Houve um travamento de atonicidade. Como poucas vezes aconteceu com o colunista do jornal Diário Catarinense ( DC ), Ânderson Silva por assuntos de trabalho, foi uma manhã estagnada. Ficou travado no ponteiro das Nove horas da manhã deste Cinco de abril de Dois mil e vinte e três. Foi por volta disso que chegaram as primeiras notícias de crianças assassinadas cruelmente enquanto brincavam na creche em Blumenau ( na Região do Alto Vale do Itajaí ), no Estado de Santa Catarina ( SC ). Só pensei no meu filho, de quase três anos de idade. Depois começou a sentir dor, algo inexplicável. Percebeu que não há nada que descreva o que se vê hoje. Nada pode ser usado para transmitir a sensação de crianças mortas, seja qual for o motivo. Tente descrever, e verás que não há como.
Falhamos, fomos ineficazes na proteção. Sabe-se lá se deveríamos ter aumentado a segurança, se deveríamos ter afastado o criminoso mais cedo. Só sei que precisamos no desculpar.
É um pedido de desculpas por não conseguirmos protegê-los enquanto eles brincavam, por permitirmos que um criminoso invadisse a creche onde todos brincavam para espalhar violência, por não deixarmos que eles voltem para casa no final de tarde no colo dos pais, por não termos evitado a crueldade chegar até crianças, por não deixarmos elas retirarem as mochilas penduradas na grade.
Quando o dia terminar, a dor será ainda maior. Porque seria a hora de as crianças chegarem em casa para brincar, assim como acontecia até ontem. Mas hoje não vai dar. Porque hoje falhamos, deixamos o terror prevalecer.
E disso, a gente como sociedade, não deve se perdoar. Hoje, nós falhamos. Hoje, nós perdemos.
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