O Brasil mantém um alto platô de mortes diárias por Covid-19, cerca de 1.083, de acordo com o consórcio de veículos de imprensa. Somente na quarta-feira (28), o país perdeu 1.366 vidas para a doença. O número é mais alto do que o período mais crítico da pandemia em 2020, no mês de julho. Apesar da tragédia, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga entrou em rede nacional, na quarta-feira (28), para falar que o país pode se “orgulhar” do “sucesso” da campanha de vacinação, a despeito de o Brasil ter pouco mais de 18% da população imunizada.
“Hoje, podemos nos orgulhar do sucesso da nossa campanha de vacinação”, delirou Queiroga, no pronunciamento. “Cem milhões de brasileiros tomaram ao menos uma dose”, disse, pintando um quadro de 63% da população adulta vacinada. O consórcio de imprensa traz um cenário menos otimista: os vacinados com a primeira dose equivalem a 46,3% da população.
O ministro, no entanto, dobrou a aposta na mentira ao dizer que Jair Bolsonaro “promoveu estratégia diversificada de acesso às vacinas”. Como todo devaneio, as declarações de Queiroga deslocam-se com rapidez da realidade, uma vez que o ministro fez referência ao maior sabotador do enfrentamento à pandemia do país. Bolsonaro não só atrasou a chegada de imunizantes que poderiam ter poupado milhares de vidas como atuou em campanhas antivacinas, como declarou à CPI da Covid a própria ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações da Saúde, Franciele Fantinato.
Como se sabe, a vacinação poderia ter começado ainda em dezembro de 2020 se Jair Bolsonaro não tivesse ignorado ofertas de vacinas da Pfizer do próprio Instituto Butantan, produtor da CoronaVac. Ao invés disso, investiu em “vacinas” fornecidas por empresas intermediárias que atuam sem autorização de laboratórios.
Atrasos na vacinação causaram ao menos 110 mil mortes
“Se o governo federal tivesse aceitado as ofertas de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer e de 100 milhões de doses da Coronavac no segundo semestre de 2020, a aplicação de 2 milhões de doses por dia, a partir de janeiro, teria poupado 110 mil vidas até o final de 2021”, declarou o epidemiologista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Eduardo Massad à CNN, em abril.
Para se ter uma ideia do atraso do Brasil, a União Europeia deverá fechar o verão com mais de 70% da população vacinada com duas doses. Queiroga, no entanto, tenta vender a ilusão do êxito de uma campanha que, diante de 553 mil mortos, não pode ser considerada um sucesso, muito menos motivo de orgulho.
“Se o pronunciamento de Queiroga fosse um filme, o gênero seria farsa e o título poderia ser: “Queiroga no país das maravilhas”, critica o deputado Paulo Pimenta (PT-RS).
Falsa cooperação com Estados e municípios
O balanço de Queiroga também ignorou a tempestuosa relação do governo federal com estados e municípios, vendendo uma ideia de que Bolsonaro investiu na cooperação com governadores e prefeitos no enfrentamento do surto. “Graças aos esforços do governo federal, e em parceria com estados e municípios, seguiremos avançando a vacinação em todo o país”, prometeu o ministro do país das maravilhas.
Na vida real, o que ocorreu foi o contrário, como atestam declarações do próprio Queiroga nesta semana. Diante do atraso na entrega de doses e paralização das campanhas de nove capitais, o ministro tentou responsabilizar os gestores pelos atrasos de sua pasta.
Na semana passada, o Ministério da Saúde recebeu 16 milhões de vacinas mas demorou quase uma semana para distribuir os lotes a estados e municípios. Queiroga não teve dúvida e transferiu o problema: “É necessário que as determinações pactuadas no âmbito do PNI com a participação dos entes subnacionais, estados e municípios, sejam mantidas na ponta”, atacou o ministro. “Não é correto que os municípios fiquem alternando o que foi tratado na tripartite. Senão, você cria uma verdadeira confusão”, esquivou-se.
Infelizmente, o país das maravilhas de Queiroga só existe nos seis minutos de seu pronunciamento.
Com informações de G1 ept.org.br .
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