O depoimento de Luiz Paulo Dominguetti à CPI da Covid, nesta quinta-feira (1º), foi cercado de polêmica e levantou desconfianças entre senadores sobre os reais motivos por trás das denúncias apresentadas pelo policial militar de Minas Gerais sobre um esquema de corrupção na negociação da vacina AstraZeneca pelo Ministério da Saúde.
Dominguetti, representante da empresa Davati Medical Suply, confirmou a realização de um jantar, no dia 25 de fevereiro, em um shopping de Brasília, no qual o então diretor de Logística da pasta, Roberto Ferreira Dias, pediu propina para fechar um negócio envolvendo a compra de 400 milhões de doses do imunizante.
Diante da proposta de venda de U$ 3,50 a dose da vacina, Dias teria proposto, segundo Dominguetti, o pagamento de U$ 1 por dose como propina para fechar o negócio. O vendedor disse que o acordo não foi para frente. Participaram do jantar, segundo relato de Dominguetti, um empresário não identificado e o tenente-coronel do Exército Marcelo Blanco, ex-assessor no departamento de logística do Ministério da Saúde.
A surpresa veio logo em seguida. Durante o depoimento, Dominguetti informou à CPI que o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) procurou a empresa representada pelo policial para intermediar a compra de vacinas. Miranda denunciou na sexta-feira (26) um esquema de corrupção na Saúde, com conhecimento de Jair Bolsonaro, na compra da vacina indiana Covaxin.
Dominguetti apresentou um áudio, repassado pelo CEO da Davati, Christiano Alberto Carvalho. Estranhamente, Carvalho já foi visto em palestra ao lado do empresário bolsonarista Carlos Wizard. Na gravação, Miranda diz que tem “potencial comprador e com potencial de pagamento instantâneo”. Dominguetti insinuou que o deputado federal se referia ao irmão, o servidor da Saúde Luis Ricardo, também presente à CPI na mesma sessão e autor da denúncia do esquema na Saúde.
Quase imediatamente, Miranda rebateu a versão de Dominguetti, dizendo que o áudio é de 2020 e que tratava da compra de luvas. “A intenção é clara desde o princípio, é descredibilizar as testemunhas que de fato trouxeram evidência que existe corrupção dentro do Ministério da Saúde”, apontou o deputado. Ele disse que irá apresentar o áudio original, registrado em cartório, e provar a existência do esquema na pasta. Dominguetti teve o celular apreendido pela comissão e chegou a ser ameaçado de prisão.
O policial vendedor de vacina informou que outros dois técnicos do ministério tinham conhecimento da proposta de venda da AstraZeneca, além de Roberto Dias: Elcio Franco, numero dois do então ministro Eduardo Pazuello, e um servidor de nome Laurício, identificado como integrante do setor de vigilância sanitária. Ele relatou que o contato com Franco e Laurício foi feito por meio de uma ONG do Distrito Federal que faz serviços humanitários. Trata-se da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), de cunho evangélico, dirigida por Amilton Gomes de Paula.
Segundo a Agência Pública, a Senah ofereceu imunizantes da AstraZeneca e da Johnson para prefeituras e governos estaduais com a Davati Medical Supply. Com Dominguetti, a ONG articulou vacinas na Saúde. A oferta, segundo reportagem do site, era de U$ 11 cada dose.
Dominguetti, bolsonarista convicto nas redes sociais
A despeito de suspeitarem que a Davati tivesse condição de entregar 400 milhões de doses da AstraZeneca ao país, senadores da oposição estranharam o teor do depoimento de Dominguetti e a apresentação do áudio que colocou em dúvida as denúncias de Miranda.
Durante sua participação na oitiva, o senador Rogério Carvalho identificou Dominguetti como um bolsonarista convicto nas redes sociais, mostrando vários posts em seu perfil no Facebook. Ele também apontou seu depoimento como mais uma estratégia diversionista do governo federal. E lembrou que o Ministério da Saúde não precisa de intermediários para comprar vacinas.
“Não resta dúvidas, Dominguetti é um bolsonarista e foi plantado para desqualificar uma das principais linhas da CPI: As denúncias de corrupção no Ministério da Saúde”, concluiu o senador.
“A testemunha Luiz Dominguetti tem todo o jeito de ter sido plantada”, destacou o senador Humberto Costa (PT-PE).” Mas faz uma gravíssima denúncia contra integrantes do governo que precisa ser apurada: pedido de propina para a aquisição de vacinas. Ele pode estar a serviço do bolsonarismo ou de briga de gangues que atuam no Ministério da Saúde”, disse.
Com informações de pt.org.br .
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