O que mede o desempenho de uma empresa? A resposta é: bottom line, ou seja, os resultados financeiros. Mas, como se medem verdadeiramente os resultados financeiros? Todo mundo fala de lucro - para alguns, é o cálice sagrado do executivo; para outros, é um palavrão. Mas o que é lucro, realmente? Como uma empresa, seus executivos, seus investidores e seus funcionários sabem que o lucro apresentado pela companhia é bom ou inadequado? Na verdade, o lucro recorde apregoado pela diretoria executiva de muitas empresas não consegue nem de longe cobrir custos genuínos e identificáveis, inflação, custo de continuar operando, custos estes que, embora só precisem ser pagos no futuro, já foram incorridos.
Este texto refere-se ao desempenho dentro de uma empresa. Porém, grande parte dele aplica-se igualmente a instituições não comerciais e sem fins lucrativos porque também elas existem para mostrar desempenho.
Homens de negócios habitualmente reclamam do analfabetismo econômico do público, e com razão. A maior ameaça ao sistema de livre iniciativa nos Estados Unidos da América ( EUA ) não é a hostilidade às empresas por parte de um grupo pequeno e barulhento, mas a ignorância que permeia toda a sociedade com relação tanto à estrutura do sistema como ao seu funcionamento.
Porém, os mesmos homens de negócios que tão ruidosamente reclamam do analfabetismo econômico são, eles próprios, os piores pecadores. Eles parecem não saber nada de lucro e lucratividade. E aquilo que eles dizem uns aos outros, e também ao público, tanto inibe a ação por parte das empresas como impede o entendimento público.
Isto porque o fato essencial no que se refere a lucro é que não existe esta coisa de lucro. O que existe são somente custos.
O que é chamado de lucro e apresentado como tal nas contas das empresas é custo genuíno e amplamente quantificável em três aspectos: como custo genuíno de um importantíssimo recurso, isto é, capital; como um prêmio de seguro necessário para os - de novo, amplamente quantificáveis - riscos reais e incertezas de toda a atividade econômica; e como custo dos empregos e pensões a serem pagos no futuro. A única exceção, o único saldo positivo verdadeiro, é o lucro genuíno de um monopólio, como aquele que está sendo agora extorquido pelo cartel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo ( OPEP ), no caso dos hidrocarbonetos.
Faz dos séculos que todos os economistas sabem que há fatores de produção, ou seja, três recursos necessários: mão de obra, terra ( isto é, recursos físicos ou naturais ) e capital. E todos deveriam ter aprendido nos últimos cinquenta anos que recursos grátis não existem. Todos os recursos têm um custo. Na verdade, os economistas estão muito à frente da maioria dos homens de negócios em seu entendimento e aceitação de um genuíno custo de capital. Alguns deles, como, por exemplo, Ezra Solomon, ex-membro, ex-membro do conselho de Consultores Econômicos - um grupo de economistas nomeados pelo presidente dos EUA para aconselhar a Casa Branca em assuntos de política econômica - e, agora de volta á Universidade de Stanford, conceberam ótimos métodos para se determinar o custo do capital e medir o desempenho de uma empresa em reavê-lo.
Sabe-se que no período pós-Segunda Guerra Mundial até o começo da inflação global, em meados da década de sessenta, o custo do capital em todos os países desenvolvidos no mundo livre ficava acima dos dez por cento ao ano ( quase certamente bem mais nas economias comunistas ). E é sabido que pouquíssimas empresas efetivamente faturam o suficiente para cobrir estes custos genuínos. Mas, até o momento, apenas um punhado de empresas parece saber que tal custo existe. E um número menor ainda delas parece saber se efetivamente consegue ou não cobrir tal custo. Mesmo estas poucas empresas nunca falam a respeito deste custo e nunca, em suas contas publicadas, põem seu próprio desempenho á prova neste quesito. No entanto, em termos de cobrir custos, não reaver o custo do capital conta como fracasso, tanto quanto não conseguir faturar o suficiente para cobrir os custos de salários ou de matérias-primas.
Atividade econômica é o empenho dos recursos atuais em expectativas futuras. Portanto, é o empenho no risco e na incerteza - no que se refere à obsolescência de produtos, processos e equipamentos; às mudanças nos mercados, canais de distribuição e valores de consumo; e às mudanças na economia, na tecnologia e na sociedade. Em qualquer coisa que se empenhe no futuro, as probabilidades são sempre adversas; não é dado aos seres humanos conhecer o futuro. Assim sendo, as probabilidades são sempre adversas; não é dado aos seres humanos conhecer o futuro. Assim sendo, as probabilidades sempre pendem mais para a perda do que para o ganho. Em um período de rápida mudança como o atual, os riscos e as incertezas seguramente não estão ficando menores.
Tais riscos e incertezas não podem ser determinados com precisão. Mas, nestes empenhos no futuro, há um risco mínimo que pode ser determinado, e até quantificado, com razoável grau de probabilidade. Nas empresas onde se tentou fazer isto - sabe-se que tanto na Xerox como na IBM, por exemplo, isto vem sendo feito há anos no tocante a produtos e tecnologias - , os riscos revelaram-se muito maiores que o presumido até mesmo pelos planos de negócios conservadores.
Os riscos de eventos naturais - incêndio, por exemplo - são, há muito tempo, tratados como custos normais das empresas. Uma empresa que não tenha feito a reserva apropriada para prêmios de seguro destes riscos teria todos os motivos para ser considerada uma empresa que está pondo em perigo seus ativos geradores de riqueza. Incertezas e riscos econômicos, tecnológicos e sociais não são menos reais. Também eles exigem um prêmio de seguro adequado - e provê-lo é função do lucro e da lucratividade.
Portanto, a pergunta certa a ser feita por qualquer diretoria executiva não é "Qual é o lucro máximo que esta empresa pode render?", mas "Qual é a lucratividade mínima necessária para cobrir os riscos futuros desta empresa?". E quando a lucratividade fica aquém deste mínimo - como acontecia na maioria das companhias que Peter F. Drucker dizia ter conhecido - , a empresa deixa de cobrir custos genuínos, põe em perigo sua sobrevivência e empobrece a economia.
Lucros são também os empregos do futuro e as pensões e aposentadorias futuras dos que hoje trabalham. Ambos são custos das empresas, como também custos da economia. o lucro não é a ´nica fonte de formação de capital; há também a poupança privada, naturalmente. Mas os lucros das empresas, quer sejam retidos ou distribuídos ( como retorno ao mercado de capitais ), são a maior fonte isolada de formação de capital para os empregos do futuro e, ao menos nos EUA, a maior fonte isolada de formação de capital para as pensões e aposentadorias futuras.
A definição mais satisfatória de progresso econômico é o aumento constante da capacidade de uma economia de investir mais capital para cada novo emprego e, assim, produzir empregos que tragam um padrão de vida melhor, bem como melhor qualidade de trabalho e de vida. Em mil novecentos e sessenta e cinco, antes de a inflação ter tornado cada vez mais difícil obter números significativos, o investimento por emprego, na economia americana, havia aumentado de trinta e cinco mil dólares para cinquenta mil dólares. No século vinte e um, por exemplo, na primeira montadora da indústria automobilística no Estado de Santa Catarina, por exemplo, este investimento teria sido de quinhentos mil reais por emprego direto gerado. É claro que há os impactos positivos de geração de cinco empregos indiretos para cada emprego direto gerado mas aí é outro tema que não será tratado neste texto. Essa exigência aumentará de forma bastante acentuada, uma vez que as maiores necessidades e oportunidades de investimento estão nos diversos setores industriais - de energia, meio ambiente, saúde, e, acima de tudo, na maior produção de alimentos, setor no qual o investimento de capital por emprego é muito mais alto do que a média das indústrias de produtos de consumo, as quais tem dominado a economia nestes últimos sessenta e cinco anos.
Ao mesmo tempo, o número de empregos necessários está aumentando acentuadamente - resultado do baby boom, ou explosão de natalidade, entre os anos de mil novecentos e quarenta e oito e mil novecentos e sessenta. Haverá a necessidade de aumentar o número de pessoas trabalhando em um por cento, ou quase um milhão de pessoas, a cada ano, até o início da próxima década, para que seja possível manter o compasso com as mudanças demográficas. Ao mesmo tempo, o número de aposentados também amentará - no mínimo porque, ao atingir a idade de aposentadoria, os trabalhadores aposentados viverá mais - , como também aumentarão as expectativas de renda dos aposentados. Qualquer empresa que não gere capital suficiente, isto é, lucro suficiente para prover esta expansão em termos de empregos e aposentadorias e pensões, não conseguirá cobrir seus próprios cursos previsíveis e quantificáveis e os custos da economia.
Estes três tipos de custos - de capital, o prêmio de risco da atividade econômica e das necessidades de capital do futuro - são, em grande medida, coincidentes. mas o que seria de se esperar de qualquer empresa é que cobrisse adequadamente a maior parte destes custos; do contrário, ela estaria operando no genuíno, certo e demonstrável prejuízo.
Há três conclusões a se tirar destas premissas elementares:
1) O lucro não é exclusivo do sistema capitalista ( incluindo os sistemas liberais, neoliberais, socialistas e comunistas ) de produção. É um pré-requisito de qualquer sistema econômico. De fato, as economias comunistas exigem uma taxa de lucro muito mais alta. Seus custos de capital são mais altos. E o planejamento centralizado acrescenta grande incerteza econômica adicional. Na verdade, as economias comunistas efetivamente operam com base em uma taxa de lucro substancialmente mais alta que a de qualquer economia de mercado, independentemente do fato de que, por razões ideológicas, ela seja chamada de taxa de produção em lugar de lucro, ou de reconhecer que o tal lucro é algo abstrato e não algo líquido. E as únicas economias que podem ser consideradas como sendo baseadas no planejamento do lucro são exatamente as economias comunistas, nas quais o produtor ( planejador do Estado ) impõe de antemão a lucratividade necessária, em vez de deixar que ela seja determinada pelas forças do mercado.
2) Os custos que são pagos a partir da diferença entre receitas correntes e despesas correntes de produção e distribuição são, integralmente, uma realidade econômica, estes custos devem ser demonstrados. É verdade que eles não são precisamente conhecidos ou conhecíveis quanto os custos de se manter operando supostamente o são. Porém, eles são conhecidos e conhecíveis dentro de limites que provavelmente não são em nada mais amplos nem mais indistintos dos que aqueles da maioria dos números de contabilidade de custos ou de depreciação - e eles podem ser mais importantes tanto para se administrar um negócio tanto para analisar o seu desempenho. De fato, não seria má ideia vincular os bônus e incentivos de executivos ao desempenho da empresa em cobrir adequadamente estes custos genuínos, em lugar de vinculá-los aos números de lucro, os quais frequentemente refletem alavancagem financeira tanto quanto desempenho econômico real.
3) Por fim, homens de negócios devem a si próprios e à sociedade que se bata na mesma tecla até que se entenda que não existe esta coisa de lucro. Só há custos: custos para tocar o negócio e custos para se manter operando; custos de mão de obra e matérias primas, e custos de capital; custos dos empregos de hoje e custos dos empregos do futuro e das aposentadorias e pensões do futuro.
Não há algum conflito entre lucro e responsabilidade social. Faturar o suficiente para cobrir os custos genuínos, os quais somente o chamado lucro pode cobrir, é responsabilidade econômica e social - de fato, é a responsabilidade social e econômica específica das empresas. Não é a empresa que obtém lucro adequado para cobrir seus custos genuínos de capital, para bancar os riscos do futuro e as necessidades do trabalhador e do aposentado do futuro, que tira o couro da sociedade, mas a empresa que não busca estes objetivos e, portanto, fracassa neste intento. Outras informações podem ser obtidas no livro Os novos desafios dos executivos, de autoria de Peter F. Drucker.
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