Flagrado com 39 quilos de cocaína em um avião da comitiva de Jair Bolsonaro em Sevilha (Espanha), em junho de 2019, o sargento da Força Aérea Brasileira (FAB) Manoel Silva Rodrigues já havia cometido o crime pelo menos em sete viagens oficiais antes da prisão. O militar foi preso após desembarcar do avião de apoio a uma missão presidencial no Japão, para reuniões com a cúpula do G20.
Inquérito da Polícia Federal (PF) tornado público pelo portal ‘UOL’ aponta que a primeira viagem identificada ocorreu em março de 2019, do Distrito Federal para São Paulo. Segundo a PF, Manoel e a esposa, Wilkelane Nonato Rodrigues, passavam por dificuldades financeiras, mas a situação teria melhorado após a viagem.
Trocas de mensagens entre Manoel e Wilkelane dão ainda mais indícios do tráfico. O sargento chegou a enviar para a mulher uma foto com um terço enrolado nas mãos. Segundo o Ministério Público Militar (MPM), a atitude não configura “ato de fé”, e sim um aviso: o militar havia tido sucesso no crime após uma missão oficial, em abril de 2019, ao Azerbaijão, que passou pela Espanha.
Após a viagem ao Azerbaijão, Manoel comprou uma moto Honda NC-750-X por R$ 32.900 e gastou R$ 26 mil na reforma de um apartamento em Taguatinga (DF). Investigações apontam que o sargento recebeu ao menos R$ 100 mil na ocasião.
Dentre os voos identificados pela PF, estão quatro domésticos (São Paulo e Recife) e três internacionais com escalas na Espanha, onde era entregue a cocaína. Antes das viagens o sargento se hospedava em um motel no Park Way, onde receberia a droga a ser transportada.
O inquérito inicial aponta para a participação de outros militares brasileiros e a continuidade do esquema após a prisão de Manoel. Ao menos quatro oficiais da Aeronáutica estão sendo investigados por utilizar as aeronaves para a realização de tráfico nacional e internacional durante missões da FAB.
Um deles seria o sargento Jorge Luiz da Cruz Silva, que usava o codinome de “Flamengo”. Ele e Manoel estavam no mesmo local em 28 de abril, véspera da viagem ao Azerbaijão, e em 24 de junho, um dia antes de uma missão ao Japão.
Ednilson Pires, promotor de Justiça Militar, afirma que “colocaram o Estado brasileiro, as Forças Armadas e o próprio presidente da República em posição vexatória perante a sociedade e a comunidade internacional.”
Conforme o Superior Tribunal Militar (STM), outros envolvidos estão em liberdade devido a medidas cautelares. Wilkelane foi solta dias após a detenção. Manoel foi condenado pelo Superior Tribunal da Andaluzia, na Espanha e atualmente cumpre pena em uma prisão espanhola após confessar o crime de tráfico internacional.
Quatro empresários são apontados como cúmplices
A PF aponta um grupo de quatro autointitulados empresários de Brasília como cúmplices dos militares. Entre eles, o filho de um diplomata italiano, Michelle Tocci. Os outros são Marcos Daniel Penna Borja Rodrigues, o Chico Bomba, Augusto César de Almeida Lawal e Márcio Moufarrege.
Três deles foram alvos de mandados de buscas e apreensão durante a Operação Quinta Coluna, deflagrada em Brasília em 2 de fevereiro deste ano. As investigações da PF apontam Chico Bomba como chefe da organização criminosa. Os agentes apuraram que ele foi apresentado aos militares por Augusto César e Márcio Moufarrege.
Documentos apreendidos em um dos endereços relacionados a Chico Bomba o ligam a Márcio Moufarrege e também ao sargento da Aeronáutica Jorge Luiz da Cruz Silva, acusado de recrutar os militares para o tráfico de drogas com o uso dos aviões da FAB.
A documentação se refere a um imóvel no lago Paranoá, em Brasília (DF), adquirido por Jorge em 2012. Os agentes federais descobriram que há um contrato de transferência do imóvel para Márcio Moufarrege. Os pagamentos do aluguel eram feitos para o sargento.
A PF também recebeu informações de um colaborador anônimo e afirma que checou todas elas criteriosamente. O denunciante revelou que Chico Bomba e Michele Tocci, filho de ex-adido cultural da Embaixada da Itália no Brasil, já mantiveram ligações em um esquema criminoso envolvendo o tráfico internacional de drogas.
Em 2003, Tocci e Augusto César foram alvo da Operação Conexão Holanda, deflagrada pela Polícia Civil do Distrito Federal para combater uma quadrilha que contratava “mulas” para levar cocaína a Amsterdã (Holanda) e de lá trazia haxixe, ecstasy e skank para Brasília.
Foi a partir daí que Michele Tocci passou a ser chamado de “barão do ecstasy”. As drogas eram distribuídas para jovens de classe alta do Distrito Federal em raves. Augusto César foi preso em Florianópolis.
Tocci conseguiu fugir em um veículo. Porém, no início de setembro de 2008, ele foi preso. No julgamento em primeira instância, ele foi condenado a seis anos de prisão. A defesa dele recorreu e a Justiça reduziu a pena para um ano e oito meses.
Com informações de pt.org.br .
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