Enquanto espera a ação da “mão invisível do mercado”, o ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes, assiste impassível à oscilação dos indicadores econômicos. Um deles, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), divulgado pelo Banco Central (BC) nesta quarta-feira (15), caiu 0,43% em maio, surpreendendo o “mercado”, que estimava a alta deste que é considerado a prévia do Produto Interno Bruto (PIB).
O IBC-Br mede a evolução da atividade econômica e auxilia o BC nas decisões sobre possíveis alterações na Selic, a taxa básica de juros, definida atualmente em 4,25% ao ano. O índice considera informações sobre o nível de atividade de indústria, comércio e serviços e agropecuária, além do volume de impostos, para tentar antecipar, por aproximação, a evolução da atividade econômica.
Até fevereiro, o índice vinha apresentando crescimento após os choques sofridos em março e abril do ano passado, em razão das medidas de isolamento social tomadas para o enfrentamento da pandemia de covid-19. Nos últimos três meses, já houve recuos em março e maio. Em 2020, o PIB do Brasil caiu 4,1%, totalizando R$ 7,4 trilhões. Foi a maior queda anual da série do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 1996.
Para a ex-presidenta Dilma Rousseff, é preciso recompor a capacidade de financiamento do país, solapada pelas medidas adotadas pelas equipes econômicas do usurpador Michel Temer e de Jair Bolsonaro. E essa capacidade de investir do Estado brasileiro só irá se recuperar com a tributação dos mais ricos.
Economista de formação, Dilma Rousseff abriu, na noite de terça-feira (13), o ciclo de debates “Desenvolvimento, novas desigualdades e justiça fiscal no Brasil”, parte da campanha Tributar os Super-Ricos. A ação é promovida pelo Instituto de Justiça Fiscal (IJF), Instituto Lula, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), além de outras 70 entidades.
A campanha propõe a tributação dos 0,3% mais ricos (600 mil pessoas entre 210 milhões), arrecadando cerca de R$ 300 bilhões ao ano. As oito medidas para alcançar esse montante foram apresentadas ao Congresso Nacional em agosto de 2020, mas ainda não estão em tramitação.
Redução das desigualdades “bateu em uma parede”, diz Dilma
A ex-presidenta da República falou sobre a aceleração das desigualdades no pós-pandemia e lembrou as políticas sociais adotadas por seu governo (2011 a 2016) e de Luiz Inácio Lula da Silva (2003 a 2010). Falou ainda sobre a correlação de forças que impede um projeto como o da tributação dos super-ricos passar por um Congresso com a atual composição. “Mas agora a desigualdade é ainda mais brutal”, apontou.
“Em 2014 o Brasil tinha saído do Mapa da Fome da ONU. E tínhamos conquistado isso com um conjunto de políticas públicas que vinham desde o presidente Lula”, argumentou. “Era possível colocar o povo no orçamento e forçar a estrutura dos gastos públicos, com políticas de distribuição de renda.”
“Nosso projeto, o que fizemos de redução da pobreza, superação da miséria absoluta, acesso a inclusão dos trabalhadores via política de valorização do salário mínimo, bateu numa parede numa certa hora”, recordou Dilma. A parede do golpe.
“No golpe em 2016, o pato amarelo desfilando na Paulista era o símbolo do golpismo empresarial que estava expresso na Fiesp e que não quer pagar imposto”, comparou a ex-presidenta. Tanto que a primeira medida do governo ilegítimo de Michel Temer, afirmou, foi a PEC dos Gastos, “que vai coexistir com a redução da tributação dos ganhos de capital e imposto regressivo sobre o consumo”.
“O Estado sofreu um desmonte num momento em que o país mais precisa dele. Tributar os super-ricos era uma emergência antes da pandemia. Agora ainda mais, com a sobreposição das crises sanitária, política, social e econômica”, acentuou.
Segundo Dilma, os maiores impactos recaem justamente sobre os mais vulneráveis. “As vítimas da covid-19 são as mesmas mulheres, negros, pobres, indígenas, os mais explorados e destituídos. São os mais incapazes, desprovidos de defesas, onde tem mais contágio e mortes.”
Num capitalismo financeirizado como é o brasileiro, afirmou a ex-presidenta, não tributar transações financeiras, nem digitais, é não perceber onde começa o fluxo de riqueza. “É possível fazer política progressiva tributando grandes transações financeiras. E isentando salários, aposentadorias em determinados patamares de valor. Tem de tributar as grandes empresas digitais”, sentencia.
“O Brasil foi o que registrou maior crescimento do que é apropriado pelos mais ricos: esse 1% da população detém a metade da riqueza do país”, criticou ela. “A situação de absoluta gravidade social e destruição do patrimônio nacional torna imprescindível um sistema tributário progressivo no pós-pandemia, tanto sobre o patrimônio obtido como o herdado. Essa é uma das tarefas mais importantes desse momento.”
Com informações de pt.org.br .
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