A dolarização dos preços dos combustíveis adotada a partir do golpe contra Dilma Rousseff está elevando os valores a patamares históricos. Levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) revela que os preços da gasolina e do diesel atingiram os maiores níveis do ano nos postos, após quatro semanas consecutivas de aumentos nas bombas.
Segundo matéria do jornal Valor Econômico desta segunda-feira (26), a estratégia de redução da frequência dos reajustes adotada pelo general da reserva Joaquim Silva e Luna após assumir a presidência da Petrobras, há quase cem dias, não conseguiu conter a inflação para o consumidor.
Consultada pela reportagem, a empresa de pesquisa de mercado Triad Research constatou o que todo motorista já sabe: o preço médio da gasolina já superou a casa dos R$ 6. O preço médio do diesel, que sofreu alta de 1,9% e no sábado passado atingiu R$ 4,748, é o principal combustível para a paralisação promovida por parte dos caminhoneiros nesta segunda.
No Twitter, a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, chamou a atenção para a reportagem. “Combustíveis atingem preços mais altos no ano e gasolina passa de $6,00 o litro. Com Dilma pessoal reclamava de gasolina a R$ 2,80. Diesel também subiu e caminhoneiros começam protestos. Trocar presidente da Petrobras e esbravejar não adiantou. Tem de mexer na política de preços da empresa”, afirmou.
A afirmação da deputada federal paranaense encontra eco nas intervenções de entidades de trabalhadores ligados à Petrobras, como a Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet) e a Federação Única dos Petroleiros (FUP).
“Uma política que reajusta gasolina, óleo diesel e gás de cozinha com base no preço internacional do petróleo e na cotação do dólar – mesmo quando esses combustíveis são produzidos no país, com óleo brasileiro. Resultado: combustíveis caros, fretes e alimentos em alta, inflação subindo”, avalia nota divulgada pela FUP assim que Luna e Silva assumiu o comando da Petrobras após Jair Bolsonaro “jogar para a plateia”, forçando a saída do antecessor, Roberto Castello Branco, em fevereiro.
Dolarização é política dos governos do golpe
A política de preços paritários de importação (PPI), adotada pelo então presidente da Petrobras Pedro Parente em outubro de 2016, fez a estatal abrir mão de controlar diretamente os preços dos combustíveis, evitando pressões inflacionárias, para determiná-lo conforme as cotações do petróleo e do dólar no mercado internacional.
Atrelados ao dólar e ao mercado externo, os preços dos combustíveis flutuam para cima em sintonia com as altas internacionais, mas raramente são reduzidos quando ocorre baixa. E uma estimativa da American Automobile Association (AAA) aponta que a gasolina nos Estados Unidos pode alcançar um valor recorde nos próximos anos.
A Agência Internacional de Energia (IEA na sigla em inglês), também prevê que a demanda mundial por petróleo vai superar o nível pré-pandemia no fim de 2022, puxando os preços para cima, até porque a oferta de petróleo está reduzida.
No Brasil, a adição de outros combustíveis à mistura da gasolina e do diesel também eleva os preços. Acrescenta-se à gasolina, que sai pura da refinaria, o álcool anidro, na proporção de 27% para a gasolina comum e aditivada e 25% para a gasolina premium. Já o diesel sofre a adição de 12% de biodiesel.
Os custos são incorporados ao preço dos combustíveis que vai para as revendedoras, onde o preço final é definido com o custo de manutenção dos postos de gasolina e as margens de lucro das revendedoras.
O preço dos combustíveis é liberado na bomba — ou na revenda, no caso do gás de cozinha. Mas grande parte do que o consumidor desembolsa reflete o preço cobrado pela Petrobras na refinaria. Como num efeito bola de neve, alterações nos preços da Petrobras refletem-se nos demais componentes do preço até chegar ao custo final.
Em nota encaminhada à coluna Capital S/A, do Correio Braziliense, dirigentes do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sindicombustíveis-DF) reagiram à declaração de Bolsonaro de que os culpados pelos altos preços dos combustíveis e gás de cozinha são o ICMS estadual e os revendedores.
Segundo a nota, desde novembro de 2020 a Petrobras promoveu 12 reajustes de preços nas refinarias, somando 65% de aumento. Além desses reajustes, no mesmo período o etanol anidro também sofreu elevação de 36%, devido à quebra de safra.
“Portanto, fica numericamente claro que a revenda não tem nenhuma participação nesta elevação de preços dos combustíveis, mas apenas o repasse referente aos reajustes ocorridos em um mercado livre que sofre forte influência internacional dos preços do petróleo e da variação cambial no Brasil”, afirmou o presidente do Sindicombustíveis, Paulo Tavares.
“Com este modelo da Petrobras, os verdadeiros responsáveis são as crises econômicas e principalmente a pandemia pela constante elevação dos preços, tanto dos combustíveis fósseis quanto do gás de cozinha. E a população, que já sente a inflação batendo recordes, irá sofrer cada vez mais”, completou Paulo Tavares.
ONS vê esgotamento de recursos energéticos em novembro
No setor energético, os preços dos combustíveis não são o único motivo de preocupação. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) acendeu um novo alerta frente ao cenário de grave crise hídrica nos reservatórios de hidrelétricas. O órgão prevê o esgotamento de praticamente todos os recursos energéticos em novembro.
O sinal vermelho foi ligado após o ONS elevar a previsão de carga e considerar uma menor e mais realista disponibilidade térmica para atender a demanda de energia. Conforme nota técnica publicada na última quinta-feira (22), o cenário “resulta em uma degradação dos níveis de armazenamento ao final do período seco quando comparado com os resultados do estudo prospectivo anterior”.
“Com relação ao atendimento aos requisitos de potência, observam-se sobras bastante reduzidas no mês de outubro, com o esgotamento de praticamente todos os recursos no mês de novembro”, constata o documento.
O aumento da previsão de carga se deu, segundo o órgão, após um crescimento das atividades do comércio e serviços, além da manutenção do ritmo elevado da produção industrial, principalmente a voltada para exportação.
A atualização do estudo incorpora as flexibilizações de restrições hidráulicas já autorizadas e considera o aumento do PIB para 4,5% ao ano, em vez dos 3% ao ano que até então era usado como parâmetro. “Dessa forma, essa nota técnica traz premissas mais realistas e alinhadas com o momento econômico atual e às condições conjunturais do SIN (Sistema Interligado Nacional)”, afirmou o órgão.
Em contrapartida, o ONS frisou que, nos dois cenários considerados na nota técnica, “não há risco de desabastecimento elétrico, mesmo diante das piores sequências hidrológicas de todo o histórico de vazões dos últimos 91 anos”. A fonte hídrica é a principal geradora de energia do país.
Com informações de pt.org.br .
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