sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Direitos Humanos: Em SC, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada 4 dias em janeiro de 22

Jovem, carinhosa e marcante. Estas são só algumas das dezenas de qualidades dadas a Indira Mihara Felski Krieger, de trinta e cinco anos de idade. Uma mulher cheia de sonhos, mas que os teve interrompidos quando foi morta pelo namorado há um mês. Ela é uma das oito vítimas de feminicídio no Estado de Santa Catarina ( SC ) em janeiro de dois mil e vinte e dois, considerado o início de ano mais "letal" para mulheres no Estado desde Dois mil e quinze. É como se, a cada quatro dias, uma mulher fosse assassinada no referido mês.

Para delegada, aumento nos casos está ligado a subnotificação
Para delegada, aumento nos casos está ligado a subnotificação
(Foto: )

Segundo dados do Colegiado Superior de Segurança Pública ( CSSP ), a antiga Secretaria de Estado da Segurança Pública ( SSP ) de SC, ao qual o jornal Diário Catarinense ( DC ) teve acesso via Lei de Acesso a Informação ( LAI ), o referido mês teve o maior registro de mortes de mulheres no início de um ano desde que a qualificadora do feminicídio foi criada, em Dois mil e quinze. Antes disto, os maiores índices para o mês foram nos anos de Dois mil e quinze e Dois mil e dezenove, quando eram seis vítimas.

Além disso, ao comparar o mesmo período em relação ao ano anterior houve um crescimento de trezentos por cento passou de dois casos para oito casos. 

Os crimes ocorreram em oito cidades diferentes, sendo que três delas ficam no Oeste de SC. Também foram registrados dois casos no Sul do Estado, um na Grande Florianópolis ( região da Capital do Estado ), um na região Norte do Estado e outro no Litoral Norte do Estado. 

Para a coordenadora das Delegacias de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso ( DPCAMI ) de SC, Delegada de Polícia Patrícia Zimmermann D'Ávila, a subnotificação dos casos de violência contra a mulher pode ser o fator que contribuiu para o aumento nos números. 

— As mulheres vêm sofrendo violência e algumas não denunciam seus agressores por medo ou dependência. Isso faz com que a denúncia não exista e, com isto, ocorra o agravamento, que faz ela perder a vida — salienta. 

Patrícia complementa, ainda, que a importância da denúncia fica ainda mais evidente ao comparar a situação de SC no ano de dois mil e vinte e um. Apesar de Dois mil e vinte e um apresentar uma pequena queda no número de vítimas em relação a Dois mil e vinte - Cinquenta e cinco a Cinquenta respectivamente -, houve um crescimento nos casos de violência doméstica e familiar.

- Isto mostra que quando a vítima percebe a situação de violência, notifica antes, a polícia oferece todas as medidas de intervenção e esta violência não vira o feminicídio — explica. 

"Ele não fez uma vítima. Ele vitimou uma família inteira" 

A lembrança daquele rosto de criança é o que mais vem a mente de Ceres Felski. A irmã dela, Indira Mihara Feslky Krieger, foi morta asfixiada no apartamento onde morava em Itajaí, no Litoral Norte de SC, no dia Oito de janeiro. O namorado dela e principal suspeito pelo crime segue preso temporariamente. 

— Eu sempre vejo, agora, aquele rostinho de criança que cresceu lá em casa. Ela [ Indira ] era extremamente estudiosa, com notas boas, e muito carinhosa com a minha filha, que não se conforma até hoje. É absurdo demais imaginar que isto aconteceu com uma pessoa que só fazia o bem — relembra a irmã. 

Irmãs encontraram Indira morta no apartamento dela em Itajaí
Irmãs encontraram Indira morta no apartamento dela em Itajaí
( Foto : )

Um mês após encontrar Indira morta, Ceres conta que a dor da perda continua a mesma. O último contato da servidora da Justiça de Itajaí com a família ocorreu na noite do dia Sete de janeiro de dois mil e vinte e dois. No grupo, que tinha com as irmãs em um aplicativo de mensagem, ela enviou uma espécie de piada: 

— Depois foi só ao encontrar o corpo — diz Ceres com a voz embargada. A família descobriu a jovem morta após ela não aparecer para um encontro que teria com outra irmã naquele sábado.

- Eu e minha outra irmã somos médicas. Antes de abrir o apartamento, tudo que eu imaginara era 'vou abrir e encontrar minha irmã amarrada', ou alguma coisa assim para que pudesse fazer alguma coisa. Nós entramos e encontramos o corpo dela — relembra. 

Ceres conta, ainda, que Indira nunca tinha falado sobre brigas com o atual namorado e que, de vez em quando, a família, inclusive, recebia imagens dos dois saindo juntos ou passeando. Ela, que já trabalhou em um programa que atendia mulheres em situação de violência doméstica, diz que nunca imaginou que isso fosse acontecer com a irmã mais nova. 

— Eu atendia direto vítima de violência, hoje eu que sou atendida. Ai tu fica pensando: onde foi que eu errei? Qual foi o sinal que eu não vi? Mas é aquela coisa, você tenta proteger a privacidade das pessoas — enfatiza. 

O namorado de Indira foi preso dois dias após o crime, em Dez de janeiro de dois mil e vinte e dois. Segundo o delegado Eduardo Ferraz, ele permaneceu em silêncio durante o interrogatório. Agora, o que a família busca é justiça: 

— Nunca mais vai ficar tudo bem. Ele não fez uma vítima. Ele vitimou uma família inteira. Tudo que a gente quer é justiça. Todos os dias eu converso com ela e prometi que não ia deixar calarem a voz dela. Esta é a forma de pagar esta promessa: que seja feita a justiça e ele pague o que ele cometeu.

Pedir ajuda é a melhor solução 

A violência contra a mulher e o feminicídio são algo que estão longe de serem totalmente erradicados na sociedade, principalmente pelo machismo que continua enraizado nas famílias, como destaca Patrícia. 

— Nós somos educadas para ser uma boa esposa, sempre com a responsabilidade de cuidar do lar. Com isto, está enraizada a ideia de que ela [ a vítima ] pode mudar o companheiro e o que acaba que muitas pagam com a própria vida — diz. 

Tudo isto ainda contribui para a perpetuação do ciclo da violência: o aumento da tensão, a explosão, as agressões físicas e a fase conhecida como "lua de mel", onde o agressor se mostra arrependido, antes de uma nova briga. De acordo Patrícia, isto também contribui para as subnotificações, já que, em alguns casos, a mulher nem chega a registrar o boletim de ocorrência ( BO ). 

Por isto, além de pedir ajuda, a educação também é fundamental para diminuir os números no Estado de SC. 

— Nós temos de ensinar nossos meninos a não ser violentos e as meninas que, se caírem em um relacionamento abusivo, saiam enquanto é tempo. Se não der certo, não se submeta, peça ajuda — pontua. 

Se você conhece alguém ou sofre de violência doméstica, denuncie por meio do telefone número Cento e noventa da Polícia Militar ou pelo disque denúncia número Cento e noventa e um da Polícia Civil ( em todos os Estados ). A pessoa ( em SC ) também pode pedir ajuda por meio do whatsapp ( 48 ) 9 8844 - 0011, da Polícia Civil do Estado de SC ( PCSC ).


Com informações de:


Luana Amorim ( luana.amorim@nsc.com.br ) .


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