quarta-feira, 24 de julho de 2019

Protecionismo: ao contrário das intenções, cria desemprego e declina a indústria

Os japoneses não queriam acreditar em Peter F. Drucker quando este lhes afirmou, em mil novecentos e oitenta e dois, que o presidente dos Estados Unidos da América ( EUA ), à época, o ator Ronald Reagan, efetuaria cortes no fornecimento de equipamentos americanos para a construção do gasoduto Sibéria-Europa Ocidental. "Isto iria tirar a liderança da Caterpillar e dos EUA so setor de equipamentos de movimentação de terra e entregá-la, de mão beijada, para a Komatsu e para nós, japoneses! mas, na indústria pesada, a de equipamentos de movimentação de terra é a única com potencial de crescimento no longo prazo. nenhum governo tomaria uma decisão assim!". Vários dos supereducados japoneses quase o chamaram Drucker de mentiroso quando ele lhes disse que i impacto na posição competitiva de uma das principais indústrias pesadas dos EUA não seria nem levado em conta pelo governo ao tomar esta decisão. Não foi - nem poderia ter sido - , considerando a tradição política americana.

De forma semelhante, o impacto na posição competitiva dos bens manufaturados americanos nem foi discutido, em mil novecentos e oitenta e um, quando se tomou a decisão de combater a inflação basicamente mediante o aumento das taxas de juros, embora isto significasse elevar o valor internacional do dólar e colocar o preço dos bens americanos fora do mercado mundial.

Durante cento e noventa anos, desde o governo Andrew Jackson, na política americana, o pressuposto é de que a posição competitiva dos produtos manufaturados em mercados de exportação não é uma preocupação legítima do legislador.

É verdade que há uma longa tradição de proteger o mercado interno. Apesar de toda a retórica de livre mercado, o protecionismo é tão americano quanto a torta de maçã. E, pelo menos desde a Guerra Civil, a posição competitiva dos produtos agrícolas americanos dos mercados mundiais tem sido uma das principais preocupações dos políticos.

No entanto, há muito considera-se impróprio levar em conta o impacto das políticas públicas de governo nas exportações de manufaturados. Apenas um único presidente nestes últimos cento e noventa anos teve uma opinião diferente: Herbert Hoover. Para todos os demais, até mesmo aqueles mais pró-empresas, a preocupação com exportações dos políticos.

No entanto, há muito considera-se impróprio levar em conta o impacto das políticas de governo nas exportações de manufaturados era um tabu. Isto significava cuidar dos lucros dos homens de negócios gananciosos.

Por muito tempo, isto não causou qualquer problema. As exportações de manufaturados eram, na melhor das hipóteses, de importância marginal, representando não mais que cinco a oito por cento da produção - e menos ainda nas principais indústrias. Mas isto mudou significativamente nos anos sessenta. Os políticos e economistas ainda repreendem severamente as manufaturas americanas por sua negligência em relação aos mercados de exportações e, em inúmeros artigos publicados, imploram para que a indústria aprenda a vender no exterior. Entretanto, a indústria americana de manufaturados agora exporta uma proporção mais de duas vezes superior à sua produção do que o Japão. Efetivamente, o percentual exportado da produção industrial total dos EUA supera aquele de qualquer grande país industrializado, exceto a Alemanha.

Isto decorre, em parte, do multinacionalismo americano. As subsidiárias e coligadas das empreas americanas, longe de subtraírem empregos nos EUA, são as melhores clientes da indústria de produtos manufaturados que atuam no mercado interno. Boa parte da grande expansão das exportações de manufaturados americanos resulta, no entanto, de uma mudança muito real de atitude e de competência das empresas americanas, especialmente daquelas de médio e pequeno porte, de alta tecnologia. Em consequência, as exportações de bens manufaturados representaram, em mil novecentos e oitenta e dois, um em cada cinco empregos nas fábricas americanas.

Entretanto, este não foi um bom ano para o exportador, em parte por conta da recessão mundial da época, mas a razão principal foi a sobrevalorização do dólar. Fred Bergsten, ex-subsecretário do Tesouro dos EUA para a economia internacional e por muito tempo consultor de empresas privadas, reconhece que o dólar dez por cento mais barato teria elevado o nível das exportações americanas a um nível vinte e cinco por cento maior do que àquela época. As exportações teriam atingido quase um quarto de uma produção de manufaturados muito mais alta. Segundo o Sr. Bersten, o dólar sobrevalorizado custou mais empregos americanos na indústria manufatureira e criou mais desemprego do que as crises nas indústrias do aço e automobilística somadas. O mercado mundial ainda significa mais para o fazendeiro americano do que para o trabalhador da indústria: dois quintos ou quarenta por cento das vendas de produtos agrícolas contra um quarto ( vinte e cinco por cento ) ou um quinto ( vinte por cento ) das vendas de bens manufaturados. Mas, ainda em um ano ruim de vendas para a exportação, como mil novecentos e oitenta e dois, o mercado mundial era o maior cliente da força de trabalho industrial americana.

Nestas condições, não mais se justifica a tradicional separação entre política interna americana e preocupação com a posição competitiva do país nos mercados exportadores para bens manufaturados.

Existem três maneiras de se aumentar a percepção de importância do comércio exterior o processo de elaboração de políticas. A primeira - que poderia ser chamada de opção internacionalista - consiste em assegurar que o impacto de qualquer decisão seja cuidadosamente considerado. Isto é, essencialmente, o que os alemães fazem e, hoje, eles podem ser considerados os que mais se aproximam de praticar o verdadeiro livre-comércio de bens industriais. Uma das principais atribuições do ministro da Economia alemão é desenvolver um documento descrevendo as consequências para o comércio exterior das propostas de políticas governamentais. isto não garante, é claro, que todas as outras considerações se subordinem a esta. Peter F. Drucker chegou a cogitar a supor, por exemplo, que a administração Reagan teria seguido em frente tanto com sua estratégia de elevação das taxas de juros quanto com a de proibir o fornecimento de suprimentos para o gasoduto siberiano, ainda se tivesse considerado uma avaliação de impacto em ambos os casos. Mas, pelo menos, a posição internacionalista asseguraria que a competitividade internacional não seria sacrificada, ou prejudicada irreversivelmente e por falta de alternativas.

A segunda maneira de amentar a percepção de importância do fortalecimento competitivo na elaboração de políticas de governo poderia ser denominada posição nacionalista, segundo a qual uma decisão política não deveria enfraquecer a competitividade do mercado mundial. Pelo contrário, sempre que possível, deveria fortalecê-la. Esta é, essencialmente, a linha que o General Charles De Gaulle assumiu quando governou a França. Como todos os seguidores da realpolitik, de Richelieu a Henry Kissinger, o general não atribuiu alta prioridade à economia. Dinheiro, sempre acreditou um seguidor da realpolitik, nasce no cano de uma arma. Ainda assim, em cada grande decisão, De Gaulle cuidadosamente procurava a solução que reforçasse a posição competitiva da França na economia mundial - ou que pelo menos não prejudicasse o país.

A terceira maneira é a posição mercantilista, segundo a qual fortalecer a posição competitiva da indústria manufatureira de um país é a principal prioridade na elaboração das políticas públicas de um país às quais todas as outras considerações normalmente deverão subordinar-se. Os sucessores conservadores de De Gaulle, Pompidou e Giscard D'Estaign compartilhavam esta visão: era a posição tradicional da França desde o século dezessete. Mas os verdadeiros profissionais, hoje, são os japoneses.

Estas posições, claramente, se sobrepõem. Nenhum país, até hoje, seguiu uma destas tr~es opções de forma exclusiva. Além disto, nenhuma delas é igualmente viável para todos os países e qualquer momento. A posição mercantilista, por exemplo, é quase incompatível com as ambições dos grandes poderes, razão pela qual De Gaulle, com todo respeito pelas tradições francesas, não a assumiu. Apenas a primeira posição, a internacionalista, se encaixa facilmente na economia de livre-mercado e se mostra adequada às necessidades e realidades políticas dos EUA. Ainda esta opão representaria uma quebra radical em relação à política tradicional. Seria necessário haver mudanças substanciais no processo de elaboração de políticas e em acordos institucionais, como os comitês do Congresso Nacional ( CN ) dos EUA.

Contudo, é preciso ter a consciência de que salvaguardar o poder competitivo é uma preocupação legítima dos legisladores que necessita ser incorporada ao processo de elaboração de políticas governamentais. Como um quarto ( vinte e cinco por cento ) ou um quinto ( vinte por cento ) de toda a força de trabalho da indústria dependente da exportação de bens manufaturados para sua sobrevivência, o protecionismo deixa de cumprir sua função. Passa apenas a agravar o declínio industrial e cria desemprego. Mas, se um grande país, como os EUA, perder a força competitiva no mercado mundial, é quase certo que se torne crescentemente protecionista, por mais contraprodutivo que isto possa ser. Já é chegada a hora de abandonarem hábitos, retóricas e tradições de cento e noventa anos atrás para aumentar a percepção de importância da posição competitiva nos mercados de bens manufaturados e incorporá-la à elaboração de políticas de governo. Outras informações podem ser obtidas no livro As fronteiras da administração, de autoria de Peter F. Drucker.

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