quarta-feira, 14 de julho de 2021

Direitos humanos: bloqueio desumano a Cuba enseja guerra híbrida

A política de sufocamento econômico promovida há seis décadas pelos Estados Unidos, a despeito da reprovação da maioria esmagadora da comunidade internacional, é causa direta das manifestações registradas em Cuba neste domingo (11). “O que procuram? Provocar agitação social, causar mal-entendidos entre os cubanos”, e também “a famosa mudança de regime”, denunciou o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, em discurso transmitido por rádio e televisão no mesmo dia.

A política de embargo econômico a Cuba ganhou instrumentos de guerra híbrida para fortalecer seus propósitos: as redes sociais


“Quando as pessoas estão em condições severas, acontecem eventos como os que vivemos em San Antonio de los Baños”, explicou. “Por que não têm coragem de abrir o bloqueio? Que fundamento legal e moral sustenta que um governo estrangeiro possa aplicar essa política a um país pequeno e em meio a situações tão adversas? Isso não é genocídio?”, questionou Díaz-Canel.

O presidente cubano afirmou que o governo tenta enfrentar e superar as dificuldades face às sanções norte-americanas. As medidas foram reforçadas desde o mandato de Donald Trump, “que promoveu uma campanha de perseguição financeira e energética com o objetivo de sufocar a economia do nosso país”, prosseguiu Díaz-Canel.

Em quatro anos, Trump adotou 243 medidas coercitivas unilaterais contra Cuba. Elas causaram uma crise de energia e de combustível, restringiram as viagens de turistas norte-americanos e o envio de remessas de cubano-americanos para parentes na ilha.

Além de sabotar os esforços dirigidos a barrar o avanço da covid, salvar vidas e cooperar com outros países contra a doença, o recrudescimento do bloqueio econômico, comercial e financeiro gerou o efeito esperado em tempos de guerra híbrida, já traduzido em outras “primaveras”: crise econômica e insatisfação popular, potencializada pelo uso insidioso de redes sociais.

“Teve limitação de combustível, limitação de peças de reposição, e tudo isso gerou insatisfações, aumentou os problemas acumulados, que não conseguimos resolver. E a isso se juntou uma feroz campanha midiática de descrédito como parte da chamada guerra não convencional, que tenta romper a unidade entre o partido, o governo, o Estado e o povo”, concluiu o presidente.

Na segunda (12), Díaz-Canel reforçou as denúncias. “Há um grupo de pessoas contratadas pelo governo dos EUA, pagas indiretamente através de agências governamentais norte-americanas para organizar esse tipo de manifestações”, disse a apoiadores.

Em seis décadas, sanções causaram perdas de US$ 144 bilhões


Em vigor há 59 anos e endurecido em várias ocasiões, o bloqueio não conseguiu derrubar o governo do Partido Comunista cubano. Imposto em 1962 por John F. Kennedy, apenas o Congresso dos Estados Unidos pode acabar com ele. Por seu caráter extraterritorial e violador do direito internacional e da carta das Nações Unidas, há quase trinta anos sofre repúdio esmagador da comunidade internacional.

Ao apresentar à imprensa o relatório anual de Cuba para as Nações Unidas sobre os efeitos do bloqueio ianque, o Ministro de Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez Padilla, assinalou que entre abril de 2019 e março de 2020, as perdas no país chegaram a US$ 5,57 bilhões (R$ 28,8 bilhões).

“É a primeira vez que os danos do bloqueio ultrapassam a cifra de US$ 5 bilhões em um ano”, apontou o chefe da diplomacia cubana. Além disso, “os danos acumulados durante quase seis décadas alcançam, calculados em preços atuais, a cifra descomunal de US$ 144,413 bilhões (R$ 746,95 bilhões), o que para uma economia pequena como a de Cuba é uma carga verdadeiramente opressora”.

O relatório “Necesidad de poner fin al bloqueo económico, comercial y financiero impuesto por los Estados Unidos de América contra Cuba” foi apresentado como resolução na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em junho. Pela vigésima-nona vez, o bloqueio recebeu a condenação da absoluta maioria dos países.

Em discurso presencial para defender a resolução, Rodríguez comparou o embargo à pandemia. “O governo dos Estados Unidos assumiu a covid-19 como um aliado na sua guerra não convencional contra Cuba”, afirmou o chanceler cubano.

Realizado desde 1992, o voto anual de condenação ao embargo foi suspenso em 2020. Na votação realizada em 23 de junho deste ano, foram computados 184 votos contra dois – os tradicionais de Estados Unidos e Israel. O Brasil, que historicamente votava contra o embargo e se posicionou a favor da resolução em 2019, se absteve. Ucrânia e Colômbia fizeram o mesmo.

Apenas uma vez, em 2016, Washington optou pela abstenção, em um contexto de aproximação do governo de Barack Obama com a ilha. Os dois países restabeleceram relações em 2015, mas Donald Trump reativou a beligerância ianque, no bloqueio econômico mais longo já imposto a um país em toda a história.

O atual presidente norte-americano Joe Biden, que participou da política de reaproximação com Cuba como vice de Obama, não reverteu nenhuma das sanções impostas por Trump. Durante a campanha, no entanto, prometera mudar a postura, chegando a afirmar que a linha dura do republicano contra Cuba “não fez nada para se avançar na democracia e nos direitos humanos” na ilha. Agora, manda Díaz-Canel “escutar seu povo”.

Com informações de pt.org.br .

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