhecimento, primeiro com a entrega e depois com o pagamento antecipado. O primeiro problema, com a entrega, nos trazia incerteza de poder equipar nossos hospitais. Aí envolve vidas, o que nos deixou muito preocupados só pelo simples fato de não chegar o equipamento. Depois, o risco da lesão ao erário público. Quando se soube disto depois de duas sindicâncias internas, uma específica para este fato, entendi que era caso de polícia. Chamei o delegado-geral ( DG ) da Polícia Civil do Estado de SC ( PCSC ) Paulo Koerich, acionamos a Polícia Internacional ( INTERPOL ) para seguir este dinheiro. Na sequência, chamamos a Procuradoria-Geral do Estado ( PGE ) que fez o bloqueio de bens através do processo judicial. Temos treze milhões de reais já garantidos para o erário e temos a expectativa de repatriar o dinheiro que foi mandado para a China. Penso que neste caso dos respiradores é isto aí. Se houve erro, as pessoas devem ser responsabilizadas. E o governo não foi omisso. Quando soube tomou medidas adequadas para ressarcimento do erário. Este é o papel de um governador.

Boschi – Os subordinados do senhor não levaram muito tempo para levar este caso ao conhecimento do governador?

Não avalio assim. Porque vários demoraram a saber os detalhes deste processo na cadeia de compra.

Faraco – O senhor ficou sabendo quando?

Dia vinte de abril de dois mil e vinte, se não me falha a memória, dia vinte e um de abril era feriado. Depois dia vinte e do conversei sobre a questão do pagamento adiantado, chamei a polícia no dia vinte e três. E assim foi, as decisões rigorosas foram sendo tomadas. Infelizmente aconteceu, tenho esperança de que vamos recuperar a totalidade destes valores, ou pelo menos a maior parte.

Faraco – Isso o pós. A gente recebe muitos questionamentos dos catarinenses sobre o processo em si de compra. O nome “governador” foi citado por duas pessoas, uma delas está presa. O governador participa do processo de compra, em algum momento conversou com empresários? Qual a participação do governador?

Nenhuma. Absolutamente nenhuma. Governador dá o conceito. Estávamos olhando o mundo sobre como se fazia com a pandemia. Ficamos avaliando, olhando os casos no Brasil e no mundo. Quando se dá o primeiro caso ( de contágio ) comunitário, faz o lockdown. Quando chegou no dia quinze de março, identificamos o primeiro caso comunitário no Sul do Estado. Emitimos o decreto. Tomada esta decisão, o Estado apresentou a contenção dos casos. O que se faz agora? Compra de equipamentos, novos leitos de UTI e leitos de retaguarda. Várias hipóteses, muitas ideias, até que a gente chegou à conclusão de que era muito melhor investirmos nos hospitais próprios e filantrópicos, eventualmente nos privados alugando leitos, do que construir novos hospitais, alugar equipamentos. Tudo que a gente compra, fica para o Estado. Aí fomos à busca. Primeiro movimento, fechar o Estado. Segundo, equipar a rede pública hospitalar. E a gente conseguiu, graças a Deus, nosso trabalho foi exitoso. Não podemos ficar abraçados a um erro pontual. A gestão da Covid-dezenove em SC foi muito boa. No começo ninguém sabia o que fazer, era uma grande interrogação, não existia uma receita de bolo, um caminho “faça isso que vai dar certo”.

Faraco – Mas em relação à compra dos ventiladores mecânicos, alguma participação?

Absolutamente não. A participação do governador foi esta: a tomada de decisão, “nós precisamos fazer isto, vamos comprar ventiladores mecânicos”. Utilizamos empresas privadas que também não conseguiram trazer os ventiladores mecânicos, empresas que se dispuseram gentilmente a fazer a compra.

Boschi – Este é o “momento de desespero” a que o senhor se referiu na live do Lide?

Não houve desespero, estávamos fazendo gestão da crise. Penso que algumas pessoas, talvez com o senso de responsabilidade que pesava sobre elas, devem ter ficado realmente em pânico dizendo “se nós fechamos o Estado para ter tempo de equipar e não conseguimos equipar, fica muito ruim”. Todos correram para buscar a mesma coisa, todos os estados. Os preços subiram, muitas incertezas na entrega, modelos. Com o tempo fomos descobrindo que alguns ventiladores mecânicos não serviam para a Covid-dezenove. Eram fatos novos. Todos se transformaram em especialistas, porque hoje a imprensa fala muito de ventiladores mecânicos. Eram coisas que não estavam no cotidiano.

Boschi – Tem acompanhado a CPI dos ventiladores mecânicos na ALESC? Faz alguma avaliação dela?

Não tenho tempo, a rotina do governador é muito intensa. Não ouço, não acompanho a CPI. Estamos resgatando projetos, estou indo às cidades. O governo não para. Não podemos ficar abraçados à questão dos ventiladores mecânicos, com a questão Covid-dezenove. A gente acredita que devemos resguardar as vidas e fazer com que a nossa economia retome a atividade.

Boschi – Borba, era quase um primeiro-ministro do governo de tantas atribuições que tinha. Não vou pedir para o senhor avaliar se é justo ou não ele estar preso neste momento, mas quero saber se o grau de confiança em Borba hoje é o mesmo que o senhor tinha seis meses atrás.

Não posso avaliar enquanto não há conclusões. Não posso fazer juízo de valor. Todos os que trabalham comigo gozam da minha confiança. Não me cabe neste momento, com processo em andamento, fazer juízo de valor.

Faraco – Esta foi a pior notícia que o senhor recebeu no mandato? Criando aqui um cenário que o senhor pode detalhar, alguém chegou e disse “governador, houve uma compra totalmente errada e há indícios de que o braço-direito esteja envolvido”. Como o senhor recebeu essa notícia?

Esta notícia não chegou desta forma. Trabalhamos arduamente para recuperar os valores e esclarecer os fatos. Ao final, as teses foram sendo corroboradas pela Justiça. Ou atendidas, pelo menos as teses. E, repito, não cabe ao governador fazer juízo de valor. É um momento triste. Como recebi? Recebi com extrema tristeza, desde o momento da compra e dos atos que se seguiram nestas situações de investigação.

Boschi – Há pedidos de impeachment contra o senhor na ALESC, em análise na procuradoria da instituição. Eles lhe tiram o sono?

Não, a única coisa no governo que tirou meu sono foi quando tivemos de fechar o Estado. Sempre dormi muito bem. Até dezessete de março, dormi muito bem enquanto governador. Tirar as pessoas das atividades, os setores de operarem. Depois ter de rapidamente criar regras para que a vida fosse preservada em primeiro lugar, mas também a atividade econômica, os empregos, a renda das pessoas. Isto tudo me tirou o sono porque demandou um esforço muito grande tanto para preparar nosso Estado para esta demanda por leitos por UTI, quanto conciliar a preservação da vida e da economia. Não tenho tempo para me preocupar com as coisas que já tem gente trabalhando para isto. Temos órgãos de controle, os órgãos que fiscalizam, que processam. O governador não deve se envolver. Tenho de cuidar dos catarinenses. Foi o que fiz a vida inteira, cuidar de gente, cuidar das pessoas. Esta é a minha história. A minha história na corporação, além de passar a vida inteira de forma íntegra, me fez saber o compromisso que tinha com o serviço público. Prestei relevantes serviços ao Corpo de Bombeiros ( CB ) e hoje continuo cuidando de pessoas. Eu me sinto em um lugar muito confortável, apesar de estar muito cansado e ter tido muito trabalho nos últimos meses.

Faraco – Que mensagem o senhor manda ao povo de SC? O senhor acredita que a confiança deste povo segue a mesma do começo de dois mil e dezenove?

Tenho certeza de que o governo goza da confiança dos catarinenses. Eu era um desconhecido. Fomos eleitos, como se costuma dizer, na onda Bolsonaro, não tenho a menor dúvida que influenciou esta eleição. Defendemos o presidente durante a eleição em todos os tempos, nos debates, e juntos tivemos uma eleição vitoriosa. O presidente com cinquenta e quatro por cento dos votos no Brasil e nós aqui com setenta e um por cento dos votos no Estado de SC. Estes setenta e um por cento dos catarinenses confiam no governador, mas vou dizer: cem por cento dos catarinenses hoje confiam no governador. Estes setenta e um por cento votaram muito sem conhecer, talvez em Tubarão, aqui em Florianópolis, mas muita gente no Estado não me conhecia, fez uma escolha e tem o resultado hoje da nossa gestão. O meu compromisso com o povo catarinense de fazer uma gestão técnica, que foi o que o presidente Jair Bolsonaro prometeu e fez. E isto também aconteceu aqui no Estado de SC, com uma gestão técnica, sem indicações políticas. No primeiro ano organizamos o Estado, tiramos de um déficit de um bilhão e meio de reais para um superávit de cento e sessenta e seis milhões de reais. Os catarinenses não vão acreditar no que ouvem, mas no que efetivamente acontece. Eles estão sentindo a diferença, onde vou em SC as pessoas dizem “isto nunca aconteceu e está acontecendo”.

Com informações de:

Upiara Boschi do jornal Diário Catarinense ( DC ) e Raphael Faraco do telejornal Bom Dia SC ( BDSC ) da NSCTV ( afiliada da Rede Globo de Televisão - RGTV ) .

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