O maior desafio dos Estados Unidos da América ( EUA ) em termos de infraestrutura para a década de noventa não eram os bilhões necessários para ferrovias, rodovias e energia. Era o sistema escolar, da pré-escola até o doutorado e o ensino pós-graduado de adultos. E ele exigiu algo muito mais escasso do que dinheiro - exigiu pensar e assumir riscos.
Não foi um desafio de expansão. Ao contrário, o explosivo crescimento de matrículas verificado nos últimos sessenta anos chegou ao fim. Em mil novecentos e setenta e oito, mais de noventa e três por cento dos jovens que estavam entrando no mercado de trabalho tinham completado no mínimo até a oitava série. Portanto, ainda que a taxa de natalidade tivesse algum aumento, teria sido pouca a expansão possível no número de matrículas do ensino fundamental e secundário.
As escolas de pós-graduação e profissionais ainda estavam repletas dos últimos cortes dos anos do baby boom, ou de explosão da natalidade. Mas, em mil novecentos e oitenta e cinco, esses estudantes foram sucedidos pelos grupos etários menores do baby bust, o período de queda da natalidade que começou em mil novecentos e sessenta. Decididamente, ocorreu o esperado: uma contração no número de matrículas.
Os últimos sessenta anos de convulsão social nas escolas também chegaram ao fim. O sistema de ônibus escolares públicos continuou sendo uma questão altamente emocional em grande números de áreas metropolitanas. E continuaram os esforços no sentido de usar as escolas para introduzir as mulheres em campos como o da engenharia, tradicionalmente considerados masculinos. Mas esta mudança já foi conseguida em muitos campos: metade ou mais dos estudantes de contabilidade em escolas de pós-graduação em administração, por exemplo, já era de mulheres. Quanto à maioria das outras questões sociais, o país não mais tentou usar as escolas como veículos de reforma social e reconstrução. Ficou cada vez mais claro para os legisladores que as escolas não puderam resolver todos os problemas da comunidade maior.
Ao contrário, nas décadas de oitenta e noventa, o grito de guerra foi a exigência de desempenho e assunção de responsabilidade. Por sessenta anos, os empregadores vêm contratando universitários por seus diplomas, não por suas capacidades; emprego, remuneração e muitas vezes até promoções têm dependido do diploma que a pessoa tem. Agora, muitos grandes empregadores estão começando a exigir mais que a conclusão do cursos superior. Alguns dos mais importantes bancos, por exemplo, estão estudando a possibilidade de exames de admissão que testariam o conhecimento e as capacidades das pessoas formadas que estivessem se candidatando a empregos de trainees em administração.
Estudantes e também pais exigirão maior assunção de responsabilidade por parte das escolas de todos os níveis. De fato, com os empregos de professor ficando escassos, o poder maior estará nas mãos dos clientes de educação - pais, alunos, conselhos escolares - , por mais que os professores contra distritos escolares e faculdades por conceder diplomas sem passar as habilidades que presumivelmente os acompanhariam. E muitos jovens já estão mudando para matérias práticas, concretas. Não dando atenção às palavras de encantamento da cultura jovem e da mídia, eles vêm mudando da psicologia para a medicina, da sociologia para a contabilidade e dos estudos afro para a programação de computador.
A demanda por educação está efetivamente aumentando, não diminuindo, e bem rápido, é a demanda pela educação tradicional em escolas tradicionais.
Na verdade, o setor que mais cresce hoje nos EUA pode ser o do ensino profissional continuado de adultos altamente escolarizados e em meio de carreira. Grande parte desta atividade se dá fora do estabelecimento de ensino - por meio de empresas, hospitais e órgãos governamentais que realizam cursos para empregados administrativos e profissionais ou por meio de associações de administração de empresas ou de associações comerciais. Enquanto isto, certo número de empresários privados está organizando seminários e cursos, produzindo fitas de áudio e filmes de treinamento, e também de outras formas aproveitando as oportunidades de crescimento que os docentes das universidades evitam.
A demanda pela educação continuada não vem da forma que a maioria dos observadores, incluindo Peter F. Drucker, esperava de início - a saber, aulas de grandes livros para adultos desejosos de aprender sobre humanidades, sobre artes, sobre a vida mental. Ao contrário, deparou-se com uma demanda insaciável por ensino profissional avançado: em engenharia e medicina, em contabilidade e jornalismo, em direito e em administração.
No entanto, os adultos maduros que voltam à sala de aula em busca destes estudos exigem também algo que os professores de matérias profissionais tão raramente são capazes de dar: uma perspectiva humanista que possa integrar o conhecimento profissional avançado e o conhecimento técnico avançado num universo maior de experiência e aprendizado. Uma vez que estes estudantes precisam também de horários não convencionais - à noite, nos fins de semana ou em cursos superintensivos que sintetizam o trabalho de um semestre em duas semanas - , suas exigências de aprendizado representam uma ameaça vaga mas real à academia. A resposta padrão da academia - produzir novos doutores para um novo departamento - é mais ou menos comparável a redesenhar o chicote de cocheiro para líderes no novo mercado de carruagens sem cavalos.
O maior desafio para os educadores deve provir das novas oportunidades de diversidade. Há agora a chance de aplicar as descobertas básicas do desenvolvimento psicológico e da pesquisa educacional dos últimos cento e cinquenta anos: a saber, que nenhum método educacional serve para todas as crianças.
Quase todos os jovens - e, ao que parece, os mais velhos também - são capazes de atingir os mesmos padrões dentro de um período razoável de tempo. Quase todos os bebês, por exemplo, aprendem a andar aos dois anos e a falar aos três anos. Mas não há dois deles que cheguem lá de maneira igual, conforme os pais sabem há séculos.
E é assim também nos níveis mais elevados. Algumas crianças aprendem melhor decorando, em ambientes estruturados com alto nível de certeza e rigorosa disciplina. Outras se desenvolvem melhor na atmosfera permissiva e menos estruturada de uma escola progressiva. Alguns adultos aprendem nos livros, alguns aprendem fazendo, alguns aprendem melhor ouvindo. Alguns estudantes precisam de doses diárias de informação; outros precisam de desafios, do quadro maior e de alto grau de responsabilidade para o desenho de seu próprio trabalho. Mas há muito tempo os educadores insistem que existe uma forma ideal de ensinar e aprender, embora eles não tenham chegado a um consenso com relação sobre qual forma seja esta exatamente.
Há cento e cinquenta anos, a grande maioria dos norte-americanos vivia em comunidades tão pequenas que as crianças podiam ir a pé à escola, que tinha apenas uma sala. E aí tinha de haver um método certo para que todas aprendessem.
Hoje, a grande maioria das crianças em idade escolar, nos EUA ( e em todos os países desenvolvidos ), vive em áreas metropolitanas com tal densidade demográfica que pode facilmente haver três ou quatro escolas de ensino fundamental - como também escolas de ensino secundário - a uma distância que permite a cada criança ir a pé ou de bicicleta. Portanto, haverá crescente demanda por algum tipo de sistema de vale-educação, possibilitando aos estudantes seus pais escolherem entre vias alternativas de aprendizado, oferecidas pelas várias escolas concorrentes.
De fato, a concorrência e as opções de escolha já estão começando a se infiltrar no sistema escolar. Escolas e faculdades fundamentalistas e evangélicas têm demonstrado capacidade surpreendente de prosperar durante um período de custos crescentes e queda de matrículas. Tudo isto, naturalmente, é um anátema para o sistema de escolas públicas. Mas a economia, as necessidades dos estudantes e o novo entendimento de como as pessoas aprendem deve levar á quebra do monopólio educacional tradicional, da mesma forma que os caminhões e os aviões quebraram o monopólio das ferrovias, e os computadores e chips estão quebrando o monopólio da telefonia.
Já no final do século vinte, já se viam fortes pressões no sentido de tornar as escolas responsáveis por examinar e definir que tipo de método de aprendizado é adequado para cada criança. É quase certo que haverá uma tremenda pressão, tanto por parte dos pais como dos alunos, por um ensino focado em resultados e pela responsabilidade de atingir objetivos estabelecidos para os estudantes individualmente. O ensino profissional de adultos altamente instruídos e em meio de carreira se tornará uma terceira faixa, adicionalmente ao trabalho de formação universitária e de pós-graduação ou profissional. Acima de tudo, a atenção se voltará novamente para as escolas e para a educação como principal investimento de capital e infraestrutura de uma sociedade do conhecimento. Outras informações podem ser obtidas no livro Os novos desafios dos executivos, de autoria de Peter F. Drucker.
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