sexta-feira, 26 de julho de 2019

Desenvolvimento: a convivência com o que há de errado e precário na economia

Ninguém, nos dias de hoje, fala de m milagre alemão, muito menos os próprios alemães. Não existem livros best-sellers sobre administração ao estilo alemão nem seminários do tipo "o que podemos aprender com os alemães?". Ainda assim, o desempenho econômico da Alemanha nestes últimos anos é tão impressionante quanto o do Japão - e mais sólido.

Há alguns décadas, a Alemanha produzia treze por cento de todos os bens industriais do comércio internacional e sua participação, já em um mercado expandido, em mil novecentos e oitenta e cinco, subiu para dezessete por cento. O país ainda está atrás dos Estados Unidos da América ( EUA ) - cuja participação é de vinte por cento. Mas a Alemanha está substancialmente à frente dos dezesseis por cento de participação do Japão. No entanto, a Alemanha não tem mais do que um quarto da população americana e apenas metade da do Japão. As importações industriais per capita do país são, portanto, quase o quádruplo das dos EUA e o dobro das do Japão.

E a Alemanha está bem mais equilibrada do que o Japão - que quase tem apenas um cliente dominante, os EUA, responsáveis por quase do total das principais exportações industriais do país. Diferentemente de praticamente todos os grandes exportadores japoneses, pesadamente dependentes dos clientes americanos, há apenas uma empresa na Alemanha, em bem pequena, a Porsche, que vende mais da metade de sua produção para os EUA. Nenhuma outra empresa do país exporta mais de dez por cento ou doze por cento de sua produção para o mercado americano. Um dólar agudamente desvalorizado representa uma dor de cabeça para boa parte das empresas alemãs, mas é uma calamidade para os fabricantes japoneses. No geral, não há u único cliente estrangeiro tão dominante que torne a Alemanha sua dependente.

é claro que existem problemas, alguns bem sérios. O desemprego, de nove por cento ( pode ser que este número esteja um pouco desatualizado quando este texto for lido ), embora em queda e mais baixo do que o da maioria dos países industriais da Europa, ainda é alto para os padrões da Alemanha. Entretanto, boa parte disto resulta, provavelmente, da demografia e se autocorrigirá. O baby boom alemão não arrefeceu a´te o final dos anos sessenta, isto é, seus ou sete anos após ter ocorrido nos EUA e mais de dez anos após o Japão. O resultado foi que grupos etários enormes estavam entrando no mercado de trabalho alemão até meados dos anos oitenta. Esta onda, contudo, já está passando e diminui rapidamente. Dentro de poucos anos, é provável que haja uma carência de jovens entrando na força de trabalho, o que leva a uma queda correspondente do desemprego.

Outro ponto delicado é a alta tecnologia. Até o momento, a Alemanha é uma séria concorrente apenas no setor de biotecnologia. ela está bem para trás em computadores, microeletrônica e telecomunicações. E, se o programa de capital e risco, patrocinado pelo governo, para novas empresas de alta tecnologia surtirá resultados, ainda será visto. Até o momento, o esforço alemão está concentrado, principalmente, em indústria mecânica de ponta ( por exemplo, bombas resistentes à corrosão ou a altas temperaturas; ou estufas automáticas ), e não em alta tecnologia.

A maior ameaça poderá ser os custos de mão de obra. A Alemanha está bem atrás tanto dos EUA quanto do Japão em automação de fábricas. Mas, embora os sindicatos alemães tivessem consciência da dependência do país em custos de mão de obra competitivos e tenham sido cometidos em sua demanda salarial, no momento que a atividade econômica estava se desacelerando, existissem crescentes sinais de que haveria pressão por aumento e fortes manifestações sindicais. Isto não poderia acontecer em um ano pior que o de mil novecentos e oitenta e seis, quando a então moeda alemã ( o marco ), estava se valorizando rapidamente frente ao dólar e, portanto, afetava diretamente os lucros das exportações e a posição competitiva do país. Se a economia germânica parasse em mio novecentos e oitenta e sete ou  em mil novecentos e oitenta e oito, teria sido, em grande parte, por conta dos custos de mão de obra, que a tornariam competitiva.

Apesar disto, as conquistas da Alemanha são suficientemente significativas para exigir maior atenção do que usualmente atrai. O que explica isto?

Existem, certamente, alguns fatores culturais. O principal deles é, provavelmente, o peculiar sistema alemão de treinamento de iniciantes, datado de cento e noventa anos. Jovens aprendizes que ingressam na força de trabalho passam três dias por semana no trabalho e dois e meio a três na escola durante aproximadamente dois anos. Assim, estas pessoas passam, simultaneamente, por experiência prática e por aprendizado teórico, tornando-se trabalhadores qualificados e técnicos treinados. E eles podem aplicar o que aprenderam na escola na manhã de sábado, em seu trabalho na segunda-feira pela manhã, e executar, na prática, na quarta-feira, a teoria que será explicada na aula do dia seguinte. Esta é, em grande parte, a explicação para o sucesso do país em aumentar a produtividade consistentemente: cria-se não só a atitude certa, mas também o fundamento teórico. Ficam abertas as portas também para a receptividade à mudança, exatamente da mesma forma que os círculos da qualidade funcionam no Japão,ou até melhor.

Entretanto, há também as políticas de governo. Os EUA têm louvado a economia da oferta ( supply-side economics ), embora venha praticando principalmente o keynesianismo nestes últimos anos. O governo alemão não faz muita louvação, mas pratica a economia da oferta pura, embora com grande moderação. O imposto sobre a renda de qualquer natureza ( IR ) sofreu cortes, em mil novecentos e oitenta e cinco, de oito bilhões de dólares - o equivalente nos EUA seria quase quatro vezes este valor. O governo naquele momento estava contemplando cortes ainda maiores para mil novecentos e oitenta e seis e mil novecentos e oitenta e sete. Talvez uma preparação para a reunificação que ocorreria em mil novecentos e noventa. Diversas empresas estatais foram, na prática, privatizadas, embora a extrema direita tenha vetado esta medida na maior delas, a estatal Lufhansa. Uma plêiade de regulações foi abolida ou abandada. Mercados de capital foram desregulados para permitir o acesso de pequenas e médias empresas ao mercado primário de ações, antes virtualmente fechado para elas.

Mas o verdadeiro segredo dos alemães provavelmente não é quem cultura nem governo e, sim, política de negócios. As gerências de primeira linha das empresas - com o apoio do governo e da opinião pública - tornaram a manutenção da posição competitiva de suas empresas e a prioridade número um e o principal objetivo de seu planejamento. Para quase todas elas, o mercado interno ainda é o maior cliente, assim como ocorre, é claro, com a maioria das empresas nos EUA e no Japão. Apesar disto, ao tomar uma decisão, as altas gerências alemãs, mesmo de empresas relativamente pequenas, provavelmente perguntarão em primeiro lugar: será que isto nos fortalecerá, ou enfraquecerá nos mercados mundias? estas são também as primeiras perguntas que um banqueiro alemão provavelmente fará ao analisar o financiamento de uma empresa. é também o principal argumento da direção das empresas, pelo qual, pelo menos até o momento, os sindicados demonstram interesse.

Os alemães gostam de acentuar o aspecto negativo; eles tendem a conviver com tudo que existe de errado ou precário na economia. Mas talvez faça sentido para quem está do lado de fora perguntar: Será que existe algo que seria possível aprender com as conquistas germânicas? Outras informações podem ser obtidas no livro As fronteiras da administração, de autoria de Peter F. Drucker.

Mais em:

https://administradores.com.br/artigos/desenvolvimento-a-conviv%C3%AAncia-com-o-que-h%C3%A1-de-errado-e-prec%C3%A1rio-na-economia e

http://starton.top/2019/09/12/desenvolvimento-a-convivencia-com-o-que-ha-de-errado-e-precario-na-economia/ .

Nenhum comentário:

Postar um comentário