quarta-feira, 17 de julho de 2019

Economia internacional: a competitividade do país e a ação do Estado

A terceira grande mudança ( * vide nova de rodapé ) é o surgimento da economia de símbolos ( os movimentos de capital ), moeda estrangeira e fluxo de crédito ) como o leme da economia mundial, no lugar da economia real ( o fluxo de bens e serviços ), sendo a primeira, em grande parte, independente da segunda. esta mudança é a mais visível, porém a menos compreendida.

o comércio mundial de bens é maior, muito maior, hoje do que jamais foi. O mesmo pode ser dito do comércio invisível, o de serviços. Juntos, os dois somam cerca de dois vírgula cinco a três trilhões de dólares por ano. Entretanto, o mercado de eurodólar de Londres, onde as instituições financeiras do mundo concedem e adquirem empréstimos entre si, gira trezentos bilhões de dólares por dia de operação, ou setenta e cinco trilhões de dólares por ano ( estes números podem ter sofrido atualização depois de apurados ). Isto é pelo mesmo vinte e cinco vezes o volume do comércio mundial.

Além disto, existem as transações ( em sua maior parte, separadas ) de moeda estrangeira nos principais centros monetários do mundo, em que uma moeda é trocada por outra ( por exemplo, dólares americanos por ienes japoneses ). Estas somam cerca de cento e cinquenta bilhões de dólares por dia, ou cerca de  trinta e cinco trilhões de dólares por ano: equivalente a doze vezes o comércio mundial de bens e serviços.

Não importa quanto destes eurodólares, ienes ou francos suíços estejam sendo transferidos de um bolso para o outro e, desta forma, estejam sendo somados mais de uma vez. Existe apenas uma única explicação para a discrepância entre o volume de dinheiro que circula no mundo e aquele que transita no comércio de bens e serviços: movimentações de capital não conectadas ao comércio - e, em boa parte, independentes dele - são muito maiores que o financiamento do comércio.

Não existe ma explicação única para esta explosão dos fluxos monetários internacionais ( ou, talvez com mais precisão, transnacionais ). A mudança das taxas de câmbio de fixas para flutuantes, em mil novecentos e setenta e um, pode ter sido a causadora do ímpeto inicial ( embora, ironicamente, a intenção fosse exatamente oposta ). Isto provocou uma especulação com moedas. A eclosão dos fluxos de fundos líquidos para os produtores de petróleo do Oriente Médio, depois dos dois choques do petróleo, de mil novecentos e setenta e três e mil novecentos e setenta e nove, foi, com certeza, um dos principais fatores. Mas não há dúvida de que o déficit do governo americano também desempenha papel central, atraindo fundos líquidos de todas as partes do mundo para o Buraco Negro em que o orçamento americano se transformou e que, em consequência, tornou os Estados Unidos da América ( EUA ) o maior país devedor do mundo. Este tema á abordado convincentemente por Stephen Marris. Ele foi conselheiro econômico por quase trinta anos da organização para a Cooperação e o Desenvolvmento Econômico ( OCDE ). Em mil novecentos e oitenta e cinco ele discorreu sobre este tema no texto Déficits e o dólar: a economia mundial em risco. trata-se de umap publicação do Instituto de Economia Internacional ( IEI ). com efeito, é possível argumentar que é o déficit do orçamento que está por trás do déficit americanos de comércio e pagamentos, que nada mais é que um empréstimo do vendedor de bens e serviços ao comprador, os EUA ( uma espécie de investimento em contas a receber ). Sem isto, o governo não teria como financia seu déficit orçamentário - ou, pelo menos, não sem o risco de uma inflação explosiva.

De modo geral, o grau de aprendizado do uso da economia internacional pelos grandes países para evitar atacar desagradáveis problemas domésticos não tem precedentes. Os EUA, por exemplo, usam altas taxas de juros para atrair capital estrangeiro e, assim, deixam de enfrentar seu déficit interno; o Japão aumenta ao máximo suas exportações para manter empregos, apesar de uma economia nacional inerte. E esta politização da economia internacional é, certamente, também um fator relevante na extrema volatilidade e instabilidade dos fluxos de capital e das taxas de cãmbio.

Quaisquer que sejam as causas, tudo isto produziu uma mudança básica. Na economia mundial, a economia real, de bens e serviços, e a economia de símbolos, do dinheiro, crédito e capital, não estão mais umbilicalmente ligadas. Na verdade, estão se movendo cada vez mais em direções opostas.

A teoria econômica internacional tradicional ainda é neoclássica e se baseia no fato de que o comércio de bens e serviços determina os fluxos internacionais de capital e as taxas de câmbio de moedas estrangeiras que, no entanto, entre mil novecentos e setenta e mil novecentos e oitenta e seis se movimentaram de forma bem independente do comércio internacional, sendo que, em algumas ocasiões ( por exemplo, na alta do dólar ocorrido entre mil novecentos e oitenta e quatro e mil novecentos e oitenta e cinco ), em direção oposta.

Entretanto, a economia mundial tampouco se encaixa no modelo keynesiano, em que a economia de símbolos determina a economia real. E as relações entre as turbulências das economias internacional e nacional se tornaram um tanto obscuras. Apesar de seu déficit comercial até então inédito, os EUA, por exemplo, não tiveram deflação e, a duras penas, mantiveram na época a inflação sob controle. Além disto, conseguiram ter, ao lado do Japão, a menor taxa de desemprego entre as principais potências industriais. Sua taxa chegou a ser menor, por exemplo, do que a da então Alemanha ocidental, cujas exportações de bens manufaturados e superávits comerciais cresciam tão rapidamente quanto os do Japão. Da mesma forma, apesar do crescimento exponencial das exportações e de um até então inédito superávit comercial, a economia interna japonesa não estava crescendo no mesmo ritmo, tendo se mantido notavelmente inerte, sem gerar quaisquer novos postos de trabalho.

E qual será o provável resultado disto? Os economistas partem do pressuposto de que as duas economias, a real e a de símbolos, deverão convergir novamente. Contudo, eles discordam - e com veemência - quanto ao aspecto de este movimento ser um pouso suave ou um choque frontal.

No cenário do pouso suave - com o qual o então governo do ator Ronald Reagan estava comprometido, assim como os governos da maioria dos países desenvolvidos - , a expectativa era de que tanto o déficit do governo americano quanto o déficit comercial do país diminuíram de forma conjunta até que ambos se transformaram em superávit - ou, pelo menos, se equilibraram - até o começo da década de noventa. Então, os fluxos de capital e as taxas de câmbio se estabilizaram, com a produção e o emprego em alta e a inflação baixa na maior parte dos países desenvolvidos.

Em agudo contraste com isto, houve o cenário de pouso forçado, em que, a cada ano de déficit, a inadimplência do governo dos EUA, o que, por sua vez, fez o déficit continuar aumentando. Mas cedo ou mais tarde, segundo esta lógica, isto minaria a confiança dos investidores estrangeiros nos EUA e no dólar americano. Alguns experts já consideravam à época esta hipótese iminente. Então, os estrangeiros, segundo a previsão, deixariam de emprestar dinheiro para os EUA e tentariam converter seus dólares em outras moedas. O adeus ao dólar resultante levaria as taxas de câmbio da moeda para o chão, criando também um arrocho de crédito e, talvez, uma crise de liquidez nos EUA. A única dúvida era se isto levaria o país a uma depressão inflacionária, a um renovado e severo surto inflacionário ou - a consequência mais temida - a uma estagflação, isto é, a uma economia deflacionada e estagnada com a moeda inflacionada.

Existia, no entanto, um cenário de pouso forçado totalmente distinto, segundo o qual era o Japão, e não os EUA, que se defrontava com uma aterrissagem difícil - muito difícil. Pela primeira vez na história até então, em tempos de paz, a dívida externa do principal devedor, os EUA, era em sua própria moeda. Para pagar a dívida, o país não necessitava repudiá-la, negociar sua rolagem ou declarar moratória. tudo o que precisaria fazer seria desvalorizar sua moeda, e o credor estrangeiro, na prática, sofreria ma expropriação.

Como credor estrangeiro, leia-se o Japão. O país, à época, tinha cerca de metade dos dólares que os EUA deviam no exterior. Além disto, praticamente todos os seus créditos no exterior também eram em dólares, principalmente porque, até aquele momento, os japoneses resistiram a todas as tentativas de transformar o iene em uma moeda de comércio internacional, já que o governo temia perder o controle sobre ela. Em conjunto, os bancos japoneses detinham à época mais ativos internacionais do que os bancos de qualquer outro país, incluindo os EUA. E praticamente todos estes ativos estavam em dólares americanos - seiscentos e quarenta bilhões. Uma desvalorização do dólar, portanto, traria consequências drásticas para o Japão, que sofreria imediata expropriação.

Além disto, os japoneses poderiam ser as principais vítimas de um pouso forçado em seu comércio exterior e economia interna. A maioria absoluta das exportações do japão ia para os EUA. Se houvesse um pouso forçado, os americanos poderiam ter se tornado protecionistas quase da noite para o dia, uma vez que era improvável que o país permitisse a entrada de gigantescas quantidades de produtos importados caso o nível de desemprego disparasse. Isto causaria desemprego imediato em Tóquio, Nagoia e Hiroshima e poderia efetivamente ter dado início a uma grande depressão no país.

Havia ainda outro cenário de pouso forçado. Nele, nem os EUA nem o Japão - tampouco os demais países industrializados - sofreriam um pouso forçado e, sim, os produtores de matéria-prima que já enfrentavam uma depressão. Praticamente todas as matérias-primas eram negociadas em dólar e seus preços não aumentariam se a amoeda americana fosse desvalorizada. Elas já haviam experimentado uma queda de preços de trinta por cento, entre junho de mil novecentos e oitenta e cinco e janeiro de mil novecentos e oitenta e seis. O Japão, portanto, poderia praticamente não ser afetado por uma desvalorização do dólar. Afinal, o país só precisava e seus dólares excedentes para pagar pelas importações de matérias-primas, uma vez que comprava muito pouco de outras coisas no mercado internacional e não tinha dívida externa. Os EUA, igualmente, talvez nem teriam sofrido e poderiam até ter se beneficiado à medida que as exportações industriais do país iam se tornando mais competitivas. Mas, enquanto os produtores de matérias-primas vendiam, principalmente em dólares, precisavam pagar na moeda de outras nações desenvolvidas por uma boa parte de sua importação de produtos industrializados. os EUA, afinal, embora fosse o maio exportador do mundo de bens industriais à época, ainda eram responsáveis por apenas um quinto ou vinte por cento dos bens industrializados dos mercados mundiais. Quatro quintos ou oitenta por cento eram fornecidos por outros - Alemanha, Japão, França, Grã-Bretanha e assim por diante. Seus preços em dólares americanos provavelmente aumentariam pelas previsões da época. Então, isto poderia ter trazido maior deterioração em termos de comércio dos produtores de matérias-primas já em depressão. Algumas estimativas da possível diminuição chegavam a dez por cento, o que provocaria grande dificuldade para as mineradoras da América do Sul e Rodésia e para os agricultores do Canadá, Kansas e Brasil.

Contudo, existia ainda mais um cenário possível. E não envolvia aterrissagens, nem suaves nem forçadas. E, se os economistas estivessem errados e tanto o déficit de orçamento quanto o déficit comercial dos EUA pudessem seguir indefinidamente, embora, talvez, em níveis mais baixos do que os ocorridos naqueles anos? Isto poderia acontecer se o desejo do mundo exterior de colocar seu dinheiro nos EUA tivesse por base outras considerações que não puramente econômicas - suas próprias políticas internas, por exemplo, ou para escapar dos riscos políticos domésticos, que pareciam ser bem piores, à época, que uma desvalorização do dólar.

Na verdade, este era o único cenário até aquele momento suportado por fatos reais, e não por teorias. Na verdade, já estava em curso.

O governo dos EUA forçou a desvalorização de sua moeda em trinta por cento ( de uma taxa de duzentos e cinquenta ienes para cento e oitenta ienes por dólar ) entre junho de mil novecentos e oitenta e cinco e fevereiro de mil novecentos e oitenta e seis - uma das desvalorizações mais brutais da história ( embora denominada reajuste ), em se tratando de uma moeda forte. Os credores americanos apoiaram à unanimidade a medida. Na verdade, eles a exigiram. Mais incrível ainda é o fato de que, desde então, aumentaram, de forma substancial, seus empréstimos aos EUA. Aparentemente, existe um acordo entre banqueiros internacionais de que, quanto mais os EUA são merecedores de crédito, mas seus credores correm o risco de sair perdendo.

E uma das principais razões para esta atitude, digna de Alice no país das maravilhas, é que os maiores credores do país, os japoneses, claramente preferem sofrer pesadas perdas em relação aos dólares que possuem a ter desemprego no país. Isto porque, sem as exportações para os EUA, o Japão poderá ter uma taxa de desemprego parecida com a da Europa Ocidental, isto é de nove a onze por cento ( em valores da época ), e ainda por cima, concentrada nas indústrias pesadas básicas mais sensíveis, em que o Japão estava se tornando crescentemente vulnerável á concorrência com novos entrantes, como a Coreia do Sul.

Da mesma forma, somente as condições econômicas não chegariam a induzir, segundo previsões da época, os chineses de Hong Kong a sacar o dinheiro que transfeririam para bancos americanos, já antecipando o retorno da província ao domínio da China Comunista, em mil novecentos e setenta e sete - e estes depósitos chegariam à casa dos muitos bilhões. O volume ainda maior, de pelo menos algumas centenas de bilhões, originário da fuga de capitais da América Latina, que encontrou refúgio no dólar, também não seria repatriado em função apenas de incentivos puramente econômicos, como taxas de juros mais altas.

A soma necessária de capital externo para fazer frente ao déficit orçamentário e ao déficit comercial dos EUA teria de ser muito maior para tornar este cenário mais que uma possibilidade. Ainda assim, se os fatores políticos estivessem sob controle, a economia de símbolos permaneceria, segundo previsão da época, então verdadeiramente desencaixada da economia real, pelo menos na esfera internacional.

E, qualquer que fosse o cenário prevalente, nenhum deles prometia retorno à situação considerada  normal como esta normalidade era conhecida na época.

Uma das implicações deste descolamento das economias de símbolos e real era que, daquele momento em diante, as taxas de câmbio entre as principais moedas teriam, segundo previsão da época, de ser tratadas, igualmente, tanto no contexto da teoria econômica quanto no ano da política de negócios, como um fator - importantíssimo - de vantagem comparativa.

A teoria econômica ensina que os fatores de vantagem comparativa da economia real - custos comparados de mão de obra e de produtividade, custos de matérias primas, custos de energia, de transportes e assim por diante - determinam as taxas de câmbio. E praticamente todos os ramos de negócio baseiam suas políticas neste teorema. Entretanto, cada vez mais, as taxas de câmbio são o fator determinante na hora de comparar os custos de mão de obra do país A com os doa país B; elas são um dos principais custos comparativos e estão inteiramente além do controle das empresas. E, então, qualquer empresa que estivesse naquela época exposta á economia internacional devia perceber que atuava em dois negócios simultaneamente. Ela atuaria tanto como produtora de bens ( ou prestadora de serviços ) quanto como organização financeira - e não poderia ignorar nenhum destes dois papeis.

Especificamente, a empresa que atuava no exterior - fosse como exportadora ou através de subsidiárias em outros países - teria de se proteger contra a influência da moeda estrangeira no que diz respeito aos seguintes três fatores:

1) receita de vendas;

2) capital de giro voltado para a produção desstinada a mercados internacionais e

3) investimentos no exterior.

Isto teria de ser feito independentemente de a empresa esperar que o valor de sua própria moeda aumentava ou diminuía. As empresas que realizavam compras no exterior teriam de agir da mesma maneira. Com efeito, até mesmo as organizações que atuavam estritamente no mercado interno, mas que enfrentavam a concorrência estrangeira, teriam de aprender a manter uma salvaguarda contra a moeda em que sua concorrente estrangeira produz. Se as empresas americanas tivessem sido administrada desta maneira durante os anos em que o dólar estava sobrevalorizado, isto é, de mil novecentos e oitenta e dois até mil novecentos e oitenta e cinco, a maior parte das perdas de posição de mercado e em receitas no exterior teria sido evitada. O que aconteceu foram falhas de administração, e não a vontade de Deus. Certamente, os acionistas, mas também o público em geral, tinham todo o direito de esperar que as equipes gerenciais se saíssem melhor numa eventual próxima oportunidade.

Quanto à política de governo, só existe uma conclusão: não se deve ser esperto demais. é tentador explorar a ambiguidade, a instabilidade e a incerteza da economia mundial para ganhar vantagem de curto prazo e adiar decisões políticas não populares. Mas isto não funciona. Com esfeito - es esta é a lição das tês tentativas realizadas - , o desastre é mais provável que o sucesso.

O governo, do ex-presidente dos EUA, Carter desvalorizou o dólar a patamares artificiais para estimular a economia americana por meio do aumento das exportações. E as exportações, de fato, aumentaram - e de forma espetacular. Mas, ao contrário de estimular a economia interna, o resultado foi uma depressão, o que resultou simultaneamente em desemprego recorde e em acelerada inflação - o pior resultado que se poderia esperar.

Então, alguns anos mais tarde, o presidente Reagan aumentou as taxas de juros para conter a inflação e, além disto, valorizou o dólar. A inflação, de fato, ficou sob controle e houve intenso fluxo de capital de fora para dento dos EUA. Entretanto, o dólar se valorizou tanto que provocou um surto de importações. Em consequência desta política, as mais vulneráveis das antigas indústrias pesadas básicas, como a automobilística e a do aço, ficaram expostas a uma concorrência que não tinham como enfrentar, com o dólar valendo duzentos e cinquenta ienes ( ou uma daxa de câmbio frente ao marco alemão de três para um dólar ). Isto lhes subtraiu as receitas de que precisavam para se modernizar. Além disto, esta política destruiu severamente, talvez de forma permanente, a posição competitiva dos produtos agrícolas americanos nos mercados mundiais, e no pior momento possível. e pior ainda: a esperteza do presidente Reagan derrotou seu propósito principal: a redução do déficit do governo americano. Em função das perdas para a concorrência estrangeira, a indústria doméstica americana anão cresceu suficientemente para produzir maiores receitas provenientes de impostos. No entanto, a disponibilidade fácil e quase ilimitada de moeda estrangeira permitiu ao Congresso nacional dos EUA ( e ao governo ) adiar, mais uma vez, as ações necessárias para cortar o déficit.

Também os japoneses talvez tenham sido excessivamente espertos em sua tentativa de explorar o deslocamento entre economia internacional de símbolos e a real. Ao Explorar um iene subvalorizado, os japoneses conseguiram aumentar as exportações, uma política bastante semelhante com aquela existente à época do governo Carter. Contudo, como ocorreu antes nos EUA, a política nipônica fracassou no estímulo à economia interna. Seu crescimento naqueles anos foi pífio, apesar do grande aumento das exportações. Em consequência, os japoneses, como já mencionado, se tornaram perigosamente dependentes de um único cliente: os EUA. E isto os forçou a investir enormes somas no dólar americano, embora todos os japoneses conscientes ( incluindo, é claro, o governo e o Banco Central ) soubessem, o tempo todo, que estes investimento acabariam por sofrer uma grande desvalorização.

Certamente, estas três lições ( * vide nota de rodapé ) deveriam ter ensinado que políticas governamentais aplicadas á economia mundial serão bem-sucedidas, desde que tentem harmonizar as necessidades de duas economias, e não o contrário, ou seja, que tentem explorar sua desarmonia. Ou, repetindo um antigo ditado: Em finanças, não tente ser esperto, mas simples e consciencioso. Entretanto, já havia o receio de que este fosse um conselho que os governos não seguiriam tão cedo.

Ainda é cedo demais até mesmo para tentar adivinhar como ser parecerá a economia do futuro. Será que os principais países, por exemplo, sucumbirão à tradicional reação de medo - isto é, retrocederão ao protecionismo - ou será que encararão a nova economia como uma oportunidade?

Algumas das principais agendas já pareciam claras àquela altura dos acontecimentos.

Entre as mais prioritárias, está a formulação de novas políticas e de novos conceitos de desenvolvimento, especialmente por parte dos países em desenvolvimento com o México ou o Brasil. Eles já não podem ter a expectativa de financiar o seu desenvolvimento por meio das exportações e matérias-primas ( o petróleo mexicano, por exemplo ). Mas também está ficando claro que não seria realista acreditar que seus baixos custos de mão de obra lhes permitiriam exportar grandes quantidades de bens acabados para países desenvolvidos - que ainda era, por exemplo, à época, a expectativa do Brasil. O país se sairia muito melhor se optasse pelo compartilhamento da produção, isto é, se sairia muito melhor se optasse pelo compartilhamento da produção, isto é, se a indústria usasse sua vantagem de mão de obra para atuar como subcontratada de manufaturas estrangeiras para trabalhos que demandassem o uso intensivo de mão de obra que não pode ser automatizada - alguma operação de montagem, por exemplo, ou partes e componentes que devam ser produzidos apenas em pequenas quantidades. Países desenvolvidos já não dispõem de mão de oba para este tipo de trabalho. E, ainda que seja possível levar em conta o mais complexo processo de automação, ainda assim será equivalente a apenas quinze ou vinte por cento do trabalho de manufatura.

Este modelo de compartilhamento da produção, é claro, foi como os chineses não comunistas do sudeste da Ásia - Cingapura, Hong Kong, Taiwan - alavancaram seu desenvolvimento. No entanto, na América Latina o compartilhamento da produção ainda é politicamente inaceitável e, com efeito, anátema. O México, por exemplo, desde o seu começo como país moderno, nos primeiros anos do século vinte, se investe no profundo compromisso de tornar sua economia menos dependente e menos integrada em relação ao grande vizinho do norte. O fato de esta política ter sido um fracasso total durante mais de cem anos apenas reforça seu apelo político e emocional.

Contudo, mesmo que o compartilhamento da produção fosse usado integralmente, isto não produziria, por si só, receita suficiente para alimentar o desenvolvimento, especialmente o de países muito maiores que as cidades-estado chinesas. Portanto, o que é preciso é de um novo modelo e de novas políticas. Será que seria possível, por exemplo, aprender algo com a Índia? Todos conhecem, naturalmente, os problemas daquele país - e são muitos. Contudo, poucos parecem saber que, desde a sua independência, a Índia se desenvolveu melhor do que qualquer outro país do Terceiro Mundo: o maior aumento de produção agrícola; uma taxa de crescimento em produção de manufaturados igual à do Brasil e talvez até mesmo à da Coreia do Sul ( hoje a Índia tem uma economia industrial maior que a da maior parte dos países desenvolvidos ); o surgimento de uma enorme classe média altamente empreendedora; e, provavelmente, a maior conquista: um grande progresso no oferecimento de educação e assistência de saúde em seus pequenos vilarejos. Tudo isto considerado, os indianos não seguiram qualquer dos modelos estabelecidos. Diferentemente de Stalin, Mao Tsé Tung e tantos africanos, eles não espoliaram os pobres para produzir capital para o desenvolvimento industrial. Tampouco exportaram matérias-primas ou produtos derivados da mão de obra barata. Mas, desde a morte de Nehru, em mil novecentos e sessenta e quatro, a Índia encorajou e recompensou a produtividade no campo e patrocinou a produção de bens de consumo e empreendedores locais. A Índia e suas conquistas certamente obterão muito mais atenção daqui em diante do que tiveram no passado.

Também os países desenvolvidos precisam repensar duas políticas em relação ao Terceiro Mundo - principalmente no que diz respeito às esperanças dos países deste bloco, em rápido processo de industrialização. Existem alguns caminhos iniciais: a nova proposta, recentemente apresentada pela Secretaria do Tesouro dos EUA, para as dívidas dos países produtores de itens primários; ou os novos critérios para a concessão de empréstimos, anunciados pelo Banco Mundial ( BIRD ), segundo os quais, de agora em diante, os empréstimos para países do Terceiro Mundo, serão condicionados às políticas gerais de desenvolvimento do solicitante, e não mais à solidez de projetos individuais. Estas propostas, no entanto, visam muito mais a corrigir erros do passado do que propriamente a desenvolver novas políticas.

Outro dos principais itens da agenda é, inevitavelmente, recorrer ao sistema monetário internacional. Desde a Conferência de Brenton Woods, ao final da Segunda Guerra Mundial, este sistema teve por base e moeda de reserva o dólar americano. Isto, claramente, não funciona mais. O país que detém a moeda de reserva deve estar disposto a subordinar suas políticas internas às necessidades da economia internacional. Por exemplo, arriscar o desemprego interno para manter estáveis as taxas de câmbio da moeda. e, no momento da verdade, os EUA se recusaram a fazer isso. Aliás, Keynes já havia previsto isso há setenta anos.

Hoje, a estabilidade que a moeda de reserva deveria proporcionar poderia ser estabelecida somente se os principais países envolvidos no comércio internacional - pelo menos, os EUA, Alemanha e Japão - concordassem em coordenar suas políticas econômica, fiscal e monetária e, talvez até subordiná-las a um processo decisório conjunto - isto é, supranacional como por exemplo, um fórum econômico mundial ou outro órgão permanente para tal finalidade.

seria isto minimamente concebível em uma situação que não envolvesse um colapso financeiro mundial? A experiência europeia, com muito mais modesta Unidade Monetária Europeia ( ECU - European Currency Unit ), até mil novecentos e oitenta e seis, não era muito animadora. Nenhum governo do continente estava disposto a ceder um milímetro que fosse em benefício da ECU. No entanto, o que mais poderia ser feito? Ou será que chegou-se ao fim de uma tentativa, que já durava mais de trezentos anos, de regular e estabilizar dinheiro sobre o qual, em última análise, tanto o Estado nacional moderno quanto o sistema internacional se baseiam em grande parte? A criação do euro talvez tenha sido uma responta a este drama antigo.

Finalmente, existe uma conclusão: a dinâmica da economia se transferiu decisivamente para a economia mundial. A teoria econômica prevalente - seja ela keynesiana, monetarista ou orientada para a oferta - considera a economia nacional, especialmente aquelas dos grandes países desenvolvidos, autônoma, e a unidade tanto da análise econômica quanto da política econômica. A economia internacional pode ser uma restrição e uma limitação, mas não é central, muito menos determinante. Este axioma macroeconômico do economista moderno se tornou crescentemente instável. Os dois grandes países desenvolvidos que se subordinam inteiramente a ele em suas políticas econômicas - Grã-Bretanha e EUA - são os que menos se saíram bem nos últimos trinta anos e os que tiveram o axioma macroeconômico. Ele é ensinado em suas universidades, é claro, mas os formuladores de políticas, tanto no governo quanto na iniciativa privada, o rejeitam. Em vez disto, ambos sempre basearam sua política econômica na economia internacional e, sistematicamente, tentaram se antecipar às suas tendências e explorar as mudanças como oportunidades. Acima de tudo, em suas políticas econômica, fiscal e monetária ( e, em grande parte, até mesmo social ), ambos consideram a posição competitiva do país sua maior prioridade - e a ela normalmente se subordinam todas as condições internas. E, nos últimos sessenta anos, estes dois países se saíram muito melhor, é claro, tanto econômica quanto socialmente, do que a Grã-Bretanha e os EUA. Na verdade, seu foco e sua prioridade na economia mundial talvez sejam o verdadeiro segredo de seu sucesso.

Da mesma forma, o segredo de empresas bem-sucedidas no mundo desenvolvido - as japonesas, os fabricantes de automóveis alemães, como Mercedes e BMW, ASEA e Ericsson na Suécia, IBM e Citibank nos EUA, mas também inúmeras empresas de médio porte especializadas em manufaturas e diversos tipos de serviços - tem sido o fato de que baseiam seus planos e políticas na exploração das mudanças da economia mundial, encarando-as como oportunidades.

De agora em diante, qualquer país - e também qualquer empresa, especialmente as de grande porte - que deseje se sair bem do ponto de vista econômico terá de aceitar que é a economia mundial que dá as cartas e que as políticas econômicas internas serão bem-sucedidas apenas se fortalecerem - ou, pelo menos, não atrapalharem - a posição competitiva internacional dos país.

Isto poderá ser a característica mais importante ( certamente, é a mais impactante ) da nova economia mundial. Outras informações podem ser obtidas no livro As fronteiras da administração, de autoria de Peter F. Drucker.

Continua em

https://claudiomarcioaraujodagama.blogspot.com/2019/07/crescimento-economico-tecnologia-e-o.html .

P.S:

Nota de Rodapé:

* As outras duas mudanças são melhor introduzidas em

https://administradores.com.br/artigos/economia-mundial-a-a%C3%A7%C3%A3o-do-governo-e-das-empresas-na-nova-realidade .

Mais em

https://administradores.com.br/artigos/economia-internacional-a-competitividade-do-pa%C3%ADs-e-a-a%C3%A7%C3%A3o-do-estado .

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