sexta-feira, 9 de julho de 2021

Epidemia: Bolsonaro tenta apagar rastros de crimes exonerando diretor da Saúde

A fila no Ministério da Saúde anda rápido. Numa tentativa de apagar rastros, o desgoverno Bolsonaro exonerou Lauricio Monteiro Cruz do cargo de diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde.  Lauricio Cruz avalizou o reverendo Amilton Gomes de Paula, fundador da ONG Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), na negociação da compra superfaturada de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca com a empresa Davati Medical Supply.

Governo tenta empurrar corrupção para debaixo do tapete


A exoneração, publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta quinta-feira (8) e assinada pelo ministro chefe da Casa Civil, general da reserva Luiz Eduardo Ramos, é mais uma da “queima de arquivo” promovida a toque de caixa no MS.

No dia anterior (7), foi publicada a exoneração do diretor de Logística Roberto Dias, acusado de ter cobrado propina pela negociação das supostas vacinas da Davati. Dias recebeu voz de prisão na CPI da Covid por mentir aos senadores durante o depoimento, nesta quarta-feira. No mesmo dia, foi aprovada a convocação do reverendo Amilton Gomes de Paula.

Ligado à Igreja Batista, o reverendo foi quem abriu as portas do ministério para o cabo da Polícia Militar e revendedor de vacinas Luiz Paulo Dominghetti. Na última semana, Dominguetti acusou Dias de cobrar propina de US$ 1 por dose para fechar o contrato com a Davati.

E-mails revelados em reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, mostram que a vacina foi oferecida pelo reverendo por US$ 17,50 a dose, três vezes mais do que os US$ 5,25 que o Ministério da Saúde pagou por dose da vacina AstraZeneca comprada em janeiro, de um laboratório na Índia. A quantia negociada pelo reverendo é ainda bem maior do que os US$ 3,50 mencionados por Dominghetti na CPI da Covid.

O nome de Lauricio Cruz, nomeado em agosto de 2020 pelo então ministro e general Eduardo Pazuello, surgiu ao longo das investigações da comissão sobre as negociações suspeitas com a Davati.

A primeira reunião do grupo ocorreu em 22 de fevereiro, no Ministério da Saúde. O reverendo foi ao encontro levando Dominghetti e Hardaleson Araújo de Oliveira, um oficial da Força Aérea. A lista de presença da reunião indica que o encontro teve como assunto “Aquisição de vacina Astrazeneca” e contou, por parte do ministério, com a participação de Lauricio Cruz e do assessor jurídico do Ministério da Saúde Eliel Barros.

Em entrevista à CNN, Lauricio disse que o líder religioso ofereceu os 400 milhões de doses de Astrazeneca, citando uma proposta de “US$ 3 e pouquinho” por dose. “Logo que ele expôs isso nós agradecemos e endereçamos à Secretaria Executiva”, afirmou. Na época, a Secretaria Executiva estava sob o comando de Antônio Élcio Franco, coronel da reserva do Exército e atualmente assessor na Casa Civil do general Ramos.

Segundo o agora ex-diretor, o reverendo havia conseguido a audiência por meio de um pedido feito à assessoria internacional da pasta. Ele chegou a postar em uma rede social foto do encontro no Ministério da Saúde. “Senah faz reunião no ministério para articulação mundial em busca de vacinas e para a consecução de uma grande quantidade dos imunizantes a ser disponibilizada no Brasil”, escreveu na legenda.

Em documento assinado pelo reverendo, datado de 8 de março e endereçado a Herman Cárdenas, presidente da Davati, ele pediu documentos oficiais da empresa para apresentá-los ao governo brasileiro. Em 10 de março, em novo e-mail para Cárdenas, agradeceu a “confiança depositada” na Senah em “conduzir negociações com o Ministério da Saúde do Brasil”.

O reverendo afirmou na mensagem que as negociações estariam na etapa final e o contrato seria assinado em 12 de março. Para tanto, precisaria que um documento de venda atualizado fosse enviado no valor de US$ 17,50 a dose.

Lauricio Cruz também enviou e-mail para Cárdenas, em 9 de março. “Informo que o Instituto Nacional de Assuntos Humanitários, representado pelo seu presidente Amilton Gomes, esteve no Ministério da Saúde em agenda oficial da Secretaria de Vigilância em Saúde e no Departamento de Logística com a discussão sobre as tratativas sobre a vacina da AstraZenica (sic) e que o mesmo foi encaminhado para a Secretaria Executiva do Ministério da Saúde”, afirmou.

A negociação acabou não se concretizando após o secretario Élcio Franco ser exonerado, no fim de março. A AstraZeneca afirmou que não negocia a venda de vacinas por meio de empresas ou representantes comerciais, e vende diretamente a governos.

Escolha de Pazuello, Lauricio incluiu veterinários no grupo prioritário de vacinação


Presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) do Distrito Federal e funcionário da Secretaria de Saúde do DF desde 1989, Lauricio Cruz foi nomeado para o Departamento de Imunização por Eduardo Pazuello quando ele ainda era ministro-interino, em 31 de agosto de 2020. O departamento faz parte da Secretaria Nacional de Vigilância em Saúde (SVS), responsável por traçar a estratégia de controle e prevenção de doenças transmissíveis.

O cargo estava vago desde março de 2020, com a saída do médico infectologista Júlio Croda. O diretor interino, também veterinário, era o servidor de carreira Marcelo Wada, coordenador de Vigilância de Zoonoses. Wada tem mestrado em saúde coletiva e especializou-se em epidemiologia pela Universidade Johns Hopkins, nos Estado Unidos, uma das maiores referências académicas no estudo da pandemia do coronavírus.

No dia da nomeação, o Brasil já totalizava 121.515 mortes e 3.910.901 casos de infeção, sendo o segundo país do mundo com maior número de infectados e mortos, apenas atrás dos Estados Unidos. Com 212 milhões de habitantes e um elevado número de casos, o país foi considerado um laboratório ideal para testar várias potenciais vacinas.

Com informações de pt.org.br .

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