segunda-feira, 7 de março de 2022

Investimento: Bolsonaro gasta R$ 4 mi em SC. Tudo em viagens, nada em investimentos, diz jornal

Mais de quatro milhões de reais foram gastos pelo governo federal para custear quinze visitas do presidente Jair Bolsonaro ( do Partido Liberal - PL ) ao Estado de Santa Catarina ( SC ). As passagens do chefe do Poder Executivo Federal ( PEF ) por SC foram marcadas por solenidades, motociatas e férias. Os dias de descanso e as passeatas de moto representam setenta e quatro por cento do valor desembolsado dos cofres públicos. Durante o período em que esteve em SC, Bolsonaro não fez anúncios de investimentos.

Presidente Jair Bolsonaro esteve em São Francisco do Sul no fim do ano passado
Presidente Jair Bolsonaro esteve em São Francisco do Sul ( SC ) no fim de 2021
(Foto : )

O total gasto foi obtido pelo jornal Diário Catarinense ( DC ) via Lei de Acesso à Informação ( LAI ). O período divulgado vai de maio de dois mil e dezenove a agosto de dois mil e vinte e um. O valor levantado foi de três milhões trezentos e vinte mil e quatrocentos de dezoito reais e sete centavos. Após este período, o presidente fez uma viagem de férias a SC em dezembro de dois mil e vinte e um. Os custos desta visita foram divulgados pelo jornal O Globo. A soma de todas as viagens totaliza os quatro milhões duzentos e dezenove mil e setecentos e noventa e dois reais e sessenta e dois centavos ( veja datas e gastos abaixo ).


Veja as datas de férias e motociatas

  • São Francisco do Sul (14/12/2020 - 23/12/2020) - R$ 739,900.26
  • São Francisco do Sul (8/2/2021 - 17/2/2021) - R$ 737,826.50
  • Chapecó (motociata) (22/6/2021 - 26/6/2021) - R$ 454,532.94
  • Florianópolis (motociata) (3/8/2021 - 7/8/2021) - R$ 317,223.11
  • São Francisco do Sul - (27/12/2021 - 2/1/2022) - R$ 899.374,60

Em nove das quinze visitas o presidente tinha agenda oficial de compromissos. Entre as atividades oficiais estão a presença no Congresso de Gideões, solenidades do Departamento da Polícia Rodoviária Federal (DPRF), sobrevoo às áreas atingidas pelo "ciclone bomba", visita a um centro de atendimento à Covid - dezenove em Chapecó ( região oeste de SC ) e a participação em uma live com o empresário Luciano Hang. Em fevereiro de dois mil e vinte e um ele participou do ato de entrega de duzentos e vinte e cinco para a assistência social dos municípios. Os veículos, contudo, foram adquiridos com recursos de emendas parlamentares.

A cobrança por investimentos do governo federal em SC é motivo de mobilização de diversos setores. A indústria catarinense elencou doze obras e ações como prioridade na área da infraestrutura para o Estado em dois mil e vinte e dois. Os investimentos almejados pelo setor para o próximo ano somam um vírgula seis milhão de reais. O documento foi lançado na mesma data em que o governo Bolsonaro anunciou o corte de quarenta milhões de reais do orçamento das obras de duplicação da Rodovia Federal BR - Quatrocentos e setenta e da BR - Cento e sessenta e três.

Maioria dos gastos foi em motociatas e férias

Do total de gastos, a maior parte foi em férias e motociatas. A soma considera despesas com cartão de pagamento do governo federal, transporte terrestre, telefonia e diárias, de acordo com informações da Secretaria - Geral da Presidência. As datas informadas pelo governo se referem ao deslocamento dos Escalões Avançados ( ESCAV ), grupo composto por assessores, seguranças e outros funcionários. 

A visita mais cara foi a do fim de dezembro de dois mil e vinte e um. A folga do presidente em São Francisco do Sul, no Litoral Norte, custou Oitocentos e noventa e nove mil trezentos e setenta e quatro reais e sessenta centavos, segundo dados divulgados pelo jornal O Globo. A passagem do chefe do PEF contou com passeios de jet ski e visita ao Beto Carreiro World ( parque temático ), em Penha. Durante os sete dias em que esteve em SC, Bolsonaro não teve agenda oficial. A viagem foi interrompida, no dia dois de janeiro de dois mil e vinte e dois, após o presidente passar mal ( informação que foi revelada em primeira mão pelo Portal NSC Total ).

A participação nas duas motociatas promovidas em SC custou trezentos e dezessete mil duzentos e vinte e três reais e onze centavos ( Florianópolis em sete de agosto de dois mil e vinte e um ) e Quatrocentos e cinquenta e quatro mil quinhentos e trinta e dois reais e noventa e quatro centavos ( Chapecó em vinte e sies de junho de dois mil e vinte e um ) aos cofres públicos. Os eventos reuniram apoiadores do presidente e foram marcados por discursos de Bolsonaro com ameaças aos ministros do Supremo Tribunal Federal ( STF ) e questionamentos sobre a segurança das urnas eletrônicas.

Os valores, informou a Secretaria - Geral, estão sujeitos a alterações, caso ocorram atualizações decorrentes do processo de análise da prestação de contas das viagens presidenciais.

O que diz o Governo catarinense

Em nota enviada ao DC, o governo do Estado de SC afirmou não ter gasto dinheiro nas visitas do presidente, mas admitiu auxílio logístico nas duas motociatas. O Estado não informou quais foram os valores despendidos nestas atividades. Os gastos foram com o apoio da Polícia Militar do Estado de SC ( PMSC ) ao fechamento total ou parcial de vias. No caso das demais visitas, segundo o governo estadual, a logística é feita por órgãos federais.

“Desde Dois mil e dezenove, inclusive, a Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial ( SSCP ) nunca pediu auxílio à Secretaria Executiva da Casa Militar ( SCM ) de SC neste sentido. Toda a logística do presidente e sua comitiva em SC é realizada com o apoio do DPRF e do Exército Brasileiro ( EB )”, disse o texto.

Com base na agenda oficial, SC foi o sétimo estado mais visitado por Bolsonaro durante o mandato. Foram nove visitas com agenda de compromissos. Em primeiro está São Paulo ( SP ) ( com cinquenta visitas ) e o Rio de Janeiro ( RJ ) ( com trinta e sete visitas ) em segundo. O terceiro lugar foi em Goiás ( GO ) ( com dezenove visitas ).

Gastos repercutem como "questionáveis"

O professor de Administração Pública da Universidade do Estado de Santa Catarina ( UDESC ), Daniel Pinheiro, explica que gastos com folgas e viagens não são ilegais. Contudo, ele avalia que em um período em que o país tem orçamento limitado, este tipo de despesa se torna “moralmente questionável”.

- Estamos num momento de desemprego, recuperação econômica, onde a gente deveria estar fazendo investimento nestas áreas. Se compararmos com o orçamento não é nada, mas se olhamos que isto é um comportamento típico da nossa política, isto é moralmente questionável - afirma.

O deputado federal Pedro Uczai ( do Partido dos Trabalhadores - PT ), de oposição ao governo, critica a ausência de anúncios de investimentos de Bolsonaro durante as visitas.

- O que é mais grave e nos coloca numa perspectiva de indignação ética é o que ele veio fazer. Qual a grande obra que ele anunciou ou que veio inaugurar em todas as viagens que veio a SC? Nenhuma. Quais os investimentos em infraestrutura, transporte e logística no Estado? - questiona o parlamentar.

Apoiadores de Bolsonaro preferem o silêncio

O DC procurou parlamentares catarinenses para que comentassem os gastos. A deputada federal Ângela Amin ( do Partido Progressista - PP ), presidente do Fórum Parlamentar Catarinense ( FPC ), não retornou os contatos.

- Já o senador Jorginho Mello ( do Partido Liberal - PL ), que esteve com o presidente na motociata em Florianópolis, preferiu não se manifestar. Os deputados federais Rogério Peninha Mendonça ( do Movimento Democrático Brasileiro - MDB ), Geovânia de Sá ( PSDB ), Daniel Freitas ( União Brasil ) e Caroline de Toni ( do Partido Social - PSL ) também foram procurados através de suas assessorias, mas todos optaram pelo silêncio.

A reportagem procurou a Presidência da República, mas também não obteve retorno até a publicação.

Nossa equipe solicitou à Secretaria - Geral da Presidência o detalhamento das despesas e quantas pessoas participaram da comitiva presidencial. A pasta não compartilhou as informações, alegando que são sigilosas.

Gastos de Bolsonaro são investigados pelo TCU

Os gastos do presidente com o cartão corporativo são alvo de investigação do Tribunal de Contas da União ( TCU ). O órgão analisa as compras feitas pelo governo com cartões corporativos. A decisão foi tomada após pedido do senador Fabiano Contarato ( Partido dos Trabalhadores - PT do Estado do Espírito Santo - ES ).

Dados divulgados pelo senador, em janeiro de dois mil e vinte e um, mostraram que em três anos o governo de Bolsonaro gastou vinte e nove vírgula seis milhões de reais no cartão corporativo. O valor é dezenove por cento superior ao que foi gasto nos dois mandatos de Dilma Rousseff ( PT ) e na gestão de Michel Temer ( MDB ) juntos.

Os gastos com os cartões corporativos no governo Bolsonaro estão em sigilo.


Com informações de:


Catarina Duarte ( catarina.santos@nsc.com.br ) .

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