quinta-feira, 8 de julho de 2021

Epidemia: depoente é preso em flagrante mentindo durante CPI

O presidente da CPI da Covid Omar Aziz (PSD-AM) deu voz de prisão na sessão desta quarta-feira (7) ao ex-diretor de Logística da Saúde, Roberto Dias Ferreira. Aziz entendeu que Dias mentiu em seu depoimento ao deixar de detalhar as circunstâncias para aquisição, pelo Ministério da Saúde, das vacinas Covaxin e AztraZeneca. Os dois processos são alvo de investigação por suspeita de um esquema de corrupção na pasta. Exonerado na semana passada após o estouro dos escândalos, ele responsabilizou o ex-secretário Executivo da Saúde Elcio Franco pela gestão de todos os processos. A atuação de Franco no setor de Logística levou senadores a discutirem uma possível acareação entre os dois.

O depoimento do ex-diretor de Logística Roberto Ferreira Dias levantou suspeitas entre senadores de uma guerra de 'facções' na Saúde. Comissão avalia acareação entre Dias e Élcio Franco, ex- secretário Executivo de Pazuello


A estranha coincidência de um encontro entre Dias e o vendedor de vacina Luiz Paulo Dominguetti, transformado de um chope casual para negociações sobre venda de imunizantes por aparente obra do destino, intrigou os senadores da CPI. Dias, pivô de nebulosas disputas internas no governo Bolsonaro, confirmou o encontro com Dominguetti no dia 25 de fevereiro, em um shopping de Brasília.

O gestor alegou, no entanto, que marcou de se encontrar apenas com o amigo e ex-quadro da Anvisa José Ricardo Santana. A trombada com Dominguetti, a quem Dias chamou de “picareta”, não foi combinada, de acordo com relato do gestor. Dominguetti apareceu no restaurante ao lado do tenente coronel Marcelo Blanco, então seu assessor, e disse representar uma empresa supostamente autorizada a vender vacinas da AstraZeneca, a Davati Medical Suply.

À CPI, na semana passada, Dominguetti acusou o ex-diretor de cobrar, no encontro, propina de U$ 1 para que o governo federal comprasse 400 milhões de doses da AstraZeneca, oferecidas por U$ 3 e disponíveis “a pronta entrega” pelo vendedor. O representante da Davati, que também é cabo da Polícia Militar de Minas Gerais, afirmou que, após a pressão por propina, o negócio não prosperou.

Dias caiu em contradição ao relatar que pediu à Dominguetti que procurasse os canais formais da pasta, que apenas manifestou interesse em saber se a empresa poderia entregar todos os lotes da vacina e se tinha uma carta formal que a autorizasse a negociar em nome da AstraZeneca. Mas ele vinha mantendo contato com a Davati desde o dia 10 de fevereiro, conforme apontou o senador Rogério Carvalho (PT-SE) na oitiva.

Elcio Franco


O servidor negou ainda acusações de pedido de propina e jogou a responsabilidade pela negociação da compra de vacinas contra a Covid nos braços de Élcio Franco, o número dois do ex-ministro Eduardo Pazuello. Segundo Roberto Dias, Franco interferiu na diretoria de logística, trocando dois assessores dele por militares.

Ele insinuou que o depoimento de Dominguetti pode ter sido plantado para tirá-lo do cargo e levantou suspeitas entre senadores sobre uma disputa de diferentes grupos criminosos atuando na pasta, com a participação de militares.

Humberto Costa responsabilizou Elcio Franco, que, segundo o senador, recebeu super poderes para comprar vacinas mas não o fez, atrasando ou simplesmente ignorando ofertas sérias, como as da Pfizer, e deixando passar tentativas de golpe, como a da Covaxin. “Ele precisa vir aqui explicar”.

O senador lembrou ainda que Franco foi escalado para fazer a defesa do governo ao lado do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni. Lorenzoni utilizou-se de uma coletiva de imprensa para acusar os irmãos Miranda de apresentar invoice falso da operação de compra da vacina, logo que o escândalo veio à tona. 

Davati


Carvalho desmentiu o depoimento de dias, lembrando que o gestor manteve contato com representante da Davati pelo menos desde do dia 10 de fevereiro e não apenas no dia 25, data do ‘happy hour’ com Dominguetti.

O senador afirmou que o gestor mentiu quando diz que não negociou vacinas e que a responsabilidade pela negociação era apenas da Secretaria Executiva. O petista  demonstrou, com cópias de documentos e emails enviados, que Dias, ao contrário, também trabalhou para negociar a vacina Covaxin em nome do ministério.

E-mail à Anvisa


Ele chamou a atenção para o fato de que Dias enviou e-mail à Agência de Vigilância Sanitária, no dia 23 de março, solicitando autorização, em caráter excepcional, para a importação de 20 milhões de doses da Covaxin, antes da documentação da empresa Precisa ser enviada ao órgão.

Do mesmo modo, no dia 30, o servidor enviou um e-mail  à coordenação de Logística, subordinada à Secretaria, com uma lista de documentos pendentes para a autorização da importação da vacina. “O senhor diz que age de forma correta. Então por que autorizou o andamento de invoices da Covaxin com indícios de fraude?”, indagou o senador, abordando ainda as suspeitas sobre o pedido de propina.

Picareta


Humberto Costa (PT-PE) afirmou que o depoimento de Dias demonstra no mínimo a incompetência e a má fé do governo Bolsonaro no trato com a coisa pública. O senador considerou absurdo que gestores da pasta, incluindo o secretário Executivo e número dois de Eduardo Pazuello, tenham recebido Dominguetti em audiência, mesmo ele tendo sido classificado como um “picareta”.

“Esse ‘picareta’ sentou-se com o diretor do Departamento de Logística, com o secretário Executivo do ministério”, disse Costa. “Veja que governo desorganizado”, apontou. “Qualquer um, sem ter credencial oficial de uma empresa que seja idônea, se reúne com um diretor importantíssimo do ministério, vai pra happy hour com ele”, espantou-se. “É uma bagunça”.

“Em  governo sério, [Dominguetti] não passava da portaria”, resumiu o senador, que considerou o depoimento importante por demonstrar a “fragilidade administrativa, incompetência gerencial e falta de controles” do governo.

“A cada dia que se passa, nós estamos destampando uma verdadeira latrina de fatos. Esse governo é uma excrescência. É um governo sem comando, sem competência administrativa, sem sentimento por seu povo, sem qualquer desejo de proteger a população sofrida e assistida do Brasil”, lamentou Costa.

Ricardo Barros


Dias negou que foi indicado pelo ex-ministro Ricardo Barros, atual líder do governo na Câmara e apontado como chefe do esquema na Saúde pelos irmãos Miranda. Ele afirmou que foi indicado pelo ex-deputado federal Abelardo Lupion (DEM-PR), em 2018, pouco antes da indicação de Henrique Mandetta ao cargo de ministro, no ano seguinte.

Mas foi desmentido por Rogério Carvalho, que identificou ligações “explícitas” do ex-gestor a Ricardo Barros. Na visão do senador, foi Barros quem possibilitou que a carreira de Roberto dias ganhasse “novos rumos” na Saúde, por meio de contatos com a mulher do líder governista, Cida Borguetti, e de Onyx Lorenzoni, amigo de Barros.

“Até quando o senhor vai negar essa proximidade com Ricardo Barros que todo o Brasil já sabe?”, indagou Carvalho. “O senhor também que esconder alguém, como a depoente Regina [Oliveira]?

Para Carvalho, Dias é “mais um que vem a essa CPI blindar o andar de cima” e “mantém a estratégia do governo de não apontar os responsáveis por tantas mortes e, pior, por atos que cheiram a corrupção e que estão sendo desmascarados”.

Com informações de pt.org.br .

Nenhum comentário:

Postar um comentário