segunda-feira, 10 de abril de 2023

Massacre dos primogênitos: psicologia explica como as perdas humanas podem ser tratadas

Cuidado profissional, acolhimento e sinceridade com os sentimentos. Essas são as sugestões da psicóloga Catarina Gewehr sobre como os envolvidos do ataque a creche de Blumenau ( na Região do Alto Vale do Rio Itajaí ),no Estado de Santa Catarina, podem amenizar a dor após o caso, principalmente para as famílias das quatro crianças que morreram.



Crime matou quatro crianças ( Foto : Tiago Ghizoni / NSC Total) 

Moradora da cidade, ela diz que apesar de todos serem impactados, a atenção para superar os traumas deve ser redobrada entre as crianças. Apesar da dificuldade em explicar a situação, a psicóloga afirma que, ao lidar com crianças até um ano e meio, é necessário manter a rotina de alimentação e higiene e a tranquilidade. Já a partir dos dois anos é possível usar palavras, não inventar histórias e conversar com calma. 

— Criança é feita de percepção, isso vai organizar o comportamento dela. Tudo precisa ser dito com acolhimento, "olho no olho". Caso o adulto chore, explicar que é uma situação triste, nunca dizer que é "nada" — destaca. 

Para as crianças que presenciaram o crime, Catarina diz ser importante o retorno à escola com questões sentimentais.

— Se está triste, sugere fazer um desenho, por exemplo. Se elas estão brabas, precisam falar sobre. Também é necessário que os adultos exponham o que sentem para as crianças mais velhas que passaram por casos como este — analisa. 

Após a tragédia, a psicóloga ressalta que a creche Cantinho Bom Pastor ( CBP ) deve promover formas de celebrar a vida e a memória de quem estudou no local, ressignificando o espaço com novas cores,  promover círculos de cuidados e diálogos com familiares que perderam uma criança. 

— É importante que o espaço demonstre efetivos de segurança para todos, mas no campo das emoções é necessário um trabalho de reorganização das expressões sobre o acontecido. São esses processos que ajudam a passar por esses momentos dilacerantes — aponta. 

Ainda conforme a profissional da área de saúde mental, não basta colocar um policial armado, câmeras e cercas elétricas, é necessário que pais, responsáveis e educadores pensem em projetos relacionados à infância. 

— Uma boa alternativa é aumentar a cooperação e o compromisso comunitário com a instituição. Não deixar que casos como esse mantenham o sentimento de medo no local — pensa. 

Impacto em toda cidade

Para Catarina, experiências de ataques como a do dia Cinco de abril de Dois mil e vinte e três hoje geram sentimentos de desolação nas pessoas.

— Blumenau está um silêncio. Não é normal nem para o horário, nem para o dia da semana. É um peso, uma sensação de que algo muito irregular aconteceu — conta.

Nas crianças, conforme ela, o fato causa impasses primeiro na linguagem, sendo que a percepção delas é alterada conforme o adulto repassa a informação, mesmo entre as que presenciaram o crime. 

— Geralmente, o adulto chora e dá resposta sem nexo para criança. É necessário entender que é legítimo estar triste, necessário manifestar, não fingir que está tudo bem. Assim, as crianças tendem a superar de maneira melhor casos devastadores como o ataque à creche — explica. 

“Serão muitos ciclos de perda de força”, diz psicóloga

Conforme Catarina, é normal que a população sinta desolação nos próximos períodos, sentindo tristeza, raiva, depois querer justiça, em seguida pensar o que poderia ter feito para evitar e, em seguida, novamente tristeza. 

— Serão muitos ciclos de perda de força. Todos os envolvidos vão precisar de ajuda profissional até que a situação perca a força de tirar a força das vítimas. Esses acontecimentos impactam por muito tempo — lamenta. 

Catarina reforça ser necessário que o país pense em ferramentas e políticas públicas com objetivo de promover uma cultura de paz, de diferenças e de valorização da vida, em vez de promoção de ideias a favor de armas, por exemplo.

— Produzir um enfrentamento pela vida, mudar perspectivas que nos últimos tempos tiveram muito valor: a cultura bélica, "do que eu quero e o outro que se aguente". É preciso desenvolver um pensamento coletivo, de que valor primordial da vida seja o cuidado com todos os cidadãos — finaliza.

Com informações de:


Lucas Koehler ( lucas.koehler@nsc.com.br ) . 

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