Diante da lotação da emergência do Hospital Infantil Joana de Gusmão ( HIJG ), em Florianópolis ( Capital do Estado de Santa Catarina - SC ), pais e mães apelaram para o barulho e muitas reclamações para conseguir atendimento para os próprios filhos nesta segunda-feira ( Vinte e quatro de abril de Dois mil e vinte e três ). Crianças e responsáveis esperam por atenção médica em uma fila que chegou a Sete horas e que, apesar de andar, não parava de crescer. Os relatos no local são de indignação e até desespero de quem tem a unidade como principal opção para atendimento pediátrico na Grande Florianópolis.
Após cinco horas de espera na entrada da emergência, uma das mães decidiu bater na porta da classificação de risco para exigir atendimento ao filho que apresentava problemas respiratórios e já havia registrado febre no mesmo dia. Com revolta e alto tom de voz, a mulher pediu um termômetro para verificar a temperatura da criança.
— Só se a gente berrar ou se a criança estiver quase morrendo para ser atendido. Se a gente está aqui é porque precisa. Se não, eu estaria em casa. Tem hora que eles fazem pouco caso porque a gente está esperando. Você viu o que eu precisei fazer. Na primeira vez, não me deram o termômetro. Na segunda, ela deu e eu disse que iria chamar a polícia! E ela [ da equipe do HIJG ] disse pode chamar — relatou a mãe à reportagem.
Depois do primeiro confronto com os profissionais do atendimento da emergência, pelo menos mais dois pais protagonizaram desavenças com a equipe do local por conta da demora para chamar casos avaliados como prioritários. Um deles foi Jallal Ali Hussein, técnico de informática, que precisou medir a temperatura da filha e provar que ela estava com Trinta e nove vírgula Oito graus Célcius de febre para passar pela atenção de um médico.
— Se eu não tivesse usado o modo agressivo, de bater na porta e dizer 'quero um médico agora', eu não sei que horas teria sido atendido. Eu cheguei e ela estava febril, com Trinta e sete graus Célcius. Cinco horas depois, Trinta e nove virgula oito graus Célcius. Aí eu comecei a bater na porta com força e disse que não iria discutir com ninguém, mas que precisava de um médico imediatamente. E, então, me deixaram entrar — conta o pai.
Enquanto isso, crianças de colo choravam e a indignação tomava conta do ambiente lotado, sem lugares para sentar. Mesmo com a fila andando, mais famílias chegavam e o bancos não ficavam vazios. Por volta das Dezesseis horas e quinze minutos, a equipe do HIJG decidiu colocar mais fileiras de cadeiras do lado de fora da emergência, para que a espera pudesse ser, ao menos, em repouso.
A situação acontece duas semanas após a diretoria do HIJG afirmar que irá ampliar a capacidade de atendimento em Trinta por cento. Conforme a apuração do colunista Raphael Faraco ( do jornal Diário Catarinense - DC ), uma operação já está definida para enfrentar os dias de superlotação como esta segunda-feira ( Vinte e quatro de abril de Dois mil e vinte e três ), mas o prazo para as mudanças acontecerem é de três meses.
Quase Dez horas no hospital
Pessoas que chegaram pela manhã só conseguiram atenção médica pelo meio da tarde e ainda afirmam que a expectativa era de deixar o local ainda mais tarde por conta da fila para exames. Essa é a situação vivida por Eliana Cristina Alves, que levou o bebê de Onze meses para a emergência por conta de sintomas como diarreia, vômito e problemas respiratórios, e esperou por Sete horas até ser chamada pelo médico.
— Estou muito, muito indignada. Estou eu, minha filha de seis anos já que não tinha com quem deixar ela, e meu bebê chegamos aqui às Oito horas da manhã. Sem comer, sem nada! E eles não pensam que muitas dessas famílias não têm um centavo para comprar comida, porque o hospital não fornece. E eles ainda colocam uma média de atendimento de Seis horas e você que se vire — afirmou Eliana.
O bebê dela apresentava problemas respiratórios e suspeita de pneumonia. Por isso, precisou passar por raio-X e tratamentos na enfermaria. Apenas às Dezessete horas e cinquenta minutos, a família deixou a emergência — quase Dez horas depois de ter chegado.
— Nossa isso aqui tem que acabar, não pode acontecer mais. Eu vi uma enfermeira lá chorando, no desespero, porque não consegue atender o tanto de criança que tá aqui. Imagina o que que não acontece aqui dentro — relata a mãe.
Conforme muitas das famílias, questionar a equipe de atendimento sobre o tempo de espera é "inútil" e até desmotivador. A informação inicial é de que pelo menos seis horas de fila são necessárias até o atendimento médico e que não há o que fazer.
O sobrinho de Cinco anos de idade da Vanessa Nascimento colocou um "objeto não identificado" dentro do ouvido e foi encaminhado para o HIJG pela Unidade de Pronto Atendimento ( UPA ). Ela acompanhou a irmã com o menino durante essas seis horas até os dois entrarem no atendimento.
— A gente trouxe pelo encaminhamento de urgência. Só para passar em um otorrino, nem é com o pediatra. Eles misturam todas as consultas aqui, é problema respiratório, ortopedista, otorrino, tudo! Uma criança como ele, que está saudável, fica aqui com outros que estão com doenças contagiosas — observou Vanessa.
Tanto Eliana quanto Jallal relataram também que os corredores da parte interna da unidade hospitalar estão tão lotados quanto a parte externa. O pai afirma que os pacientes estão sendo chamados, mas que ainda precisam aguardar mais nos corredores.
— Estão dizendo que está tendo dificuldade de atendimento porque tem muita gente na fila. Eles estão chamando para dar uma esvaziada na parte da frente, para poder colocar o pessoal na parte de dentro e atender com calma porque todos os consultórios estão lotados — confirmou Jallal.
O que diz a SES
Questionada sobre o tempo de espera no HIJG, a Secretaria de Estado da Saúde ( SES ) justificou que o tempo médio de seis horas é apenas para casos considerados leves. Veja abaixo a nota completa do órgão sobre os atendimentos pediátricos na unidade hospitalar.
"A SES informa que, diante do momento sazonal, o aumento nos casos de doenças infecciosas virais identificadas como a dengue e as doenças respiratórias vem refletindo na busca por atendimentos infantis no sistema de saúde do Estado, abrangendo todas as regiões.
As unidades estão se organizando para atender a ampliação da demanda, no entanto, os dados apontam que cerca de Cinquenta por cento dos atendimentos são pacientes classificados como de baixa prioridade ( verde ), neste sentido é importante esclarecer que os Hospitais utilizam o protocolo da SES na triagem de classificação de risco, priorizando os atendimentos de maior gravidade.
Nesta manhã, a unidade recebeu grande volume de pacientes encaminhados via unidades básicas de saúde ( UBS ), com classificação de risco mais grave, o que acarreta em um tempo maior de espera de pacientes com classificação de risco verde."
Com informações de:
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