sexta-feira, 8 de março de 2019

Aposentadoria: 64 de idade significa 44' do segundo tempo

O dispositivo mais inteligente e os mais necessário inserido na legislação dos Estados Unidos da América ( EUA ), ampliando para setenta anos a idade de aposentadoria obrigatória para trabalhadores da iniciativa privada ( e eliminando-a por completo para funcionários públicos, nos EUA ), é o dispositivo que permite a aposentadoria obrigatória ou compulsória de executivos seniores aos sessenta e cinco anos de idade.

Se os executivos mais antigos não vagarem posições na cúpula executiva, os mais jovens não poderão subir. Peter F. Drucker dizia que até mil novecentos e oitenta e oito, conforme os filhos da geração baby boom iam atingindo a meia idade naquela época, haveria pressão por parte dos executivos jovens e ambiciosos situados na faixa dos trinta ou quarenta anos de idade, ávidos por promoção e bem qualificados para tal. Se aquela previsão se confirmou ou não até a segunda década do século vinte e um nos EUA não será objeto deste texto mas a ilação é útil para observar se o mesmo fenômeno se confirmaria em outros mercados. Além disso, o mal do qual o próprio sujeito não tem a menor consciência é a senilidade; e a senilidade em altos postos é uma das doenças mais degenerativas de uma organização.

No entanto, na forma como a lei foi redigida e é comumente interpretada, ela não será exequível e não será comprida - tampouco é desejável que o seja. O que é tanto exequível como desejável é uma política - que está bem dentro da lei, conforme seu texto original - segundo a qual executivos seniores são obrigados a sair aos sessenta e cinco anos, mas podem continuar no cargo até a nova idade normal de aposentadoria, aos setenta anos, em posição não executiva. Esta era a lei, então no maior Estado dos EUA, a Califórnia, conforme projeto de lei ( PL ) aprovado em mil novecentos e setenta e sete.

Mas no restante dos EUA, logo seria visto que aposentar executivos seniores aos sessenta e cinco anos quando as outras pessoas podem continuar trabalhando até os setenta é algo que não funcionará. Ainda não é sabido quantas pessoas da força de trabalho desejarão continuar trabalhando em tempo integral após os sessenta e cinco anos de idade, mas o que efetivamente é sabido é que, quanto mais alto se sobe nas escadas ocupacionais e de carreira, mais acentuadamente diminui o desejo de se aposentar.

Após passar a vida trabalhando embaixo da terra, os mineiros de carvão ficam, em regra, totalmente satisfeitos de se aposentar aos sessenta e cinco anos de idade. Executivos seniores, quase sem exceção, têm horror á aposentadoria, como também médicos e advogados. Eles começaram a trabalhar mais tarde. Fisicamente falando, nem de longe seu trabalho se compara ao exigido na maioria dos trabalhos operários ou braçais. Estes homens podem falar dos prazeres da caça e da pesca, do golfe e de ler todos os livros que ainda não leram. Mas em regra, eles mal conseguem aguentar seis semanas de férias longe do trabalho. Isso porque seu trabalho - diferentemente do trabalho dos mineiros de carvão - é altamente interessante para eles, e, na verdade, tende a absorvê-los.

Portanto, a aposentadoria compulsória de executivos seniores aos sessenta e cinco anos, embora bem aceita por todos os demais, será sabotada pelos próprios executivos seniores - se a aposentadoria significar que eles serão obrigados a pendurar as chuteiras. Se houver uma insistência em sua aposentadoria aos sessenta e cinco anos, quando outras pessoas podem ou são até encorajadas a continuar trabalhando, cada vez mais serão vistos homens altamente capazes e realizados de cinquenta e cinco anos de idade recusando a promoção para altos cargos executivos que exijam aposentadoria aos sessenta e cinco anos. Aí, haverá cada vez mais de se procurar profissionais de segunda classe para preencher os cargos.

O executivo sênior de sessenta e cinco anos de idade que se encontra em boa forma física e mental, como é o caso, hoje, da maioria deles, é um recurso por demais valioso para se descartado. A atual idade de sessenta e cinco anos para aposentadoria foi estabelecida nos EUA em meados de mil novecentos e vinte; biologicamente falando, um homem desta idade equivale hoje a um homem de cinquenta e três anos naquela época. Ele está no auge de sua atividade.

Não obstante, as pressões por parte da população podem tornar necessário que ele libere o cargo que ocupa. A única política sensata seria que os executivos seniores deixassem a cúpula executiva aos sessenta e cinco anos mas continuassem trabalhando como profissionais; contanto, é claro que assim o desejem.

Isto pode soar como um inovação radical. Sair voluntariamente do cargo - leia-se: descer um degrau - é algo que as pessoas sempre acham impossível de fazer - e, neste caso, implica receber menos dinheiro e ter menos poder. Mas isto já é prática padrão em algumas empresas e nunca causou problemas naquelas onde foi introduzida. Na Westighouse Eletric, por exemplo, os diretores abrem mão das funções e cargos executivos aos sessenta e cinco anos e se tornam conselheiros.

A pensão do executivo que se aposentasse seria baseada nos cinco anos de remuneração mais alta nos últimos dez ou doze anos, e não nos últimos cinco anos de emprego efetivo, para evitar penalidade financeira por tempos de serviço mais longos.

O principal a fazer é definir em conjunto com o executivo o pape que ele vai assumir quando deixar a vice-presidência ou a presidência. Isso requer uma preparação prévia, começando - a experiência indica - no mínimo seis meses, mas raramente mais de um ano, antes da data efetiva. ( É recomendável não começar cedo demais. As pessoas não estão prontas para pensar em tirar o time de campo muito antes de serem obrigadas a fazê-lo. )

O futuro papel deste executivo exige pensar com cuidado naquilo que se poderia chamar de prosseguimento de carreira ou prolongamento de carreira. Em que o executivo é realmente bom? Qual é seu real interesse? mas também: quais são as necessidades mais importantes da empresa?

O vice-presidente de marketing, por exemplo, pode ser o homem certo para assumir um importante trabalho na área de desenvolvimento de produto ou para definir, desenvolver, testar e introduzir uma nova política para o lançamento de produtos. Ou, então, ele pode ser a pessoa ideal para guiar um grupo de pequenas empresas empreendedoras que uma grande organização tenha financiado em parceria com pequenos empresários. O tesoureiro de sessenta e cinco anos da divisão internacional da companhia pode ser a pessoa mais indicada para treinar o pessoal de finanças da empresa em todo o mundo, nas áreas de gestão cambial e contabilidade ajustada pela inflação.

Algumas dessas atribuições podem começar em tempo integral e ir diminuindo gradualmente. Outras podem já começar em tempo integral e ir diminuindo gradualmente. Outras podem já começar na base do meio período. Mas todas elas elas usam as qualificações, experiência e status do alto executivo nas áreas em que ele pode dar uma importante contribuição. Ao mesmo tempo, elas o afastam da responsabilidade executiva e gerencial, juntamente com sua carga, suas limitações de tempo e suas pressões.

O executivo que desejar ter uma segunda carreira - e um número crescente de pessoas do mundo empresarial deseja - deve começar bem cedo. A faixa próxima dos quarenta e cinco anos é a melhor época para o executivo pensar o que quer da vida, as pessoas já sabem em que são boas, o que podem fazer e o que gostam de fazer. Tornar-se diretor profissional - trabalhando em tempo integral como membro em tempo parcial de quatro ou cinco conselhos - seria uma possibilidade. Diretores tarimbados e experientes são cada vez mais requisitados.

Mas, em sua maioria, os executivos seniores preferirão continuar atuando como executivos enquanto puderem, ou seja até os sessenta e cinco anos de idade. E, salvo se a pessoa tiver mudado de carreira mais cedo e já tiver adquirido alguma experiência nela, estará meio velha para iniciar uma segunda carreira ao sessenta e cinco anos, mas estará na idade certa para o prosseguimento ou prolongamento da carreira.

Não se deve ser difícil definir o que um executivo poderá assumir aos sessenta e cinco anos. Em geral, , porem, esta definição requererá a participação de alguém de fora, não necessariamente um psicólogo ou um especialista em recursos humanos, mas alguém externo ao problema, alguém que possa falar com liberdade, e em caráter confidencial, com o executivo que ele deixará de ser um executivo, que ele voltará a ser um trabalhador comum, não podendo mais chamar o avião da empresa com um assovio ou ter assento no comitê de gestão ou sequer no conselho de administração. Sua alternativa, é preciso deixar claro, é a aposentadoria.

Tudo isto pode parecer coisa de empresa grande. E, e fato, até o momento, somente grandes empresas, pelo que Drucker sabia na época, tem se preocupado com o prolongamento de carreira dos executivos ao atingirem a idade de sessenta e cinco anos. Mas a nova lei de aposentadorias, que permite que altos executivos sejam aposentados de suas funções executivas aos sessenta e cinco anos, deveria tornar o prolongamento de uma carreira uma questão de interesse muito maior por parte das pequenas e médias empresas. Nelas, costuma ser aguda a necessidade de atrair e reter jovens capazes; portanto, a necessidade de liberar altos cargos é especialmente grande. Mas, também nelas, a competência, o conhecimento, as habilidades e qualificações e a dedicação que os executivos de sessenta e cinco anos representam costumam ser elementos muito mais necessários e muito mais difíceis de substituir e repor do que nas empresas grandes.

Retirar-se do encargo da alta gestão aos sessenta e cinco anos é sensato e apropriado para as duas partes - executivo e empresa - , mas somente se esta prática for usada como oportunidade para por para trabalhar os pontos fortes e as capacidades comprovada de desempenho do executivo sênior, por ele, mas também pela empresa, sociedade e pela economia. Outras informações podem ser obtidas no livro Os novos desafios dos executivos, de autoria de Peter F. Drucker.

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