quarta-feira, 21 de julho de 2021

Sucessão presidencial: terceira via tem o mesma intenção de Bolsonaro. Privatizar e excluir direitos

O papel do PT em um amplo programa de reconstrução do Brasil está no centro da disputa entre dois projetos nas eleições de 2022: um, do campo progressista, e o outro, de destruição do Estado brasileiro e de direitos sociais. Nesse cenário, dificilmente haverá espaço para uma terceira via que, no fundo, representa o mesmo neoliberalismo de Bolsonaro, argumenta a presidenta Nacional do PT. Ela concedeu entrevista ao Grupo Folha, nesta segunda-feira (19), em Londrina (PR). Gleisi traçou um panorama do atual quadro político, reforçou a importância das manifestações pela saída de Bolsonaro da Presidência e afirmou que não existe polarização entre Lula e Bolsonaro, que tem claras inclinações fascistas.

"A CPI tem cumprido um papel importantíssimo”, diz Gleisi, para quem a comissão deve provocar o impeachment de Bolsonaro o quanto antes


“Se for analisar o projeto econômico [da terceira via] é o mesmo que o Bolsonaro apresenta: a linha liberal”, avalia Hoffmann. “Ou seja, vão dizer à sociedade “temos um ‘nome’ mais legal como alternativa”, mas que na prática quer implantar o mesmo projeto que tira direitos, que irá privatizar e não irá fazer os investimentos que precisam. É isso que vai diferenciar. Se essa terceira via não for competente para mostrar isso, Bolsonaro vai continuar no extremismo dele e levando gente desse campo para votar nele”, prevê a presidenta do PT.

Sobre uma polarização entre o partido e o bolsonarismo, Gleisi considera que o PT não é um polo da extrema direita do ocupante do Planalto, que se caracteriza, sobretudo, por uma postura antidemocrática. “O Bolsonaro não está no campo da democracia. Ele está no campo do fascismo, do autoritarismo, ninguém é polo com ele”, explicou a petista.

“No campo da democracia tem vários partidos que tem ideologias que seguem as regras da democracia. Já polarizamos a política desde 1994, com o PSDB. Porque politica é contraposição de projetos, de ideias. O que Bolsonaro faz não é política, ele pegou o caminho do ódio, da mentira”.

Para Gleisi, é papel das legendas e suas coligações lutar pelas regras democráticas estabelecidas pela Constituição, pela lei, e apresentar seus projetos para apreciação popular no primeiro turno das eleições. “No segundo turno os partidos se ajeitam conforme o projeto. Me preocupa essa história que Lula é polo de Bolsonaro, Bolsonaro é extremista e nós não somos. Sempre tivemos clareza no projeto e programas que vamos defender”, explicou.

CPI da Covid


Gleisi também destacou a importância da CPI da Covid e das manifestações contra Bolsonaro para o início de um processo de impeachment do presidente. “A CPI tem cumprido um papel importantíssimo”, elogiou a petista.

“Primeiro porque concentrou as atenções e as pessoas conseguem ver o que aconteceu na pandemia. A gestão ou ‘não gestão’ do Ministério da Saúde e agora uma outra vertente que são as denúncias de corrupção na compra das vacinas da Covaxin e agora do CoronaVac, que o ministro teria negociado com uma terceira pessoa, enquanto a venda já tinha sido negociada pelo Butantan”, esclareceu.

Na avaliação da dirigente, está claro que Bolsonaro cometeu crime e deve ser afastado. “Bolsonaro cometeu o crime de prevaricação e deveria ter denunciado enquanto presidente ao ser comunicado das tratativas da vacina e ele fez vistas grossas para não desestabilizar o governo”, atesta.

“O mais interessante é que a CPI possa provocar o processo de impeachment o mais cedo possível. O Bolsonaro não tem a menor condição de governar esse país”, alertou. Ela adverte que somente pela força dos atos populares o presidente da Câmara, Arthur Lira, poderá abrir um dos mais de 120 pedidos de impedimento de Bolsonaro.

Pressão das ruas e centrão


“Enquanto não tiver pressão das ruas o Lira não irá colocar o processo de impeachment pra ser avaliado. Nós queremos discutir para o Brasil um projeto de país. Investimento, geração de emprego, não dá para aceitar 15 milhões de desempregados com renda baixíssima”, declarou Gleisi. Ela reconhece a enorme dificuldade para abertura do processo por causa do centrão, que sustenta o governo a um “custo muito alto”.

“O governo libera recursos extra orçamentários. Só de emenda de relator que ficou para o presidente da Câmara e Senado distribuir são R$ 20 bilhões, além das emendas impositivas. Eles estão ganhando muito dinheiro e não vão confrontar o governo”, avalia. “A menos que seja um desgaste grande. Por isso precisamos do trabalho nas redes e nas ruas”.

Gleisi defendeu ainda as manifestações, apesar do quadro de gravidade provocado pela pandemia. “Fazemos parte do Comitê Fora Bolsonaro, com partidos de oposição e movimentos sociais e sindicais, e estamos desde o início participando. Teve um debate grande por preocupação de chamar o povo nas ruas em meio à pandemia. Mas avaliamos o seguinte: a maioria do povo está nas ruas, no transporte público, nas praças e indo atrás de sobrevivência. Não nos sentimos à vontade de não fazer a luta agora”, insiste Hoffmann.

“Se a gente quer fazer o enfrentamento ao Bolsonaro não tem outro jeito: é na articulação política e na mobilização social”, afirmou, lembrando da próxima manifestação de massa no país, marcada para o dia 24. 

Corrupção


Na entrevista, Gleisi também ressaltou que o PT não vê problema algum em debater temas relacionados à corrupção. Ela enfatizou, no entanto, que o presidente Lula é cauteloso antes de acusar outros porque não quer cometer a mesma injustiça que fizeram contra ele.

“Ele acha que todo mundo tem direito ao devido processo legal e a uma profunda investigação, inclusive Bolsonaro tem direito a isso. Tem evidências de crime, mas tem que ter a investigação”, defendeu Gleisi.

“Além disso, o PT não tem medo de discutir corrupção. Nós fomos vítima da perseguição política e agora conseguimos vencer essa questão. Dos 15 processos que o presidente Lula sofreu foi absolvido. Inclusive em Curitiba, onde os processos não tinham embasamento legal”, enfatizou.

Com informações de pt.org.br .

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