Na ausência de grandes mudanças na política, os professores universitários tendem a se tornar uma espécie ameaçada de extinção das próximas décadas - e a sindicalização e os lobbies políticos provavelmente não ajudarão mais do que ajudaram a proteger as minas de antracito ou as ferrovias.
Em seu próprio interesse, os membros dos corpos docentes precisam de políticas radicalmente novas em três áreas. Eles precisam de um substituto eficaz para uma política de vitaliciedade que prejudica a eles próprios. Eles precisam de um desenvolvimento sistemático de pessoal que lhes possibilite aproveitar oportunidades futuras. E eles precisam da recolocação organizada do professor comum, de meia-idade, em trabalho e carreiras fora da academia. Mas, acima de tudo, os membros do corpo docente precisam de administração - seja a administração autoimposta seja a administração por administradores.
A mudança de status à qual os professores devem opor a mais tenaz resistência é qualquer mudança no sistema de vitaliciedade. Mas a vitaliciedade se tornará cada vez mais uma ameaça - até para os professores vitalícios. Em vez de proteger os professores de eventuais mudanças, ela os colocará numa armadilha. Sem mudanças na política de vitaliciedade, as faculdades logo ficarão impossibilitadas de trazer gente nova. isto, por sua vez, só fará acelerar o declínio das inscrições ao cargo de professor universitário, criando assim, maiores pressões no sentido de reduzir o tamanho do corpo docente e os salários dos professores. Mas, ao mesmo tempo, nos próximos vinte e poucos anos, os corpos docentes das faculdades estarão envelhecendo, e qualquer grupo que seja incapaz de se renovar, torna-se estagnado, rançoso; em última instância, ele apodrece. A atual política de vitaliciedade subentende - , só haverá três caminhos a seguir.
O primeiro é a continuidade da pressão de queda dos salários, em especial dos salários da maioria - os professores meramente competentes, de quarenta e cinco ou cinquenta anos de idade. É ilusão acreditar que pressões políticas ou sindicais sobre as legislaturas consigam sequer retardar a erosão dos rendimentos dos professores; haveria uma simpatia política verdadeiramente ínfima pelos professores e tampouco os professores mereceriam mais do que qualquer outro cabide de emprego.
Um segundo caminho seria os administradores de faculdades fecharem departamentos inteiros e áreas de estudo inteiras. Uma faculdade pode ter alunos suficientes para manter um departamento de belas artes ou de três ou quatro professores. Mas se o departamento tiver nove professores, todos eles vitalícios, a única forma de adequação será eliminar o departamento de belas artes. E, se os tribunais decidirem que isto fere a vitaliciedade, que a vitaliciedade dá direito ao emprego, será possível testemunhar o fechamento em massa de uma série de instituições - e não serão, em absoluto, só as pequenas.
O terceiro caminho seria oferecer aos professores uma série de contratos - talvez de três mais três e de cinco mais cinco anos, com prorrogação automática de um ano no caso de o contrato não ser renovado, dando, assim, ao professor bastante tempo para pesquisar o mercado. A decisão de conceder um contrato teria de ser tomada pelo devido processo legal, o qual implicaria não somente a participação do corpo docente, como também a participação externa de destacados e respeitados membros do corpo docente de outras instituições e, preferivelmente, também, de outras disciplinas, provavelmente também de leigos, em especial de ex-alunos. Somente depois de a pessoa ter cumprido cinco ou seis contratos - quando provavelmente terá passado dos cinquenta anos de idade - é que a vitaliciedade entraria.
Professores de faculdade precisam também de um desenvolvimento de pessoal organizado. Eles precisam se preparar para oportunidades futuras. Isto porque é possível esperar um crescimento substancial das inscrições para o magistério superior em duas áreas: na educação continuada, tanto profissional como geral, de adultos já altamente escolarizados e em faculdades comunitárias. Mas, hoje, os jovens acadêmicos não são estimulados a se tornar empregáveis no que ser refere a estas oportunidades. Qualquer um que tenha trabalhado em programas de educação continuada para adultos, em cursos de administração avançada ou em cursos de humanidades, sabe que a grande maioria dos professores universitários, até os habilitados, não pode fazer o trabalho, fracassar e ter de ser demitido. Eles são tão pouco especializados, a ponto de parecerem praticamente analfabetos para homens e mulheres maduros e experientes. Na faculdade comunitária, a capacidade de relacionar o assunto objeto de estudo à experiência, à aplicação, ao aprendizado - embora em grau bem menor - é igualmente necessária.
No ensino superior, o sistema de remuneração e incentivo promove a especialização e o isolamento. Embora esta possa ser a direção certa, hoje, para um professor universitário em início de carreira, ela será cada vez mais a direção errada, considerando as oportunidades do futuro para seu desenvolvimento e empregabilidade. Para progredir, ganha mais, o acadêmico terá de ser empregável onde as oportunidades estarão, isto é, no ensino superior avançado e continuado de adultos ou na faculdade comunitária.
Em outras palavras, há a necessidade do desenvolvimento sistemático do corpo docente. Há a necessidade de fazer na vida acadêmica o que agora é prática padrão em todas as outras áreas de emprego nas indústrias do conhecimento: o sistemático autodesenvolvimento do profissional em função de seus próprios desejos e habilidades e em vista das necessidades e oportunidades da profissão, do empregador, do mercado e da sociedade. Em termos concretos, isto significa expor os acadêmicos mais jovens aos desafios do ensino e do trabalho de pesquisa fora de suas próprias especialidades; ao ensino e á pesquisa com diferentes tipos de alunos; e a oportunidades de aprender, especialmente de aprender um pouco sobre o ato de ensinar.
Se não houver algum desenvolvimento organizado do indivíduo na academia, provavelmente a eficiência será imposta e a conformidade compulsória à medida que as oportunidades de emprego, progresso e renda forem mudando. Em vez de olhar os indivíduos e perguntar "Quais são seus pontos fortes e seus desejos, suas maiores oportunidades, suas maiores necessidades?", é possível que ocorra uma precipitação num programa de treinamento padronizado. É justamente pelo fato de a força do ensino superior residir na diversidade e nas contribuições individuais e altamente específicas que os professores universitários precisam de um esforço de desenvolvimento organizado e direcionado, um esforço concentrado tanto nos pontos fortes e desejos do professor individualmente como nas oportunidades na área do ensino superior.
Por fim, a academia precisa da recolocação organizada, tanto quanto qualquer outro grupo dos campos do conhecimento ou até mais. A academia precisa introduzir estes esforços sobretudo para o professor de meia idade e em meio de carreira, o homem de quarenta e cinco anos de idade cujo próprio interesse, em muitíssimos casos, demanda uma colocação fora da academia e em outro trabalho.
Quando os professores universitários atingem a faixa dos quarenta e poucos anos, eles tipicamente estão na vida acadêmica já há vinte anos - e tipicamente não trabalharam em algum outro ambiente. A esta altura da vida, a maioria doa professores universitários já fez toda a pesquisa que faria e já escreveu todos os livros que escreveria. Depois desta idade, apenas um pequeno número de pessoas de primeira categoria permanece produtivo. Certamente, estes acadêmicos e professores que continuam produzindo são as pessoas em quem todos pensam quando falam de historiadores, antropólogos ou metalúrgicos, mas seu número é realmente muito pequeno. O restante, na verdade, recolheu-se ao tédio. Eles conhecem sua própria área, mas ela não os entusiasma mais. Eles precisam de um ambiente diferente, de um desafio deferente, de uma carreira diferente. Eles precisam ser replantados.
Este professor universitário de meia idade está longe de ser acabado. Mas ele está entediado. E os remédios comuns - divorciar-se e se envolver com uma estudante de dezenove anos de idade; começa a beber; ir para o divã do analista - não curam a doença. E, a menos que esta pessoa competente mas entediada encontre um novo desafio, um novo ambiente, um trabalho diferente e colegas deferentes, a deterioração irreversível logo se instalará.
Professores precisam de esforços de recolocação organizados que possam encontrar oportunidades externas, seja no governo, na indústria ou na prática profissional, e que ajudem o indivíduo a ser mudar para elas. E esta é também a melhor maneira de restaurar a capacidade do ensino superior de atrair gente jovem, numa época em que o recrutamento de professores e os orçamentos tornam-se cada vez menores.
Outras profissões de há muito tempo reconheceram que precisam recolocar pessoal. Jovens advogados, contadores ou consultores de administração, por melhor que seja seu desempenho, serão colocados em outra posição por seu escritório se, por volta dos trinta e cinco anos de idade, não parecerem as pessoas certas para se tornarem sócios, isto é, se lhes faltar a capacidade de conduzir um caso ou um projeto de cliente ou de trazer novos clientes. Passados dez anos, os membros mais antigos destas práticas profissionais examinam novamente seus sócios e associados, e recolocam aqueles que não se tornarão sócios seniores. Embora não seja uma obrigação contratual, os esforços de recolocação ou remanejamento da empresa de auditoria e contabilidade atraente que se encaixe em suas habilidades e necessidades individuais e na fase do seu ciclo de vida pessoal.
Os professores universitários também têm estas necessidades. No entanto, tais soluções não se enquadram facilmente no conceito tradicional do acadêmico, seja o Herr Professor alemão ou o lente inglês. Mas os professores de faculdades e universidades americanas de hoje não se enquadram mais nestes modelos europeus. Os cerca de quinhentos mil empregos para professores universitários só existem porque o ensino superior tornou-se um emprego - uma enorme área de emprego. Mas embora o ensino superior tenha se tornado uma educação em massa e um grande negócio, é preciso fazer as coisas que salvarão a essência do acadêmico: liberdade, auto-direção e papel de liderança. Do contrário, em vinte anos, os professores de faculdades e de universidades terão se tornado apenas empregados - professores de nível secundário com graus e títulos inflados e salários desinflados - em sua posição, seu respeito próprio, sua influência e seu papel na sociedade. Outras informações podem ser obtidas no livro Os novos desafios dos executivos, de autoria de Peter F. Drucker.
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