O jornalismo policial radiofônico
É por razões politico-ideológicas ( *31 vide nota de rodapé ) que a luta pelos Direitos Humanos passa a sofrer, nos últimos anos, uma campanha sistemática, através de veículos de comunicação, especialmente dos programas radiofônicos. Nestes programas, solertemente, se institucionaliza a violência contra os mais pobres; com a canalização de suas justas ( *27 vide nota de rodapé ) insatisfações, emergentes de um sistema injusto ( *27 vide nota de rodapé ), os comunicadores ( * 29 vide nota de rodapé ) fazem com que seus ouvintes passem a acreditar na violência como única forma de erradicação do crime e da injustiça ( * 27 vide nota de rodapé ).
O jornalismo policial radiofônico, como sucedeu em São Paulo como os programas de Afanázio Jazadji, de Gil Gomes e congêneres em outros Estados, explora às avessas a forma em que está estruturada a sociedade brasileira, na medida em que se utiliza da miséria institucionalizada, do sofrimento, da dor, e incentiva a indiferença de seus ouvintes pelos outros, favorecendo a manutenção de sua ignorância, do não saber sobre si e sobre a própria sociedade em que vivem. Tais programas radiofônicos valorizam a competição e o sucesso pessoal individualizado, estabelecendo estes valores como parâmetros de aferição do que o homem é. Explorando habilmente o segmento dos homens marginalizados ( *16 vide nota de rodapé ), sofridos, prepara-os para ver nos seus semelhantes " ... um concorrente ou uma presa a ser devorada" ( *30 vide nota de rodapé ).
No exercício desta função deletéria, este jornalismo radiofônico em particular e a televisão em geral manipulam o comportamento da maioria da população; auxiliam a manutenção de sua inconsciência social; imbecilizam-na, ao fazê-la crer que o que revelam é a verdade. Desta forma, preparam seus ouvintes ou telespectadores, para, por exemplo, acreditarem na violência policial ( *5 vide nota de rodapé ), na pena de morte ( *8 vide nota de rodapé ) ou no linchamento ( *6 vide nota de rodapé ), como formas de erradicação da criminalidade. Ao mesmo tempo, procuram confundir os militantes em Direitos Humanos com defensores de bandidos ( *31 vide nota de rodapé ).
A ação deste jornalismo radiofônico, ademais, é alienante. Trona-se dona de uma única verdade: a violência. Impede a conscientização dos seus ouvintes, em sua maioria trabalhadores ( *10 vide nota de rodapé ) e pobres, para alcançar sua cidadania. Quebra-lhes o sentimento da esperança; acicata-lhes o medo, representando "um mundo fabulosamente construído com o temor, que se torna matéria das coisas e dos sentimentos, lei das ações e ordem do universo" ( *32 vide nota de rodapé ); trata as desigualdades sociais ( *16 vide nota de rodapé ) como um fatalismo e mitiga-lhes o desejo de igualdade ( *16 vide nota de rodapé ), mais justiça ( *27 vide nota de rodapé ), liberdade ( *5 vide nota de rodapé ) e boa convivência, através de meios pacíficos; propõe-lhes a justiça ( *27 vide nota de rodapé ) pelas próprias mãos; manipula a justa ( *27 vide nota de rodapé ) indignação das classes populares, para, por exemplo, justificar a violência policial ( *5 vide nota de rodapé ) contra o próprio povo, ao invés de propugnar por um modelo de policial do povo.
"que seja parte deste, que não mande ( *5 vide nota de rodapé ) no povo nem o mate ( *8 vide nota de rodapé ), que se envergonhe diante da fome e da opressão, que se envergonhe de ser soldado do governo e da minoria contra o povo ( *20 vide nota de rodapé ), que não esbanje inutilmente sua bravura, lutando em vão, combatendo contra si mesmo, dando a vida para que seu povo continue a perdê-la ( *8 vide nota de rodapé )" ( *33 vide nota de rodapé ).
O jornalismo, em especial o radiofônico mencionados, e outros programas congêneres são braços auxiliares do autoritarismo e da repressão; são, em última análise, a exteriorização do sistema vigente de dominação, do medo, do terror, tão bem expressos no poema "O medo", de autoria de Carlos Drummond de Andrade:
"E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios vadeamos.
(...)
Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
eles povoam a cidade.
Depois da cidade o mundo.
Depois do mundo as estrelas
dançando o baile do medo"( *34 vide nota de rodapé ).
A ditadura sempre se beneficiou deste medo, difundido pelos nefandos programas de jornalismo radiofônico. Estes são a própria expressão do Estado de Segurança Nacional ( *3 vide nota de rodapé ), repressivo e autoritário ( *5 vide nota de rodapé ), senhor absoluto dos meios de tortura ( *4 vide nota de rodapé ), da vida e da morte ( *8 vide nota de rodapé ), de presos políticos ( * 5 vide nota de rodapé ) em períodos determinados, e, permanentemente, dos menos favorecidos. E
"a ditadura também se legitima através da exploração ( *20 vide nota de rodapé ) dos potenciais mais mesquinhos ou vulneráveis do ser humano, daquilo que ele tem de mais suscetível à pressão. Como alternativa para a ditadura, ela oferece o medo, ela desenvolve o medo nos cidadãos: medo de que o futuro não seja tão previsível quanto é sob um regime forte, medo da mudança, medo dos fantasmas que surgiriam quando a "proteção" fosse retirada, medo de assumir a responsabilidade pelo próprio destino. Há muitas maneiras de explorar estes medos, muitas capas sob as quais a exploração se esconde, várias delas tão eficazes que nem se percebe o que está por baixo" ( *35 vide nota de rodapé ).
Da mesmíssima forma que a ditadura, agem as oligarquias dominantes e o Estado brasileiro, onde, nesta fase de transição ou abertura democrática, a democracia continua sendo privilégio das elites. E o jornalismo radiofônico de que se cuida, bem como o policial violento e os capangas no campo ( *21 vide nota de rodapé ) são os instrumentos de exploração ( *20 vide nota de rodapé ) destes medos; o primeiro é a capa obscura, subliminar, sob a qual a exploração ( *20 vide nota de rodapé ) se esconde, enquanto os dois últimos são as capas diáfanas sobre as quais a exploração ( * 20 vide nota de rodapé ) se sustenta.
P.S.:
Notas de rodapé:
* As violações aos Direitos Humanos que sustentaram a Doutrina de Segurança Nacional são melhor detalhadas em:
*2 Cada hectare equivale a aproximadamente um campo de futebol.
*3 O que é a Doutrina de Segurança Nacional e seu impacto sobre os Direitos Humanos são melhor detalhado em:
*4 O que é o crime de tortura é melhor explicado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-23 .
*5 O que é a limitação do poder estatal sobre o status libertatis do indivíduo é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-82 .
*6 O que são as penas inaplicáveis como a pena de morte e banimento, é melhor explicado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-70 .
*7 O direito ao desenvolvimento nacional é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-8 .
*8 O direito à vida é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-12 .
*9 Os crimes contra a humanidade, em especial o de genocídio é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-67 .
*10 O direito ao trabalho é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-48 .
*11 O direito de livre associação é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-53 .
*12 O direito à presunção de inocência é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-77 .
*13 O direito à liberdade de manifestação do pensamento é melhor detalhada em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-24 .
*14 O direito à liberdade de culto é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-34 .
*15 A teoria geral dos direitos humanos é melhor detalhada em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-teoria-geral .
*16 O princípio da igualdade é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-16 .
*17 O direito à intimidade e à vida privada é melhor detalhado em
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-44 .
*18 O direito à inviolabilidade do domicílio é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-43 .
*19 O direito à propriedade é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-54 .
*20 O fenômeno da exploração de uma maioria por uma minoria é melhor detalhado em:
*21 A violência o campo é melhor detalhada em:
*22 O direito a um meio ambiente equilibrado é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-teoria-geral .
*25 O direito à saúde pública é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-teoria-geral .
*26 O direito das crianças e adolescentes à proteção integral é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-teoria-geral .
*27 O direito ao acesso à justiça é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-85 .
*28 O direito à dignidade humana é melhor detalhado em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-teoria-geral .
*29 A liberdade de informação e livre divulgação dos fatos é melhor detalhada em:
https://administradores.com.br/artigos/direitos-humanos-doutrinas-e-jurisprud%C3%AAncias-49 .
*30 Odália, Nilo. O que é Violência. Quarta edição. São Paulo: Brasiliense. Mil novecentos e oitenta e seis. Página Trinta e cinco.
*31 O mito de que defensores de Direitos Humanos são defensores de bandidos, são melhor desfeitos em:
*32 Candido, Antonio. Vários Escritos. São Paulo, Duas Cidades. Mil novecentos e setenta. Página Cento e cinco.
*33 Ribeiro, João Ubaldo. Viva o Povo Brasileiro. Sétima edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Mil novecentos e oitenta e quatro. Página Seiscentos e sessenta e um.
*34 Andrade, Carlos Drummond de. "O Medo", in *32, Página Cento e cinco.
*35 Ribeiro, João Ubaldo. Política. Quinta edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. Página Cento e dois.
Referência
Santos Júnior, Belisário; Plastino, Carlos Alberto; Junqueira, Eliane Botelho; Rodrigues, José Augusto de Souza; Gómez, José Maria; Barbosa, Marco Antonio Rodrigues. Direitos humanos - um debate necessário. Instituto Interamericano de Direitos Humanos. Editora Brasiliense. Mil novecentos e oitenta e oito. Páginas Sessenta e um a Sessenta e cinco.
Mais em:
Nenhum comentário:
Postar um comentário