sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Inflação: índice muda de temporária para persistente no governo Bolsonaro

Guardião da política monetária, o Banco Central refez seu diagnóstico sobre a inflação, de “temporária” para “persistente”. Por isso, o Comitê de Política Monetária (Copom) da instituição elevou a Selic (taxa básica de juros) pela quarta vez seguida, de 4,25% para 5,25% ao ano. O órgão já sinalizou um novo e equivalente aumento na próxima reunião, em setembro. O resultado é o aumento do desemprego e da fome no país.

Mais sofrimento para pobres, classe média e pequenos negócios e lucros para os rentistas


“Os últimos indicadores (de inflação) divulgados mostram composição mais desfavorável. Destacam-se a surpresa com o componente subjacente da inflação de serviços e a continuidade da pressão sobre bens industriais, causando elevação dos núcleos”, afirmou o órgão em nota, nesta quarta-feira (4).

“Além disso, há novas pressões em componentes voláteis, como a possível elevação do adicional da bandeira tarifária e os novos aumentos nos preços de alimentos, ambos decorrentes de condições climáticas adversas. Em conjunto, esses fatores acarretam revisão significativa das projeções de curto prazo”, justificou o Copom, citando o “risco fiscal elevado” e a “sustentabilidade das contas públicas”.

Com a mudança de diagnóstico, o órgão determinou que a necessidade agora é de uma taxa básica de juros acima do patamar neutro. Em junho, quando se reuniu pela última vez, a orientação era que o processo de ajustes na Selic mirasse a normalização da taxa de juros para a neutralidade.

O “mercado” já sabia da mudança, segundo uma pesquisa da agência Reuters. Dos 46 economistas ouvidos, 37 estimavam elevação na Selic em 1 pp. Os nove restantes previam alta de 0,75 ponto.

Até a decisão do Copom, a avaliação no mercado era de que os juros básicos fechariam o ano entre 7% e 8%, conforme o Boletim Focus mais recente. Agora, muitos analistas já revisam as contas para cima.

Sofrem os mais pobres e pequenos negócios, lucram os rentistas


Desde o segundo semestre do ano passado, a alta dos valores de commodities como carnes, soja e milho no mercado internacional eleva os preços dos alimentos no mercado interno. As tarifas dos combustíveis e de energia elétrica também influenciam o avanço do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que nos 12 meses até junho subiu 8,35%. O impacto sobre a economia popular cresce a cada indicador. O endividamentos das famílias é recorde.

Na economia neoliberal, a manutenção dos juros em patamares mais altos é estratégia preferencial de controle inflacionário. No entanto, taxas elevadas significam custos maiores para a tomada de crédito. Mais de um ano após a eclosão da pandemia, essa ainda é a principal preocupação dos donos de pequenos negócios pelo país. A administração Guedes é carrasca dos pequenos negócios.

Mesmo na nova rodada do Programa Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Pronampe), enquanto o desgoverno Bolsonaro pretende atender até 325 mil empresas, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) estima que cerca de 5 milhões de MPEs se qualificam para pegar empréstimos de até R$ 150 mil.

“Empreendedores reclamam muito de juros abusivos, burocracia e documentos para comprovar fluxo de caixa. Muitas vezes eles não têm esses documentos, precisam pagar para obter e mesmo assim não sabem se terão o crédito aprovado”, explicou à CNN Fabio Takara, CEO da Firgun, fintech social que atende microempreendedores.

Outro entrave para obtenção do crédito é o momento que os empreendedores buscam o recurso. “Eles tendem a buscar crédito quando estão com muitas dificuldades financeiras, eventualmente negativados, operando com prejuízo, sem uma boa gestão”, afirma Felipe Chiconato, consultor do Sebrae-SP.

Por outro lado, os mesmos juros que encarecem o crédito são os que engordam os rendimentos dos investidores. Esse aumento da taxa Selic, estima a entidade Auditoria Cidadã da Dívida, vai gerar um crescimento inicial direto e imediato de R$ 25 bilhões anuais no pagamento de juros da dívida, considerando que atualmente existem R$ 2,518 trilhões de títulos da dívida pública indexados à Selic.

A organização defende que o aumento do custo da dívida pública federal beneficia principalmente grandes bancos e investidores, que têm pressionado o Banco Central a elevar a Selic.

“A velha justificativa para este constante aumento de juros seria o ‘combate à inflação’, de acordo com a suposta ideia de que os preços estariam subindo devido a um excesso de demanda. Porém, a inflação existente no Brasil decorre principalmente da alta de preços administrados pelo próprio governo (energia elétrica, combustíveis etc.) e de preços de alimentos, devido à demanda do mercado internacional e impactos da desvalorização cambial”, analisa a entidade em nota. “Ou seja, aumentar juros não combate as principais causas da inflação no Brasil, e pode até aumentá-la, pois os juros podem ser um dos componentes do custo em inúmeros casos.”

Com informações de pt.org.br .

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