sexta-feira, 5 de abril de 2019

Acordos coletivos: a reinvenção dos sindicatos patronais e trabalhistas

Em mil novecentos e quarenta e cinco, quase quarenta por cento da força de trabalho dos Estados Unidos da América ( EUA ) era sindicalizada. Em mil novecentos e setenta e sete, a porcentagem havia caído para vinte e seis por cento. No ano seguinte o percentual já estava abaixo da casa dos vinte.

Em mil novecentos e quarenta e cinco, praticamente todos os trabalhadores sindicalizados estavam no setor privado, no qual a sindicalização era próxima de cinquenta por cento. Desde então, o grande crescimento no número de trabalhadores sindicalizados ocorreu no emprego público - no governo, em hospitais, em escolas, e assim por diante.

No setor privado, portanto, no máximo um em cada seis empregados é sindicalizado, sendo que os membros de sindicatos estão fortemente concentrados em indústrias maduras ou até em declínio. No setor privado, o número de sindicalizados voltou em mil novecentos e oitenta e um ao que era antes da tremenda onda de sindicalização da década de trinta.

O número de sindicalizados no setor público continua crescendo, mas está claramente encontrando resistência por parte dos pagadores de impostos e dos empregadores de serviços públicos. É duvidoso se os sindicatos de serviços públicos conseguirão manter o ritmo dos recentes ganhos, especialmente com relação à segurança do emprego e pagamento de aposentadorias, considerando a grave crise financeira dos governos municipais.

Ao mesmo tempo, o número de membros em sindicatos tradicionais do setor privado está mudando rapidamente. Por exemplo, os novos trabalhadores braçais são menos instruídos, em regra, do que o restante da população e não são mais instruídos do que os homens e mulheres que estão substituindo - surpreendente reversão de uma duradoura tendência americana. 

Em que pese a estratégia dos sindicatos ter mudado o foco das suas campanhas de sindicalização saindo do foco na quantidade de trabalhadores sindicalizados para a escolha seletiva de setores-chave, que têm o mais real e imediato poder de paralisar a atividade numa eventual greve, ainda que a maioria dos trabalhadores de outros setores decidam furar greve. Com a mudança de foco dos sindicatos, os EUA ainda são conhecidos pelos empregadores como o país dos sindicatos, independentemente de a quantidade de trabalhadores sindicalizados ter aumentado ou diminuído, seja em determinados setores ou de maneira generalizada. O mesmo ocorre com os sindicatos patronais: cada vez mais os acordos coletivos superam as negociações individuais e as leis trabalhistas em direitos e obrigações de empregados ou de empregadores.

Pessoas jovens e escolarizadas vão para a faculdade ou para uma faculdade comunitária e, em regra, não estão disponíveis para os empregos operários tradicionais. Os que estão sentem-se perdedores e são correspondentemente militares. Eles são também muito menos devotos do sindicato como causa do que os membros mais antigos.

As lideranças sindicais estão prestes, pelos menos segundo o que dizia Peter F. Drucker. Até os homens jovens dentre os líderes tradicionais já estão na casa dos sessenta ou  mais. E com o contínuo declínio da foça relativa dos sindicatos, juntamente com a contínua erosão das lideranças, veio um declínio do poder político ( pelo menos considerando a surpreendente impotência dos trabalhadores junto aos Congresso do ex-presidente Carter e ao governo do ex-presidente Carter, ambos os quais devem sua eleição à mão de obra organizada ) e do apreço público ( toda pesquisa de opinião mostrava que o público tinha menos confiança na massa trabalhadora do que em qualquer outra instituição ).

Dada esta desconfiança, esta frustração e o sentimento de quase desespero dos trabalhadores, é possível esperar tempos muito difíceis pela frente nas relações entre patrões e empregados. é possível que ambos os sindicatos ( patronais e trabalhistas ) tenham de se reinventar para obter os mesmos resultados que já obtiveram no passado. Se não em quantidade, pelo menos em qualidade.

Mas, ao mesmo tempo, as questões estão mudando. Os trabalhadores continuarão a pressionar por mais, mas pressionarão também pelo diferente.

A segurança do emprego é claramente uma questão central emergente. Os metalúrgicos, na rodada de negociações do acordo coletivo de mil novecentos e setenta e cinco, fizeram significativos avanços na questão do emprego vitalício para os membros. Este objetivo se tornará progressivamente parte do movimento trabalhista nos empregos tanto do setor privado como do setor público.

Com o emprego vitalício ou alguma variante, será responsabilidade da administração encontrar novos empregos para trabalhadores cujos atuais empregos estejam sendo modificados ou abolidos por mudanças tecnológicas. Isto exigirá um tipo de planejamento de mão de obra que, até agora, é praticamente desconhecido da indústria americana ( mas que há tempos é coisa comum no Japão ou na Suécia ).

E há também a questão da segurança sindical. Os líderes sindicais não lutam apenas pelos empregos dos membros, eles lutam também por seus próprios empregos e pela sobrevivência de suas próprias organizações.

Os novos empregos da indústria americana não estão onde os sindicatos estão. Não estão nas indústrias de produção em massa. Não estão nos trabalhos de ofício, como na construção civil. Portanto, os sindicatos tradicionais se sentem sendo postos de escanteio e ameaçados de extinção, pelo menos naquelas atividades sindicais tradicionais. Isto, sem dúvida alguma, levará à disputa jurisprudencial entre os sindicatos, que competirão entre si por um pedaço maior de um bolo cada vez menor. Ma levará também, e progressivamente, a demandar por parte dos sindicatos no sentido de congelar os empregos de último escalão de escritórios ou do comércio, com baixa escolaridade. Os jovens que estão entrando no mercado de trabalho têm, em sua maioria, alto nível de escolaridade e, portanto, não estão prontamente disponíveis para os empregos tradicionais na linha de montagem, na boleia do caminhão ou atrás de um balcão de loja.

Acrescente-se a este fato que o número de pessoas que estavam entrando no mercado de trabalho ( tirando jovens negros nos EUA ) caiu trinta por cento no início da década de oitenta ( como resultado da queda da taxa de natalidade que começou no início da década de sessenta ) e houve em seguida uma severa falta de substitutos para os operários e empregados de último escalão que estavam se aposentando.

Ao mesmo tempo, os países em desenvolvimento precisam agora encontrar empregos fabris e nos setores exportadores para o imenso número de jovens atingindo a idade adulta como resultado da explosão populacional que começou na década de cinquenta.


De modo que a situação é a seguinte: não importa o salário que seja pago, não será possível conseguir encontrar pessoas suficientes para fazer o trabalho tradicional e, portanto, haverá a necessidade de subcontratar trabalho intensivo em mão de obra para países em desenvolvimento. Cada vez mais, deve se partir para um intercâmbio internacional de trabalho por etapas de produção. Mas isto, é claro, ameaça os trabalhadores remanescentes nos setores domésticos.

O melhor exemplo disto são os cerca de cinquenta mil trabalhadores da indústria calçadista, em sua maioria idosos e principalmente concentrados numa pequena área, cujos empregos estão sendo ameaçados pelos produtos importados. No entanto, seria impossível conseguir mão de obra suficiente nos EUA para a produção de calçados suficientes para o mercado interno americano.

O mesmo se aplica quase integralmente à área siderúrgica, onde a indústria americana intensiva de mão de obra foi desbancada pela indústria siderúrgica altamente mecanizada do Japão e pela mão de obra barata em novas indústrias siderúrgicas automatizadas do mundo em desenvolvimento, por exemplo, a Coreia.

Como lidar com isto se for aceitar - como parece que esta aceitação está prestes a acontecer - princípio do emprego vitalício? Protecionismo é a resposta óbvia, mas é nitidamente a solução errada. Ele não ajudará os trabalhadores ou os empregadores, exceto por um curtíssimo espaço de tempo. Porque o protecionismo só ajuda quando uma indústria está crescendo. Do contrário, passado um período razoavelmente curto, ele prejudica a indústria e a economia.

Ao mesmo tempo, está claro que a política pública não ficará indiferente a uma adversidade genuína. De modo geral, os trabalhadores que estão sendo ameaçados pela produção compartilhada na economia internacional são homens e mulheres mais velhos que não são facilmente recapacitados ou recolocados em outros empregos. Deveria isto ser considerado uma obrigação nacional ( a abordagem adotada durante o governo do presidente dos EUA, Richard Nixon ) ou um problema da indústria ( que é a visão dos metalúrgicos e dos trabalhadores da indústria automobilística )? De qualquer forma, está claro que este será um grande problema de empregados e patrões.

E há também os problemas criados pelo rápido crescimento dos grupos de trabalho que não se enquadram em algum dos moldes tradicionais; o trabalhador mais velho que atingiu o que normalmente se considera a idade de se aposentar, mas que continua trabalhando, agora que a aposentadoria em idade preestabelecida está rapidamente desaparecendo; ou as mulheres casadas e mais velhas, que estão entrando no mercado em número crescente e que precisam cada vez mais de empregos de meio período em lugar de empregos de período integral. A questão dos direitos, benefícios e obrigações destes grupos ainda não foi pensada. Por exemplo, como fica a questão da senioridade e das promoções?

Estas são questões que certamente surgirão, mas com as quais patrões e empregados ainda não estão preparados para lidar. E há outras questões. Entre elas, a indexação dos salários para compensar as faixas de renda mais elevadas para as quais a inflação automaticamente empurrará os empregados, reduzindo substancialmente sua renda disponível; e resolver a questão da representação sindical nos conselhos de administração das empresas e nos conselhos de fundos de pensão de empregados.

A pergunta não é se estas questões virão; elas já estão aí. A pergunta é se a administração das empresas deixará a iniciativa inteiramente por conta dos trabalhadores, como tem feito há décadas. A reposta a isto representará um longo caminho andando rumo a determinar como serão as relações trabalhistas e as políticas trabalhistas do futuro. Outras informações podem ser obtidas no livro Os novos desafios dos executivos, de autoria de Peter F. Drucker.

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