Como imaginado, a ex - subsecretária de Inteligência ( SSI ) do Distrito Federal ( DF ) Marília Ferreira de Alencar aproveitou um habeas corpus concedido pelo ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal ( STF ), e não atendeu à convocação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito ( CPMI ) do Golpe, que esperava ouvi - la nesta terça - feira ( Doze de setembro de Dois mil e vinte e três ).
A policial militar Marcela Pinno: " Se não fossem os meus colegas de trabalho, certamente eu não estaria aqui "
Sua ausência, porém, não evitou que a CPMI avançasse nas investigações sobre a tentativa de golpe de Estado, graças ao depoimento da cabo Marcela da Silva Morais Pinno, que quase perdeu a vida no dia do ataque às sedes dos Três Poderes.
O depoimento de Marcela, somado a documentos recolhidos pela CPMI, deixaram ainda mais claro que o Oito de Janeiro foi um ataque planejado por bolsonaristas, muitos deles militares reformados, e que só ocorreu porque figuras importantes da Secretaria de Segurança Pública ( SSP ) do DF, especialmente da cúpula da Polícia Militar do DF ( PMDF ), assim permitiram.
Marcela contou que se tornou policial militar em Dois mil e dezenove, sendo imediatamente integrada ao Batalhão de Choque da PMDF. E ressaltou que, nestes quatro anos de atuação, jamais esteve diante de agressividade tão grande quanto a que enfrentou em Oito de janeiro, jogando por terra o discurso bolsonarista de que o atentado foi um simples ato político com alguns excessos.
“ Estavam dispostos a tudo, inclusive atentar contra a nossa vida, como foi feito. Se não fossem os meus colegas de trabalho, certamente eu não estaria aqui ”, contou Marcela, que chegou a ser lançada de uma altura de três metros e só não morreu porque o capacete blindado que usava protegeu sua cabeça de um violento golpe desferido com barra de ferro.
Avisada pela Abin, PMDF não agiu como deveria
O deputado federal Rogério Correia ( do Partido dos Trabalhadores do Estado de Minas Gerais - PT - MG ), então, relacionou o depoimento de Marcela com alguns documentos entregues à CPMI. O primeiro é um relatório elaborado pela Agência Brasileira de Inteligência ( ABIN ) e enviado, dias antes dos ataques, para o comando da PMDF.
O documento continha avisos sobre planos de invasão das sedes dos Três Poderes por bolsonaristas. “ Destaca-se a convocação, por parte dos organizadores, de caravanas para o deslocamento de manifestantes com acesso a armas Caçadores, Atiradores Desportivos e Colecionadores de Armas de Fogo ( CAC ) e a intenção manifesta de invadir o Congresso Nacional ( CN ) ”, informava um desses alertas, emitido em Seis de janeiro. No dia seguinte, outro aviso: “ Mantêm - se convocações para ações violentas e tentativas de ocupações de prédios públicos ”.
O documento da ABIN menciona ainda a participação de militares reformados, inclusive alguns ex - membros das Forças Especiais, tanto no Oito de Janeiro quanto na tentativa de invasão da sede do Departamento da Polícia Federal ( DPF ) ocorrida semanas antes, em Doze de dezembro de Dois mil e vinte e dois.
Os informes, concluiu Correia, explicam por que Marcela foi surpreendida pelo nível de agressividade dos terroristas. “ Essas pessoas que feriram a senhora e outros policiais, elas vieram aqui para esse tipo de ato e foram arregimentados por financiadores. Por isso, vocês encontraram tanta dificuldade ”, ressaltou o deputado.
Comandantes a favor do golpe
No entanto, outra pergunta se impõe após a leitura do documento da ABIN: por que, mesmo avisada, a PMDF descumpriu o planejamento de segurança que havia sido feito e não colocou o efetivo necessário na Esplanada dos Ministérios no dia Oito de Janeiro, posicionando apenas algumas dezenas de policiais do choque no local?
A resposta, mostrou o deputado, está na denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República ( PGR ) ao pedir a prisão de sete membros da cúpula da PMDF no dia Dezoito de agosto. Nela, o Ministério Público Federal ( MPF ) revela algumas mensagens trocadas entre os coronéis que formavam o comando da PMDF.
Correia destacou uma dessas trocas de mensagens, realizada em Sete de janeiro entre o coronel Paulo José Ferreira de Sousa Bezerra, então chefe interino do Departamento de Operações ( DOP ), e o coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues, que chefiava o Primeiro Comando de Policiamento Regional ( CPR1 ).
“ Tô aqui novamente em frente ao Quartel General ( QG ). Eu digo que daqui para amanhã, vai ser uma multidão de gente. Pelo que eu entendo, amanhã eles descem para a Esplanada dos Ministérios. Eu tô com muita esperança que vamos conseguir reverter essa lambança que esses petistas malditos fizeram aqui no nosso país. Com fé em Deus, nós vamos reverter isso aí”, escreveu o Bezerra.
E Rodrigues respondeu: “ Vamos avaliando. No final do dia, conversamos para tomar as decisões para amanhã ”.
Correia concluiu, então, que não há mais dúvidas de o Oito de Janeiro contou com o apoio dos PMs hoje presos. “ O comandante da PMDF era favorável aos vândalos. Dizia que eles estavam certos. Vocês enfrentaram não apenas os vândalos, mas uma força que agia para que o Brasil sofresse um golpe contra a sua democracia ”, disse Correia a Marcela.
“Horda organizada e violenta”
Também presente na sessão o senador Rogério Carvalho ( do PT do Estado do Sergipe - SE ) ressaltou que o país vive hoje uma disputa sobre como a sociedade deve se organizar: de maneira democrática ou autoritária.
“ ( O que aconteceu com ) a senhora ”, disse o senador à policial, “ é o retrato de que havia uma horda organizada, violenta, treinada para invadir a sede dos Três Poderes, custasse o que custasse. E a senhora foi vítima da violência, da agressão, e qualquer um que se colocasse à frente seria atingido da mesma forma. A senhora não morreu porque o capacete a protegeu ”, disse.
“ O golpe foi orquestrado ao longo de Quatro anos, todas as provas mostram isso. E o Oito de Janeiro foi um ato de terrorismo contra o Brasil, contra os brasileiros, contra as instituições, principalmente contra o povo do Brasil ”, concluiu Carvalho.
Com informações da:
Agência PT de Notícias
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